Imagem: Autor Desconhecido
O Muro de
Berlim na Copa do Mundo
Dividida
ideologicamente por sistemas políticos dissonantes e fisicamente pelo Muro de
Berlim, a Alemanha passou 50 anos tendo duas faces: a capitalista e a comunista
Em 1974,
Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental se enfrentaram no Mundial disputado no
lado capitalista do país, surpreendentemente foi o lado comunista que saiu
vencedor
Por Pedro
Henrique Brandão Lopes, do Universidade do Esporte
O dia 22 de
junho de 1974, guarda uma das mais políticas histórias do futebol mundial.
A partida que
colocou frente a frente os dois lados da Alemanha dividida pelo Muro de Berlim,
numa Copa do Mundo disputada do lado Ocidental do país, a partida terminou com
o placar mais inesperado possível: vitória do lado Oriental por 1 a 0.
Depois que a
Segunda Guerra Mundial terminou, em 1945, com a Alemanha arrasada pelos
aliados, o país ficou dividido entre as duas potências que derrotaram o
exército nazista de Adolf Hitler.
O lado
influenciado pelos Estados Unidos, passou a ser a Alemanha capitalista e se
recuperou de maneira rápida das perdas da guerra.
No lado em
que a influência foi da União Soviética, o sistema socialista vigorou e um
ponto na cidade de Berlim passou a ser a fronteira física entre o mundo
capitalista e o mundo socialista, era o Muro de Berlim.
Quando a FIFA
escolheu a Alemanha Ocidental como sede do Mundial de 1974, o planeta passava
pelo momento mais acirrado da Guerra Fria.
Os anos 1970
entraram para a história pela constante tensão no ar em que qualquer movimento
vindo do Kremlin ou da Casa Branca poderia desencadear um conflito nuclear e
dizimar a população mundial.
Nesse clima
apocalíptico, o Volksparkstadium — estádio do Parque do Povo — em Hamburgo, foi
o front decisivo para os dois lados da Alemanha, que sequer podiam se esbarrar
na diplomacia internacional, mas teriam que lutar por cada palmo do gramado na
última partida do grupo A, que valia o primeiro lugar na classificação.
O Partido
Socialista Unificado da Alemanha escolheu minuciosamente 2 mil torcedores que
fizeram número entre os 60.350 presentes ao estádio.
A grande
estrela do lado Oriental era Helmut Schön, enquanto isso, o lado Ocidental
tinha Franz Beckenbauer como líder de uma estrelada equipe que contava com
jogadores como Sepp Meier, Berti Vogts, Paul Breitner, Wolfgang Overath, Gerd
Muller e Uli Hoeness.
Era um duelo
desigual e que apontava para uma goleada da Alemanha Ocidental.
Por isso, a
expectativa era que os Orientais abusassem da violência, mas não foi isso que
aconteceu na disputada, porém, limpa partida.
Com a bola
rolando, a Alemanha Ocidental dominou o primeiro tempo, como era esperado, e
teve duas oportunidades claras para abrir o placar, mas parou no goleiro Croy e
depois, com Breitner, foi a trave que evitou o gol dos donos da casa.
No segundo
tempo, o jogo mudou e a Alemanha Oriental passou a dominar o ataque.
Logo nos
primeiros minutos, Kreische, sozinho quase colocou os orientais em vantagem,
mas falhou na pontaria e colocou para fora.
O que não
aconteceu naquela chance desperdiçada, acabou se tornando realidade no minuto
23, quando Jürgen Sparwasser escreveu a história com um chute forte depois de
receber entre três defensores, carregar a bola para dentro da área e anotar o
gol que decretou a vitória da Alemanha Oriental.
A inesperada
vitória do lado Oriental contra a mais forte seleção do lado Ocidental gerou
uma teoria da conspiração que apontava para uma entrega do jogo pela Alemanha
Ocidental para se beneficiar de cruzamentos mais fáceis na fase eliminatória.
Essa tese,
porém, ignora as condições daquela partida.
Se o Muro de
Berlim era a fronteira física de um planeta polarizado por duas ideologias, o
jogo entre as alemanhas significava o embate entre o capitalismo e o comunismo
que guiavam todas as discussões do mundo naquele momento.
O que não era
teoria da conspiração, foi a repressão do regime socialista que levou Jürgen
Sparwasser, o autor do gol histórico, a fugir do lado oriental em 1988, um ano
antes do muro cair e a Alemanha ser reunificada.
Há exatos 30
anos, o Muro de Berlim caiu e decretou o final da Guerra Fria, fez a Alemanha
novamente uma nação única, deixou aquela partida como um espetáculo singular na
história das Copas e impensável nos dias de hoje.
Mesmo 30 anos
depois, a separação das alemanhas ainda produz cicatrizes no futebol alemão.
O primeiro
alemão oriental a jogar na nova Alemanha reunificada foi Matthias Sammer, nascido
em Dresden...
Sammer fez 51
partidas entre 1990 e 1997.
Michael
Ballack, que nasceu na Alemanha Oriental, mas brilhou com a camisa da Alemanha
reunificada.
Posteriormente,
Mario Götze e André Schürrle, também nascidos no lado oriental, foram
convocados para defender a Mannschaft.
Götze,
inclusive, foi autor do gol que garantiu o tetracampeonato alemão.
No cenário
nacional, porém, a história dos times do lado oriental na Busdesliga é curta.
Depois da
unificação, um campeonato foi disputado com apenas dois representantes da
Alemanha comunista.
O RB Leipzig
foi o primeiro a alcançar a vaga na elite do futebol alemão, em 2014, mas o
clube nasceu bem depois da reunificação e é mantido pela Red Bull.
Neste ano, o
acesso do Union Berlim, finalmente colocou um representante do antigo lado
oriental da cidade na Bundesliga.
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