domingo, julho 07, 2019

Belisario Betancur, o homem que disse não à FIFA...

Imagem: Autor Desconhecido

Belisario Betancur, o homem que disse não à FIFA

Por Pedro Henrique Brandão/Universidade do Esporte

‘La Mano de Dios’ poderia ter acontecido em Cali ou Medellín e a Argentina poderia ter sido bicampeã do mundo em Bogotá, mas a Colômbia não sediou a Copa do Mundo de 1986, porque Belisario Betancur, presidente colombiano na época, teve coragem de dizer não à FIFA para priorizar necessidades de seu povo.

Em 1974, a Colômbia foi indicada como sede da Copa do Mundo que seria realizada em 1986.

Misael Pastrana Borrero era o homem na cadeira da presidência colombiana e apenas confirmou a vontade da poderosa FIFA, que prolongava seus tentáculos pelo mundo.

Desde a década de 60, a Colômbia passava por uma crise social gravíssima com a guerrilha armada e o narcotráfico assolando o país com uma onda avassaladora de violência.

Mesmo neste cenário, Pastrana Borrero firmou pacto com a FIFA para sediar o Mundial, doze anos mais tarde.

Porém, quando chegou o ano de 1986, o presidente colombiano atendia pelo nome de Belisario Betancur.

Entre 1982 e 1986, Betancur governou a Colômbia em seu período mais conturbado na história, a interação entre a guerrilha armada e o narcotráfico gerava acontecimentos como a tomada do Palácio de Justiça em plena Bogotá.

A ação coordenada pelo grupo armado M19 e financiada por Pablo Escobar, deixou 99 mortos e o clima de terror no ar.

Foi assim que Belisario Betancur negou sediar a Copa do Mundo de 1986.

Preferiu resolver os problemas de seu país, cuidar de seu povo e, como disse em seu histórico discurso que anunciou o veto à Copa, elegeu prioridades:

“Como preservamos o bem público, como sabemos que o desperdício é imperdoável, anuncio a meus compatriotas que o Mundial de Futebol de 1986 não será realizado na Colômbia, mediante democrática consulta sobre quais são nossas reais necessidades. Não se cumpriu a regra de ouro, na qual o Mundial deveria servir à Colômbia, e não a Colômbia à multinacional do Mundial”.

A crise econômica era outro grande problema na Colômbia nos anos 80.

Entre as exigências da FIFA, estavam 12 sedes com estádios de capacidade mínima de 40 mil lugares, que contassem com modernos sistemas de iluminação e que estivessem localizados em cidades equipadas com aeroportos, ferrovias e rodovias – soa familiar ao brasileiro de 2014.

Betancur justificou a desistência se referindo às exigências da FIFA:

“Aqui temos outras coisas para fazer, e não há sequer tempo para atender às extravagâncias da FIFA e de seus sócios. (Gabriel) García Márquez nos compensa totalmente o que perdemos de vitrine com o Mundial de futebol”.

A decisão do presidente colombiano levou a Copa do Mundo ao México, que aproveitou a estrutura existente desde a Copa de 1970, e fez do Estádio Azteca o solo sagrado onde Pelé e Maradona foram campeões do mundo.

Não foi fácil para Belisario Betancur dizer não à FIFA em 1986, como não é fácil para ninguém, até hoje, dizer não à federação máxima do futebol que controla o esporte mais popular e, consequentemente, mais rentável do planeta.

As três últimas Copas são exemplos de países que deveriam ter investido seus bilhões em outras coisas e não em estádios, países que precisavam ter seus Betancur com a coragem necessária para peitar a FIFA e dizer: “aqui temos prioridades, fica para a próxima!”.

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