Imagem: Autor Desconhecido
Belisario Betancur, o homem
que disse não à FIFA
Por Pedro Henrique
Brandão/Universidade do Esporte
‘La Mano de Dios’ poderia ter
acontecido em Cali ou Medellín e a Argentina poderia ter sido bicampeã do mundo
em Bogotá, mas a Colômbia não sediou a Copa do Mundo de 1986, porque Belisario
Betancur, presidente colombiano na época, teve coragem de dizer não à FIFA para
priorizar necessidades de seu povo.
Em 1974, a Colômbia foi indicada
como sede da Copa do Mundo que seria realizada em 1986.
Misael Pastrana Borrero era o
homem na cadeira da presidência colombiana e apenas confirmou a vontade da
poderosa FIFA, que prolongava seus tentáculos pelo mundo.
Desde a década de 60, a Colômbia
passava por uma crise social gravíssima com a guerrilha armada e o narcotráfico
assolando o país com uma onda avassaladora de violência.
Mesmo neste cenário, Pastrana
Borrero firmou pacto com a FIFA para sediar o Mundial, doze anos mais tarde.
Porém, quando chegou o ano de
1986, o presidente colombiano atendia pelo nome de Belisario Betancur.
Entre 1982 e 1986, Betancur
governou a Colômbia em seu período mais conturbado na história, a interação
entre a guerrilha armada e o narcotráfico gerava acontecimentos como a tomada
do Palácio de Justiça em plena Bogotá.
A ação coordenada pelo grupo
armado M19 e financiada por Pablo Escobar, deixou 99 mortos e o clima de terror
no ar.
Foi assim que Belisario Betancur
negou sediar a Copa do Mundo de 1986.
Preferiu resolver os problemas de
seu país, cuidar de seu povo e, como disse em seu histórico discurso que
anunciou o veto à Copa, elegeu prioridades:
“Como preservamos o bem
público, como sabemos que o desperdício é imperdoável, anuncio a meus
compatriotas que o Mundial de Futebol de 1986 não será realizado na Colômbia,
mediante democrática consulta sobre quais são nossas reais necessidades. Não se
cumpriu a regra de ouro, na qual o Mundial deveria servir à Colômbia, e não a
Colômbia à multinacional do Mundial”.
A crise econômica era outro
grande problema na Colômbia nos anos 80.
Entre as exigências da FIFA,
estavam 12 sedes com estádios de capacidade mínima de 40 mil lugares, que
contassem com modernos sistemas de iluminação e que estivessem localizados em
cidades equipadas com aeroportos, ferrovias e rodovias – soa familiar ao
brasileiro de 2014.
Betancur justificou a desistência
se referindo às exigências da FIFA:
“Aqui temos outras coisas para
fazer, e não há sequer tempo para atender às extravagâncias da FIFA e de seus
sócios. (Gabriel) García Márquez nos compensa totalmente o que perdemos de
vitrine com o Mundial de futebol”.
A decisão do presidente
colombiano levou a Copa do Mundo ao México, que aproveitou a estrutura
existente desde a Copa de 1970, e fez do Estádio Azteca o solo sagrado onde
Pelé e Maradona foram campeões do mundo.
Não foi fácil para Belisario
Betancur dizer não à FIFA em 1986, como não é fácil para ninguém, até hoje,
dizer não à federação máxima do futebol que controla o esporte mais popular e,
consequentemente, mais rentável do planeta.
As três últimas Copas são
exemplos de países que deveriam ter investido seus bilhões em outras coisas e
não em estádios, países que precisavam ter seus Betancur com a coragem
necessária para peitar a FIFA e dizer: “aqui temos prioridades, fica para a
próxima!”.
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