Imagem: Autor Desconhecido
Na guerra do
narcotráfico, entre mortos e feridos, sobreviveu o futebol colombiano
John Jairo
Velasquez, o Popeye, principal sicário de Pablo Escobar e responsável pelas
operações secretas de El Patron, revelou ao Diario El Popular, jornal peruano,
que Ricardo Gareca escapou da morte pelo amor de Escobar pelo futebol
Pedro
Henrique Brandão Lopes
O conhecido
sicário John Jairo Velasquez, o Popeye, falou, entre outras coisas, sobre o dia
em que a paixão de Pablo Escobar pelo futebol salvou a vida de Ricardo Gareca,
hoje treinador da Seleção Peruana.
Gareca foi um
excelente atacante argentino, revelado pelo Boca Juniors, se destacou no
América de Cali, onde foi bicampeão colombiano, em 1985 e 1986, neste último
ano foi o artilheiro da competição com 21 gols.
Na segunda
metade da década de 1980, o América de Cali conseguiu uma posição de destaque no
futebol sul-americano.
Tal destaque
veio com o financiamento dos irmãos Orejuella, chefes do Cartel de Cali e
rivais de Pablo Escobar que chefiava o Cartel de Madelin.
A estreita
relação entre narcotraficantes e clubes de futebol era comum naquele período.
Como em
regimes totalitários do século XX, os narcotraficantes colombianos também
usavam o esporte como propaganda e forma de conseguir apoio popular.
Desta
maneira, alguns times colombianos, principalmente das regiões de Cali e
Medellín, conseguiram resultados vistosos no continente durante o auge dos
cartéis.
Enquanto gols
eram marcados e troféus eram erguidos, a Colômbia virava pó, destruída pela
guerra da cocaína.
O que para os
irmãos Orejuella era apenas uma forma de conquistar apoio popular e lavar
dinheiro do tráfico, para Pablo Escobar era uma paixão.
Tanto que
durante sua estadia em La Catedral — prisão planejada e construída pelo próprio
traficante para cumprir sua “pena” — jogadores como Renê Higuita e Valderrama
eram presenças frequentes nas peladas da prisão de El Patron.
O América de
Cali mandou no futebol da América do Sul na segunda metade da década de 1980,
quando conquistou o pentacampeonato colombiano consecutivo e disputou três
finais de Libertadores, entre 1985 e 1987. Foi nesse momento de ascensão do
Cartel de Cali, representado pela ótima fase do time e em meio a uma guerra
entre os cartéis, que Pablo Escobar ordenou ao General de La Mafia um ataque a
jogadores do América.
Acabou
desistindo por gostar dos gols de Gareca, segundo conta Popeye.
O patrocínio
do tráfico aos clubes colombianos mudou o mapa do futebol sul-americano e
colocou os times da terra de Gabriel García Márquez no centro do mundo da bola.
Foram mais de
15 anos de protagonismo no continente desde o tri vice-campeonato do América,
passando pelo título continental do Atlético Nacional de Medelin, em 1996, até
o vice-campeonato do Deportivo Cali, em 1999.
Se a relação
entre tráfico e futebol deixou um rastro de glórias esportivas inimagináveis
para os colombianos, a guerra entre Governo e narcotráfico deixou um rastro de
sangue e mortes pelo estado de violência e brutalidade em que mergulhou a
Colômbia.
Curiosamente
foi naquela época que a melhor geração do futebol colombiano surgiu, se
consolidou na goleada por 5 a 0 contra a Argentina, em pleno Monumental de
Núñez, em 1993, e chegou ao auge na Copa do Mundo do ano seguinte.
Porém uma
infelicidade do zagueiro colombiano Andrés Escobar manchou de sangue essa
conturbada relação.
Na tentativa
de cortar um cruzamento durante um jogo na Copa do Mundo contra os Estados
Unidos, o Cavalheiro do Futebol acabou marcando um gol contra que decretou a
derrota e eliminação colombiana da competição.
No retorno a
Colômbia, Escobar foi assassinado na saída de uma casa noturna.
Rumores dão
conta de que um grupo de traficantes que perdeu dinheiro em apostas após a
eliminação precoce da seleção, teria ordenado o crime como um acerto de contas.
Apesar de a
versão oficial indicar que o zagueiro foi assassinado por uma discussão dentro
da boate, nunca ficou provada a real motivação do crime, além do governo
colombiano ter abafado a repercussão da morte.
Outro jogador
que cruzou o caminho da violência do narcotráfico foi Martin Zapata.
Muito
conhecido da torcida palmeirense por ter perdido o pênalti decisivo que
garantiu ao Palmeiras a conquista da Libertadores de 1999, o experiente meia do
Deportivo Cali foi assassinado em 2006 dentro de uma casa noturna após tentar
separar uma briga entre um amigo e traficantes locais.
Recentemente
uma entrevista do jogador Cuadrado trouxe à tona o cenário de violência que
colocou em risco toda uma geração de colombianos.
Nascido em
Medelín, o habilidoso atacante contou que quando tinha quatro anos seu pai o
mandou ir para debaixo da cama, o então menino de apenas 4 anos de idade,
assistiu, debaixo da cama, seu pai ser morto por “homens que atiravam de
metralhadora”.
A lembrança
remonta ao ano de 1992, quando Medelín se tornou a capital mundial da
violência.
Esquadrões da
morte invadiam casas para assassinar, muitas vezes por engano, quem despertava
a desconfiança dos traficantes.
Cuadrado é o
retrato da sobrevivência do futebol colombiano e da Colômbia como nação.
Depois de
perder o pai para o tráfico e assistir o futebol de seu país ser enfraquecido
por casos de corrupção e violência, Cuadrado virou jogador graças à sua mãe e,
atualmente, é um dos principais jogadores de uma ótima geração colombiana, que
desde 2014 voltou a figurar entre as principais seleções da América do Sul.
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