Imagem: Leila de Melo
O que eu aprendi no jogo do Bulls
Por Lígia Carvalho, repórter do TVU Esporte da TV Universitária e com
um pé no Universidade do Esporte da 88,9 – FM Universitária
Era final de maio/início de junho
quando resolvi ir a estreia do Bulls Potiguares na 1ª divisão do futebol
americano.
Parecia uma excelente proposta:
jogo na Arena das Dunas, por R$20 o ingresso e o melhor, eu ia agradar um crush
apaixonado por FA.
Comprei meu ingresso, o romance
com o crush acabou, Edmo, amigo que joga no Bulls, me encheu o saco e resolvi
ir mesmo assim.
Fazia uma semana que chovia sem
parar em Natal.
Seria um sinal de São Pedro para
me manter em casa colocando as séries em dia?
O domingo chegou com um belo
sol.
Sem entender porra nenhuma das
regras, ou pra onde ia o jogo, resolvi estudar.
Perguntei a Edmo, assisti vídeo,
li, reli, fodeu.
Cheguei na Arena, peguei o que
parecia um bom lugar, central, perto do campo.
Sentei na cadeira não muito
confortável e esperei uns 15 minutos até o jogo começar.
Foi aí que tive a certeza: a
única coisa que sei disso é que o marido de Gisele Bündchen é um excelente
jogador e que os shows no intervalo do super bowl são do caralho.
Saudades das apresentações de
Beyonce, inclusive.
Será que aqui Grafith vai tocar
no intervalo?
Eita que pancada!
Via os jogadores se amontoando e
tudo normal, pancada atrás de pancada e quando não tinha ninguém batendo o juiz
marcava falta.
O narrador que falava para todo o
estádio parecia mais perdido que a zaga do Brasil no 7x1.
Do nada os times mudam o lado do
campo e ele não explicava nada.
Um monte de flanelinha voando e
eu lá, sem entender o que tava acontecendo.
Acho que ele esqueceu que nós,
brasileiros mortais, talvez não estejamos tão acostumados com o jogo americano.
Um jogador do time visitante pega
a bola, dribla todo mundo e chega até o final do campo numa arrancada
espetacular.
Touchdown, seis pontos somados e
uma semelhança com nosso futebol: lances com dribles e arrancadas são os mais
bonitos.
Descobri também que o Y, aquelas
traves que ficam no final do campo, são bem mais altas pela TV.
Pode ser impressão e pode ser só
o jeitinho brasileiro mesmo.
Mas, a minha primeira surpresa
foi a quantidade de jogadores em campo.
Se juntássemos os dois times,
daria quase a mesma quantidade de pessoas que estavam na arquibancada.
Com uma hora de jogo eu parecia
estar entendendo alguma coisa.
A ideia era chegar com a bola no
final do campo.
O time do Bulls tentava ligações diretas,
mas alguns mãos de alface não seguravam.
Só valia o lance se o jogador
segurasse a bola.
Se tivesse um goleiro, só o do
Bulls teria trabalhado e o do João Pessoa Espectros estaria só observando.
O time potiguar tinha
dificuldades de conseguir avançar o campo e isso não precisava ser especialista
para notar.
Entendi também que as flanelas
voando em campo eram arremessadas quando tinha falta.
Pelo menos foi o que alguém perto
de mim comentou.
O que o juiz marcava era outros
500.
Acho que isso nunca vou entender.
“Matheus, olha pra mim Matheus”,
gritava uma jovem senhora perto de mim, com um grito que consigo descrever
apenas de uma maneira: ela engoliu gás hélio e gritava alto o suficiente para
todo estádio ouvir.
“Olha Matheus. Olha Matheus. Olha
Matheus”
Gritava em uníssono a torcida do
Bulls após ouvir os apelos daquela que depois descobri ser tia do jogador.
Matheus, coitado, se encolhia na
armadura usada morrendo de vergonha.
Esse sem dúvida foi o momento
mais divertido da partida.
Eu já não aguentava mais estar
sentada ali.
No futebol o jogo acaba logo, tem
as músicas da torcida para cantar, você sabe o que tá acontecendo.
Mas ali eu tava mais perdida que
cega em tiroteio.
Com três horas de jogo o narrador
anunciou que faltava um minuto pra partida terminar e esse foi o minuto mais
longo da minha vida.
Um jogador do Bulls pega a bola e
dá uma arrancada para o tochdown.
Último e único ponto do time
potiguar, que perdeu seu jogo de estreia por 6x30.
Nessa tarde de domingo, aprendi
que não sei de nada de Futebol Americano.
Não sei se o jogo foi ruim porque
o time que eu torcia perdeu, se o jogo foi ruim no geral, ou se foi bom e quem
é ruim sou eu.
Se eu vou voltar para ver mais um jogo do
time?
Vai que eu arranjo um novo crush
apaixonado por Futebol Americano...
Isso não dá para prever.
Imagem: Leila de Melo
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