quarta-feira, julho 17, 2019

Bulgária 1994: a maior zebra da Copa do Mundo das zebras...

Imagem: Autor Desconhecido

Bulgária 1994: a maior zebra da Copa do Mundo das zebras

Há 25 anos, na atípica Copa do Mundo de 1994, em que seleções como Romênia e Estados Unidos deram trabalho aos gigantes do futebol mundial, a Seleção Búlgara conseguiu um surpreendente quarto lugar após desbancar poderosas seleções como Argentina e Alemanha e quase parar a tricampeã Itália na semifinal.

Pedro Henrique Brandão Lopes

Até o dia 21 de junho de 1994, a Seleção Búlgara de futebol havia participado de cinco edições de Copas do Mundo e nunca havia passado da fase de grupos da competição. Para além disso, desde a estreia em Mundiais, em 1962, no Chile, a Bulgária nunca havia vencido um jogo sequer.

Tudo indicava que a campanha búlgara na Copa do Mundo de 1994, sua sexta participação do país em Mundiais, não seria diferente da tradição construída nas outras cinco Copas.

A derrota por 3 a 0 frente a Nigéria, jogando em Dallas, e ainda com Grécia e a poderosa Argentina por enfrentar, desenharam mais um fracasso em Copa do Mundo.

Porém uma talentosa geração começaria a virar o jogo e escrever a mais vitoriosa página do futebol da Bulgária, com direito a uma partida que entrou para a história como “o dia em que Deus foi búlgaro”.

Nas rodadas seguintes, a redenção aconteceu diante de Grécia e Argentina.

Contra os gregos, um acachapante 4 a 0 com dois gols do craque búlgaro, Stoichkov, além de Letchkov e Borimirov completarem a goleada que serviu para positivar o saldo de gols e marcou a primeira vitória da Bulgária na história das Copas do Mundo.

No dia 30 de junho de 1994, o estádio Cotton Bowl, em Dallas, recebeu a partida entre Argentina e Bulgária.

Os Hermanos eram amplamente favoritos tanto pelo histórico de bicampeões do mundo, quanto pelo elenco dirigido por Alfio Basile que contava com estrelas como Goycochea, Fernando Redondo, Diego Simeone, Ortega, Batistuta e Caniggia.

Horas antes do apito inicial, porém, a Argentina sofreu uma baixa muito sentida: Diego Armando Maradona, foi suspenso depois de testar positivo para efedrina no exame antidoping após a partida contra a Nigéria, e foi banido da Copa do Mundo.

Sem Maradona, mas com um bom time e precisando da vitória para avançar às oitavas e não depender de outros resultados para evitar o vexame de não se classificar num grupo com seleções menos tradicionais como Nigéria, Grécia e a própria Bulgária, a Argentina partiu para cima do time de Ivanov e companhia.

O que absolutamente ninguém esperava aconteceu: a Bulgária superou a pressão inicial dos hermanos e passou a dominar o meio-campo ainda na primeira etapa.

No segundo tempo, Stoichkov e Sirakov anotaram o 2 a 0 para os europeus e classificaram a Bulgária em segundo lugar do grupo.

Àquela altura a campanha búlgara já era a melhor de todos os tempos do futebol do país, além de enfim vencer sua primeira partida, a Bulgária estava classificada à segunda fase da Copa do Mundo pela primeira vez na história.

Mesmo sem experiência em mata-mata de Copa do Mundo, a talentosa geração búlgara que contava com jogadores como Ivanov, Belakov, Sirakov e eram capitaneada por Stoichkov, fez jogo duro contra o México e, após o empate em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, eliminou nos pênaltis o time do carismático goleiro Jorge Campos.

O goleiro e também capitão búlgaro, Mihaylov, teve estrela na disputa por penalidades e foi decisivo ao defender as cobranças de Bernal e Rodriguez, além de ver o autor do gol mexicano no tempo normal, García Aspe, desperdiçar seu chute e Chenchev, Borimirov e Letchkov converterem suas cobranças e com 100% de aproveitamento, marcarem 3 a 1 para avançar às quartas de final.

Nas quartas de final, o adversário indicava que a aventura búlgara estava próxima do fim.

A tricampeã Alemanha, então atual campeã do mundo, com jogadores como Illgner, Buchwald, Hässler, Klinsmann e Matthäus era a favorita, mas a partida que começou com cara de despedida da sensação Bulgária, terminou com a impressão de que Deus foi búlgaro por um dia ou pelo menos por 90 minutos no Giants Stadium.


Além do amplo favoritismo, os alemães ainda abriram o placar no início do segundo tempo com gol de Matthäus cobrando pênalti. Apenas seis minutos depois do tento germânico, a lesão de Martin Wagner, tirou de campo o desafogo do time alemão e por consequência desestruturou o forte sistema defensivo da Alemanha.


Mais lenta no meio-campo, a Alemanha atraiu a Bulgária para o campo de ataque e Balakov coordenou uma verdadeira invasão búlgara às linhas defensivas alemãs.

Cada ataque de Stoichkov e companhia empurrava e amassava ainda mais a acuada Alemanha no campo defensivo.

Os mais de 72 mil presentes no Giants Stadium, em Nova Jersey, presenciavam uma impensável pressão dos azarões contra os favoritos num legítimo jogo de futebol em que nem sempre o favorito vence ao apito final.

Mesmo assim, o placar ainda marcava 1 a 0 para a Alemanha, que poderia ter ampliado o placar e matado o jogo aos 28 minutos do segundo tempo, quando Möller acertou a trave no último suspiro do Nationalelf sob os escaldantes 35 graus daquele 10 de julho em Nova Jersey.

Apenas dois minutos depois a Bulgária começaria sua inacreditável virada.

O responsável não poderia ser outro, Stoichkov em cobrança de falta com habilidade, numa tacada de bilhar e com um toque extra de amor, colocou a bola no cantinho de Illgner que não teve chance de evitar o empate. O craque búlgaro contou como se concentrou para bater a falta:

“Na hora em que ajeitei a bola para bater a falta, me lembrei que era o dia do aniversário da minha filha, Michaela. Ela está fazendo seis anos e, em questão de segundos, pensei que um gol seria uma grande lembrança para ela ter em sua vida. Aí me concentrei e chutei. Não houve nada de especial. A bola simplesmente foi direto para o gol”.

Com o empate a Bulgária passou a enxergar a possibilidade de fazer o impensável virar real: chegar às semifinais da Copa do Mundo e ficar entre as quatro melhores seleções do planeta.

Enquanto isso, o gol fez a Alemanha desmoronar de vez.

Três minutos depois do gol de Sotichkov, a virada búlgara aconteceu quando Yankov avançou pela direita, se desvencilhou da marcação e cruzou para dentro da área, Letchcov (foto) se antecipou à zaga alemã e saltou mais alto que Häsller para completar de cabeça o cruzamento e vencer o goleiro Illgner.

O impossível era real naquele 10 de julho de 1994. Em Sófia, a capital búlgara, milhares de pessoas saíram às ruas para comemorar a maior vitória do futebol do país, o triunfo que colocava a Bulgária entre as quatro melhores seleções do mundo e fazia possível o sonho de disputar a final da Copa do Mundo.

A vitória contra a Alemanha foi o ponto alto da campanha inacreditável da Bulgária.

Na semifinal, a consolidada seleção que agora passava longe de ser uma zebra, enfrentou a Itália e Roberto Baggio tratou de acabar com o sonho búlgaro.

Em apenas quatro minutos, Baggio fez dois gols. Aos 21 e aos 25 minutos da primeira etapa o atacante e craque italiano que era o motor daquela boa, mas nada excepcional Azzurra, marcou e colocou a Itália com ótima vantagem.

Pelo lado da Bulgária o craque era Stoichkov que antes do final dos primeiros 45 minutos conseguiu diminuir o prejuízo e deixar sua seleção viva para o segundo tempo.

Mesmo assim, o forte sistema defensivo italiano impediu uma nova reação de Stoichkov e companhia, garantiu a vaga para os italianos disputarem a finalíssima contra o Brasil e fez terminar a aventura búlgara na Copa do Mundo.

Porém quem chega às semifinais de Copa do Mundo tem direito a disputar o terceiro lugar e foi assim que a Bulgária fez sua sétima partida no Mundial do Estados Unidos.

A Suécia foi a adversária depois de perder por 1 a 0 apenas para o Brasil de Romário.

Pelo equilíbrio das semifinais, não é nenhum exagero imaginar a grande final no Rose Bowl protagonizada por Bulgária e Suécia, mas as duas seleções fizeram a decisão do terceiro lugar de maneira muito diferente das campanhas que construíram durante a competição.

Um apagão búlgaro, talvez motivado pela descarga emocional da campanha, levou um time abatido para o Rose Bowl no dia 16 de julho de 1994, para enfrentar uma Suécia disposta ofensivamente como não havia sido vista no Mundial.

O resultado foi um esmagador Suécia 4 a 0 Bulgária e o final melancólico do time de Stoichkov e companhia diante de mais de 91 mil espectadores.

Como prêmio de consolação o craque búlgaro conseguiu ser o artilheiro daquela Copa.

Stoichkov anotou 6 gols e foi fundamental para a melhor campanha do futebol búlgaro na história.

Depois do sucesso nos Estados Unidos, a Bulgária não voltou a conseguir grandes resultados.

Ainda assim, conseguiu se classificar para a Copa do Mundo de 1998 na França, mas não conseguiu repetir o destaque de quatro anos antes e acabou eliminada na primeira fase e desde então viu seu futebol entrar no ostracismo sem conseguir disputar outro Mundial.

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