Imagem: Autor Desconhecido
É Tetra, é Tetra!
Há exatos 25 anos, o grito
emblemático de Galvão Bueno ecoou depois de Roberto Baggio isolar o último
pênalti italiano e tornar o Brasil o primeiro tetracampeão mundial de futebol
após uma das mais marcantes campanhas de Copa do Mundo para o brasileiro.
Pedro Henrique Brandão Lopes/Universidade
do Esporte
O dia 17 de julho guarda uma
memória mais que especial para o futebol brasileiro. Neste dia em 1994 o Brasil
saiu de uma fila de 24 anos sem vencer uma Copa do Mundo ao vencer a Itália na
primeira vez que um Mundial foi decidido nas penalidades máximas.
O título que ficou marcado em
toda uma geração de pequenos torcedores e que fez reviver as lembranças de quem
já havia visto o Brasil conquistar o mundo, completa hoje um quarto de século.
Para entender a importância e o
tamanho daquela conquista é preciso compreender o contexto da época. A partida
contra a Itália era simplesmente a reedição da última final que o Brasil
disputara em 1970. No estádio Azteca, o jogo valia o tricampeonato e deu
Brasil.
Nos anos em que o Brasil aumentou
seu jejum em Copas, a Itália tratou de conquistar o tri em 1982. Por isso,
aquele jogo no calor californiano do Rose Bowl, em Pasadena, valia nada menos
que o tetracampeonato mundial.
Porém, vale voltar um pouco no
tempo para perceber outros detalhes. A contestada Seleção Brasileira que
chegara à decisão da Copa do Mundo, só se classificou para o Mundial após
Carlos Alberto Parreira ceder e convocar Romário na última partida das
Eliminatória em 1993.
Com dois gols do Baixinho, o
Brasil derrotou o Uruguai no Maracanã e carimbou o passaporte para jogar a Copa
nos Estados Unidos.
Antes disso ainda é preciso
lembrar a seleção de Lazaroni e o baque da eliminação contra a Argentina na
Copa de 1990, em que Maradona lançou Caniggia para virar uma infernal música
dos Barras na Copa do Mundo de 2014 que eles quase ganharam em pleno Maracanã.
Voltando ainda mais no tempo, não
se pode esquecer dos fracassos do futebol bonito de Telê Santana em 1982 e
1986, quando nos orgulhamos de perder jogando bonito. A Tragédia do Sarriá é o
primeiro parágrafo do futebol brasileiro com medo de atacar.
Para completar os 24 anos sem
títulos, não se pode deixar de falar do campeonato moral de 1978, tão útil
quanto um olho mágico numa porta de vidro, ou da Copa de 1974, um misto de
ressaca e abstinência de Pelé.
Foram duas décadas e meia de
muitas decepções para o brasileiro que aprendeu a ver no futebol a luz no fim
do túnel de um país que nunca dava orgulho fora dos gramados. Por tudo isso, o
brasileiro chegou machucado para aquela Copa do Mundo, queria voltar a ser
chamado de “o melhor do mundo” em algo e esse algo era o futebol.
A sorte abraçou a Seleção
Canarinha logo no sorteio dos grupos. A seleção dirigida por Carlos Alberto
Parreira e que contava com a volta do Velho Lobo Zagallo, na coordenação,
ganhou como adversários na primeira fase Rússia, Camarões e Suécia.
Três adversários sem tradição no
cenário mundial, mas numa Copa que entrou para a história como o Mundial das
zebras e que contou Suécia, Bulgária, Romênia e Nigéria entre os dez primeiros
colocados, nada foi exatamente moleza na trajetória brasileira.
Os resultados da primeira fase
não contam as histórias completas dos jogos. Contra a Rússia, vitória
brasileira por 2 a 0 com gols de Romário e Raí, e aí estava um dos problemas
daquele time que mudaria durante a campanha.
Raí era o camisa 10 ideal na
cabeça de Parreira, mas não se encaixava em campo com o estilo de ninguém menos
que Romário. Entre o camisa 10 ideal e o camisa 11 real e letal, Parreira teve
que escolher o Baixinho que estava voando e decidindo as partidas com seus
gols.
No lugar de Raí entrou Mazinho,
que deu mais mobilidade ao time e esse molejo já foi sentido no segundo jogo.
Contra Camarões, muito mais solto, o 3 a 0 surgiu com naturalidade nos gols de
Romário, Bebeto e Márcio Santos.
O gol do zagueiro, aliás, marcou
uma outra mudança forçada nos planos originais de Parreira. A dupla de zaga
Aldair e Márcio Santos substituía os lesionados e cortados Ricardo Gomes e
Ricardo Rocha.
Já classificado, o Brasil
enfrentou a Suécia na última partida da fase de grupos e pela primeira vez
surgiram dificuldades. Jogando em Detroit, Andersson abriu o placar para os
suecos logo no primeiro tempo. Com a vantagem, a Suécia se fechou e dificultou
muito o jogo dos brasileiros.
No início da etapa final, Romário
decidiu mais uma vez e empatou a partida garantindo mais um ponto e a
invencibilidade brasileira na Copa. Mesmo assim, ao final da partida, as vaias
da torcida eram o sinal de desaprovação ao esquema extremamente defensivo
colocado em prática por Parreira.
Nas oitavas de final o destino
reservou uma batalha contra os Estados Unidos no dia da Independência
americana. Jogando no Stanford Stadium, num calor escaldante e contra todo o
orgulho americano do dia 4 de julho, o Brasil ainda teve o volante Leonardo
expulso depois do camisa 16 desferir uma violenta e desleal cotovelada em um
jogador americano.
Mais uma vez a dupla Romário
Bebeto decidiu para a Seleção Brasileira. Com passe do Baixinho para gol de
Bebeto, e a explosão do mais verdadeiro “eu te amo” da história do futebol
mundial.
A remendada seleção foi forjada
no calor de Palo Alto, na Califórnia. Muitos ingredientes já estavam no
caldeirão antes daquele jogo contra os donos da casa. A morte de Ayrton Senna,
era um fator muito importante. No intuito de homenagear o piloto morto em maio
daquele ano, os jogadores se uniram para vencer por Senna.
Antes dos jogos, desde as
Eliminatórias, unidos contra a pressão pelos péssimos resultados, o time
entrava em campo de mãos dadas.
Ricardo Rocha, mesmo lesionado e
cortado do grupo, permaneceu nos Estados Unidos para auxiliar nos bastidores.
No Brasil o povo se reunia em torno das TVs para assistir os jogos nas manhãs
de domingo que substituíram a nação recém órfã de Ayrton Senna.
Assim as quartas de final
chegaram e a Holanda atravessou o caminho do Brasil. A conhecida Holanda que
eliminou o Brasil em 1974, mas com uma geração nova e terrivelmente talentosa.
Para enfrentar o melhor adversário na Copa, o Brasil precisou fazer sua melhor
partida no Mundial.
Um 3 a 2 com direito a um golaço
de Romário, que completou cruzamento com um sem-pulo plástico, Bebeto e sua
comemoração de ninar seu bebê que chegaria em breve, e o emblemático e
milimétrico gol de Branco, em que Romário desviou do forte chute do camisa 6,
que entrou no cantinho do gol holandês. Um jogo para ser guardado entre os
grandes jogos das Copas.
Para a seminal a Suécia,
adversária da primeira fase, reencontrou o Brasil. Se o jogo da fase de grupos
havia sido duro e terminou em 1 a 1, o jogo valendo a vaga na decisão da Copa
do Mundo não seria diferente.
Com uma retranca muito bem armada
e preocupando a defesa brasileira nos contra-ataques, os suecos causaram frio
na espinha dos brasileiros.
Porém novamente Romário resolveu.
O Baixinho subiu mais que os gigantes suecos aos 35 minutos do segundo tempo,
para anotar um raro gol de cabeça e acabar com o sufoco dos brasileiros que
puderam comemorar a chegada a uma final de Copa do Mundo após longos 24 anos.
Chegou o dia 17 de julho de 1994
e com ele o jogo que decidiria o primeiro tetracampeão mundial e o maior
campeão de futebol no mundo.
O craque italiano era Roberto
Baggio, um ótimo atacante que carregava nas costas um eficiente e forte time
defensivamente, mas que ofensivamente tinha pouca produção.
A defesa azurra junto ao forte
esquema defensivo brasileiro tirou o brilho que se esperava da finalíssima. O
forte calor que fazia no Rose Bowl lotado, também tirou a emoção da decisão e
ao apito final o 0 a 0 espantou quem acompanhava a partida.
Quase não houve chances de gols e
um beijo do goleiro Pagliuca na trave após a baliza o salvar de uma bisonha
falha, foi o ponto alto dos 90 minutos de jogo.
A prorrogação não mudou o placar
e pela primeira vez na história uma Copa do Mundo seria decidida nos pênaltis.
A Itália começou batendo e
Baresi, capitão e veterano zagueiro italiano, ficou incumbido da primeira cobrança
azurra. O experiente jogador desperdiçou e chutou para fora. O Brasil, então,
foi com Márcio Santos, também um zagueiro, que chutou forte, mas em cima de
Pagliuca que espalmou e manteve o empate depois de duas batidas.
Na segunda cobrança italiana o
escolhido foi Albertini, que converteu e na sequência, Romário empatou para a
Seleção Brasileira. Evani converteu o terceiro pênalti italiano e Branco,
novamente, empatou para os brasileiros.
Na quarta penalidade, Taffarel
fez a diferença para o Brasil e defendeu a penalidade de Massaro. O capitão
brasileiro Dunga, foi o responsável por colocar a Seleção Canarinha em
vantagem.
Restou a Baggio colocar a Itália
novamente na disputa ou encerrar de vez o jejum brasileiro. A caminhada do
camisa 10 da Azurra entre o
Tudo isso fica em segundo plano,
porém, quando recordamos aquele 17 de julho de 1994, o dia em que o futebol
brasileiro voltou a ser o melhor do mundo e o Brasil foi o primeiro
tetracampeão mundial.
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