sábado, novembro 16, 2019

Os intocáveis de Tite...

Imagem: Autor Desconhecido

Os intocáveis de Tite

Marcus Arboés

Galvão Bueno falou algo muito importante durante a derrota de 1 a 0 do Brasil para a Argentina:

“reinvenção e conservadorismo são duas palavras, dois conceitos que se confrontam.

O choque das duas palavras, que, no futebol, claramente não caminham lado a lado, é o reflexo da incoerência que Tite tem adotado desde a Copa do Mundo e, principalmente, com o término dela.

Em 2016, quando assumiu a Seleção Brasileira, o treinador encheu o seu discurso rebuscado de falas sobre como iria utilizar as características que os jogadores tinham nos seus clubes.

A prerrogativa era simples: seleção quase não tem tempo de treino.

O treinador não tem sequência para adequar cada atleta à sua identidade de jogo, então precisa usar quem pode entregar o melhor para a formação ideal.

Tite entendeu isso de primeira.

E funcionou.

O único jogador que atuava fora da sua característica, durante a campanha de destaque nas Eliminatórias, era Coutinho.

Desde a Copa na Rússia, dois anos depois, o discurso mudou e a ação também: “tal jogador pode me emprestar tal característica”.

Nessa brincadeira, Gabriel Jesus, centroavante, virou ponta e muitos outros foram colocados para jogar de maneira distante dos seus hábitos.

Isso continuou. Depois do Mundial, 27 jogadores estrearam pela seleção e muitos deles foram “queimados” por atuar fora de suas posições de origem, com entradas sempre depois da metade do segundo tempo, sem perspectiva e possibilidade de mudar o jogo ou mostrar alguma diferença.

Bruno Henrique, David Neres e outros.

Todos colocados do lado em que não jogam, para suprir necessidades diferentes das suas características.

Isso perdura e é uma das maiores “infecções” da Seleção Brasileira.

Hoje, Tite armou o time em um 4–2–4, em que Paquetá, habituado a jogar pela esquerda, ficou na direita e Willian, que joga HÁ ANOS E ANOS E ANOS pela direita, na ponta-esquerda.

Falando em 4–2–4, o jogo de hoje, assim como os demais dessa sequência de cinco sem vencer, mostrou a insistência inexplicável do técnico brasileiro em se limitar a duas formações — essa e a com os três atacantes, tendo Casemiro, Arthur e Coutinho no meio.

A comissão técnica tenta passar uma imagem deturpada de que busca a mudança.

Porém, as formações são as mesmas, a ideia de jogo é a mesma, os tipos de substituição são os mesmos — até na minutagem — e, o pior de tudo, os jogadores sempre… sempre, sempre, sempre são os mesmos e os erros, por consequência, também.

Além do seu conservadorismo e possível coleguismo nas escalações, existe vários elementos “intocáveis”, protegidos por Adenor.

Phillipe Coutinho, que até entrou bem hoje, foi o primeiro a ser colocado debaixo do braço por Tite, como o filhinho de um pai coruja.

Mesmo oscilante no Barcelona, não perdeu sua titularidade e cargo de jogador mais importante do selecionado brasileiro, depois de Neymar.

Hoje, emprestado ao Bayern de Munique e sem interesse de uso por parte dos catalães, o camisa 11 da seleção amarga péssimas atuações, tendo apenas lapsos de ser decisivo em um jogo do clube alemão, a ponto de ser banco em algumas partidas.

Tímido, de poucos sorrisos e expressões fechadas, Coutinho, só agora, foi colocado no banco da Seleção Brasileira, mas deu lugar para outro intocável.

Lucas Paquetá, meio-campista do Milan, que despontou no Flamengo como um jogador aguerrido e multifuncional, quando atuava de volante a centroavante.

Foi jogar no duro futebol italiano e não teve um início tão bom, o que é comum, todo mundo tem o seu tempo específico de adaptação à Europa.

Porém seleção também é momento.

Ainda que Paquetá tenha apenas 22 anos e seja uma grande aposta para o futuro da Amarelinha, ele tem amarelado: em 10 jogos na temporada, deu uma assistência e não fez gols.

Mesmo sem um único bom momento no velho continente, ele aparece muito na “renovação” da Seleção Brasileira, e até foi agraciado com a pesada camisa 10, nessa data FIFA.

Olhando um pouco mais para a parte de trás do desenho tático, desde que Filipe Luis e Daniel Alves “envelheceram” e que Marcelo começou a mostrar menos futebol, tivemos uma carência absurda de laterais na seleção.

No entanto, nem eu, nem você que está lendo, temos como mensurar quem poderia ser o substituto desses craques, porque Tite não deixa.

É sério, ele não deixa mesmo!

Danilo e Alex Sandro estão sempre preenchendo esses espaços deixados pela não convocação dos melhores laterais brasileiros.

Falando primeiro do lado direito, nosso titular AINDA é Daniel Alves.

Eu o respeito muito, é um grande jogador, mas precisamos renovar para o futuro.

Marcinho, Emerson, Guga e outros nomes são cogitados, mas até agora não tiveram a grande oportunidade de mostrar serviço.

Isso porque Tite, além de ter o seu colega Fagner sempre convocado, decide insistir em Danilo.

O lateral direito da Juventus, que jogou em grandes clubes do futebol europeu, passou por várias lesões e, recentemente, deu entrevista em que considerou seu atual momento como o melhor para assumir a titularidade do Brasil.

Mil perdões, mas não dá para ser um dos 11 errando passes do jeito que errou e perdendo a quantidade de divididas que perdeu.

Por que não testar Militão na lateral, como ele até jogou durante a Copa América, por mais que seja zagueiro no Real Madrid?

Agora falando do lado esquerdo, eu temia o dia em que Filipe Luis e Marcelo “passassem do prazo de validade” e Alex Sandro assumisse a camisa 6.

Minha implicância — sim, se tornou implicância — começou quando assisti Brasil e El Salvador e vi o lateral da Juventus conseguir tomar três bolas nas costas de uma seleção que, com todo o respeito, não aspira nada no futebol.

Ele até foi bem na Copa América, mas depois, foi só decadência.

Nos últimos jogos, falhou em todos. Contra a Colômbia, fez o pênalti do primeiro gol e deixou espaço de presente para o segundo.

Hoje, fez o pênalti que resultou no gol da vitória dos nossos rivais.

Como se não bastasse, Renan Lodi, lateral do Atlético de Madrid, tem entrado bem e hoje, duas boas chegadas do Brasil foram dele, uma delas saiu dos pés do também injustiçado Fabinho.

Fabinho é craque!

O passe por cima que deu para Renan é só mais uma mostra de seu talento.

Foi o melhor jogador do Mônaco durante um tempo e, vendido ao Liverpool, venceu uma UEFA Champions League.

O volante é titular dos Reds, mas, na seleção, vive na sombra de um jogador que já se consagrou no time de Tite há muito tempo.

Casemiro é muito bom jogador.

Só que qualquer um pode ver que esse não é um bom ano para ele, apesar dos gols feitos na temporada até aqui.

Hoje, como sempre, levou um amarelo no começo do jogo, não conseguiu encontrar passes por dentro e errou três viradas de jogo.

Gosto muito dele, por mim, seria titular absoluto, mas Fabinho vive um momento bem melhor.

Casemiro é tão “homem de confiança”, que, hoje, Arthur foi substituído para entrar outro marcador e ele não, mesmo amarelado e com o time perdendo.

No ataque, o problema está em como Tite utiliza Gabriel Jesus.

Em primeiro lugar, o atacante é reserva no seu clube, tem entrado menos e, por vezes, até mal.

A questão é que a posição dele é CENTROAVANTE.

Gabriel é um jogador cujo forte é o posicionamento dentro da área, mas isso tem sido mal utilizado.

Por que Tite tem colocado ele como ponta?!

Richarlison e Rodrygo poderiam ter começado o jogo no lugar dele hoje, como titulares, até por viverem momentos melhores, mas Jesus é o artilheiro de Tite e é difícil se desfazer disso.

Até como centroavante questiono sua convocação.

Jesus e Firmino em nenhum momento, exceto em dois jogos da Copa América, realmente deram certo jogando juntos.

Além disso, Gabigol, que atualmente vive uma fase incrível e até Martinelli, do Arsenal, poderiam ter ganhado uma oportunidade.

O maior protegido de Tite, e, também da CBF, é a nossa maior estrela.

Neymar é um astro e não tem como não o convocar, mas chega a ser absurdo levar um cara que nem voltou de lesão direito para amistosos e colocá-lo como titular — lesões essas que o atormentam e têm sido frequentes.

Outro ponto é que o Brasil, não agora, mas durante a Copa América e mesmo antes, havia jogado bem sem a presença do craque.

A falta de Neymar, como desafogo principal, fez com que outros atletas ganhassem seus destaques.

Cebolinha e Richarlison chamaram a responsabilidade através da individualidade nesse período.

No entanto, ele é o nosso maior nome. Envolve muito patrocínio, muitas marcas e, portanto, muito dinheiro.

A não titularidade de Neymar envolveria muitos problemas internos, acredito, imaginem a não convocação.

Por causa do calendário, não vou entrar na questão de atuantes no Brasil — como Gerson, Rodrigo Caio, Bruno Guimarães, os Brunos Henriques, entre outros — mas, muitos jogadores poderiam ter sido testados nesses amistosos e Tite não os convocou para chamar o “mais do mesmo” aqui dito.

Muita gente não foi chamada.

Senti falta de Alex Telles (Porto), por exemplo, e de muitos atletas sub-23, que estão indo bem: Wendell, Matheus Cunha, Martinelli, Lyanco, Caio Henrique…

Galvão Bueno, no pós-jogo, disse outra verdade que dói nos ouvidos da CBF: “Tite convoca esses jogadores para dividirem a responsabilidade com ele. Por isso Willian joga, porque o Neymar não está! Ele convoca os outros jogadores, porque não tem como não convocar”.

Talvez essa seja a mais dura, cruel e possível afirmação, isso para não conspirar sobre convocações “compradas”, patrocinadores influentes e acordos.

Toda essa bagunça provocada por conservadorismo e falta de novidade em repertório, coloca a posição de Tite na reta, sob pressão.

Afinal, Adenor, contra a Coréia do Sul, no último amistoso antes das Eliminatórias, você vai sair da zona de conforto e ousar, ou vamos ter que ver o Gabriel Jesus de ponta, o Alex Sandro tocando para trás e os jovens jogadores entrando com apenas 15 minutos para o jogo acabar?

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