Imagem: Autor Desconhecido
Os intocáveis
de Tite
Marcus Arboés
Galvão Bueno falou
algo muito importante durante a derrota de 1 a 0 do Brasil para a Argentina:
“reinvenção e
conservadorismo são duas palavras, dois conceitos que se confrontam.
O choque das
duas palavras, que, no futebol, claramente não caminham lado a lado, é o
reflexo da incoerência que Tite tem adotado desde a Copa do Mundo e,
principalmente, com o término dela.
Em 2016,
quando assumiu a Seleção Brasileira, o treinador encheu o seu discurso
rebuscado de falas sobre como iria utilizar as características que os jogadores
tinham nos seus clubes.
A
prerrogativa era simples: seleção quase não tem tempo de treino.
O treinador
não tem sequência para adequar cada atleta à sua identidade de jogo, então
precisa usar quem pode entregar o melhor para a formação ideal.
Tite entendeu
isso de primeira.
E funcionou.
O único
jogador que atuava fora da sua característica, durante a campanha de destaque
nas Eliminatórias, era Coutinho.
Desde a Copa
na Rússia, dois anos depois, o discurso mudou e a ação também: “tal jogador
pode me emprestar tal característica”.
Nessa
brincadeira, Gabriel Jesus, centroavante, virou ponta e muitos outros foram
colocados para jogar de maneira distante dos seus hábitos.
Isso
continuou. Depois do Mundial, 27 jogadores estrearam pela seleção e muitos
deles foram “queimados” por atuar fora de suas posições de origem, com
entradas sempre depois da metade do segundo tempo, sem perspectiva e
possibilidade de mudar o jogo ou mostrar alguma diferença.
Bruno
Henrique, David Neres e outros.
Todos
colocados do lado em que não jogam, para suprir necessidades diferentes das
suas características.
Isso perdura
e é uma das maiores “infecções” da Seleção Brasileira.
Hoje, Tite
armou o time em um 4–2–4, em que Paquetá, habituado a jogar pela esquerda,
ficou na direita e Willian, que joga HÁ ANOS E ANOS E ANOS pela direita, na
ponta-esquerda.
Falando em
4–2–4, o jogo de hoje, assim como os demais dessa sequência de cinco sem
vencer, mostrou a insistência inexplicável do técnico brasileiro em se limitar
a duas formações — essa e a com os três atacantes, tendo Casemiro, Arthur e
Coutinho no meio.
A comissão
técnica tenta passar uma imagem deturpada de que busca a mudança.
Porém, as
formações são as mesmas, a ideia de jogo é a mesma, os tipos de substituição
são os mesmos — até na minutagem — e, o pior de tudo, os jogadores sempre…
sempre, sempre, sempre são os mesmos e os erros, por consequência, também.
Além do seu
conservadorismo e possível coleguismo nas escalações, existe vários elementos
“intocáveis”, protegidos por Adenor.
Phillipe
Coutinho, que até entrou bem hoje, foi o primeiro a ser colocado debaixo do
braço por Tite, como o filhinho de um pai coruja.
Mesmo
oscilante no Barcelona, não perdeu sua titularidade e cargo de jogador mais
importante do selecionado brasileiro, depois de Neymar.
Hoje,
emprestado ao Bayern de Munique e sem interesse de uso por parte dos catalães,
o camisa 11 da seleção amarga péssimas atuações, tendo apenas lapsos de ser
decisivo em um jogo do clube alemão, a ponto de ser banco em algumas partidas.
Tímido, de
poucos sorrisos e expressões fechadas, Coutinho, só agora, foi colocado no
banco da Seleção Brasileira, mas deu lugar para outro intocável.
Lucas
Paquetá, meio-campista do Milan, que despontou no Flamengo como um jogador
aguerrido e multifuncional, quando atuava de volante a centroavante.
Foi jogar no
duro futebol italiano e não teve um início tão bom, o que é comum, todo mundo
tem o seu tempo específico de adaptação à Europa.
Porém seleção
também é momento.
Ainda que
Paquetá tenha apenas 22 anos e seja uma grande aposta para o futuro da
Amarelinha, ele tem amarelado: em 10 jogos na temporada, deu uma assistência e
não fez gols.
Mesmo sem um
único bom momento no velho continente, ele aparece muito na “renovação” da
Seleção Brasileira, e até foi agraciado com a pesada camisa 10, nessa data
FIFA.
Olhando um
pouco mais para a parte de trás do desenho tático, desde que Filipe Luis e
Daniel Alves “envelheceram” e que Marcelo começou a mostrar menos futebol,
tivemos uma carência absurda de laterais na seleção.
No entanto,
nem eu, nem você que está lendo, temos como mensurar quem poderia ser o
substituto desses craques, porque Tite não deixa.
É sério, ele
não deixa mesmo!
Danilo e Alex
Sandro estão sempre preenchendo esses espaços deixados pela não convocação dos
melhores laterais brasileiros.
Falando
primeiro do lado direito, nosso titular AINDA é Daniel Alves.
Eu o respeito
muito, é um grande jogador, mas precisamos renovar para o futuro.
Marcinho,
Emerson, Guga e outros nomes são cogitados, mas até agora não tiveram a grande
oportunidade de mostrar serviço.
Isso porque
Tite, além de ter o seu colega Fagner sempre convocado, decide insistir em
Danilo.
O lateral
direito da Juventus, que jogou em grandes clubes do futebol europeu, passou por
várias lesões e, recentemente, deu entrevista em que considerou seu atual
momento como o melhor para assumir a titularidade do Brasil.
Mil perdões,
mas não dá para ser um dos 11 errando passes do jeito que errou e perdendo a
quantidade de divididas que perdeu.
Por que não
testar Militão na lateral, como ele até jogou durante a Copa América, por mais
que seja zagueiro no Real Madrid?
Agora falando
do lado esquerdo, eu temia o dia em que Filipe Luis e Marcelo “passassem do
prazo de validade” e Alex Sandro assumisse a camisa 6.
Minha
implicância — sim, se tornou implicância — começou quando assisti Brasil e El
Salvador e vi o lateral da Juventus conseguir tomar três bolas nas costas de
uma seleção que, com todo o respeito, não aspira nada no futebol.
Ele até foi
bem na Copa América, mas depois, foi só decadência.
Nos últimos
jogos, falhou em todos. Contra a Colômbia, fez o pênalti do primeiro gol e deixou
espaço de presente para o segundo.
Hoje, fez o
pênalti que resultou no gol da vitória dos nossos rivais.
Como se não
bastasse, Renan Lodi, lateral do Atlético de Madrid, tem entrado bem e hoje,
duas boas chegadas do Brasil foram dele, uma delas saiu dos pés do também
injustiçado Fabinho.
Fabinho é
craque!
O passe por
cima que deu para Renan é só mais uma mostra de seu talento.
Foi o melhor
jogador do Mônaco durante um tempo e, vendido ao Liverpool, venceu uma UEFA
Champions League.
O volante é
titular dos Reds, mas, na seleção, vive na sombra de um jogador que já se
consagrou no time de Tite há muito tempo.
Casemiro é
muito bom jogador.
Só que
qualquer um pode ver que esse não é um bom ano para ele, apesar dos gols feitos
na temporada até aqui.
Hoje, como
sempre, levou um amarelo no começo do jogo, não conseguiu encontrar passes por
dentro e errou três viradas de jogo.
Gosto muito
dele, por mim, seria titular absoluto, mas Fabinho vive um momento bem melhor.
Casemiro é
tão “homem de confiança”, que, hoje, Arthur foi substituído para entrar outro
marcador e ele não, mesmo amarelado e com o time perdendo.
No ataque, o
problema está em como Tite utiliza Gabriel Jesus.
Em primeiro
lugar, o atacante é reserva no seu clube, tem entrado menos e, por vezes, até
mal.
A questão é
que a posição dele é CENTROAVANTE.
Gabriel é um
jogador cujo forte é o posicionamento dentro da área, mas isso tem sido mal
utilizado.
Por que Tite
tem colocado ele como ponta?!
Richarlison e
Rodrygo poderiam ter começado o jogo no lugar dele hoje, como titulares, até
por viverem momentos melhores, mas Jesus é o artilheiro de Tite e é difícil se
desfazer disso.
Até como
centroavante questiono sua convocação.
Jesus e
Firmino em nenhum momento, exceto em dois jogos da Copa América, realmente deram
certo jogando juntos.
Além disso,
Gabigol, que atualmente vive uma fase incrível e até Martinelli, do Arsenal,
poderiam ter ganhado uma oportunidade.
O maior
protegido de Tite, e, também da CBF, é a nossa maior estrela.
Neymar é um
astro e não tem como não o convocar, mas chega a ser absurdo levar um cara que
nem voltou de lesão direito para amistosos e colocá-lo como titular — lesões
essas que o atormentam e têm sido frequentes.
Outro ponto é
que o Brasil, não agora, mas durante a Copa América e mesmo antes, havia jogado
bem sem a presença do craque.
A falta de
Neymar, como desafogo principal, fez com que outros atletas ganhassem seus
destaques.
Cebolinha e
Richarlison chamaram a responsabilidade através da individualidade nesse
período.
No entanto,
ele é o nosso maior nome. Envolve muito patrocínio, muitas marcas e, portanto,
muito dinheiro.
A não
titularidade de Neymar envolveria muitos problemas internos, acredito, imaginem
a não convocação.
Por causa do
calendário, não vou entrar na questão de atuantes no Brasil — como Gerson,
Rodrigo Caio, Bruno Guimarães, os Brunos Henriques, entre outros — mas, muitos
jogadores poderiam ter sido testados nesses amistosos e Tite não os convocou
para chamar o “mais do mesmo” aqui dito.
Muita gente
não foi chamada.
Senti falta
de Alex Telles (Porto), por exemplo, e de muitos atletas sub-23, que estão indo
bem: Wendell, Matheus Cunha, Martinelli, Lyanco, Caio Henrique…
Galvão Bueno,
no pós-jogo, disse outra verdade que dói nos ouvidos da CBF: “Tite convoca
esses jogadores para dividirem a responsabilidade com ele. Por isso Willian
joga, porque o Neymar não está! Ele convoca os outros jogadores, porque não tem
como não convocar”.
Talvez essa
seja a mais dura, cruel e possível afirmação, isso para não conspirar sobre
convocações “compradas”, patrocinadores influentes e acordos.
Toda essa
bagunça provocada por conservadorismo e falta de novidade em repertório, coloca
a posição de Tite na reta, sob pressão.
Afinal,
Adenor, contra a Coréia do Sul, no último amistoso antes das Eliminatórias,
você vai sair da zona de conforto e ousar, ou vamos ter que ver o Gabriel Jesus
de ponta, o Alex Sandro tocando para trás e os jovens jogadores entrando com
apenas 15 minutos para o jogo acabar?
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