Sem público e quase sem gols... O pulso ainda pulsa.
Mais uma vez o sensacional e interessantíssimo campeonato estadual, mostrou sua força junto ao público – pífio – e sua qualidade técnica inigualável – cinco jogos, 3 gols.
Que maravilha!
O comentário acima gerou o comentário abaixo e esse, por sua vez, está gerando uma resposta, uma explicação ou um desabafo, sei lá...
Comentário chato esse seu, Fernando.
Em outros estados, o campeonato estadual é bastante valorizado, independente dos grandes públicos e dos inúmeros gols por partida.
A diferença é que nesses estados (Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Sul, São Paulo) a imprensa trata o futebol local como um produto que merece respeito e que pode ser viabilizado como negócio na medida em que, ao ser valorizado, poderá ser vendido como algo importante.
Claro, o nível técnico não é lá essas coisas, mas onde temos futebol de grande nível no Brasil, já que em nosso país se joga o futebol série C (nossos jogadores de nível A e B estão jogando na Europa e Ásia em troca de maiores salários)?
Ou você acha que o futebol jogado no RJ é lá essas coisas todas (o Fluminense, campeão brasileiro, não consegue passar da primeira fase na libertadores)?
Quem sabe o de SP (onde um dos líderes é o Palmeiras, jogando um futebol sofrível)?
Acho sim, que devemos valorizar o nosso futebol, divulgá-lo, incentivá-lo.
Talvez dessa forma, isso se transforme numa poderosa corrente, em que os empresários despertem para investir, o governo viabilize investimentos na melhoria de estádios, transportes públicos em dias de jogo, a torcida se empenhe um pouco mais para acompanhar os jogos...
Antes que você rebata dizendo que nossos empresários não investem um tostão no nosso futebol, observe o caso do ABC, onde temos empresas como Ecocil, Livraria Câmara Cascudo, Ster bom, Drogarias Globo, Art Digital que são empresas potiguares e investem no nosso futebol.
Voltando à questão do papel da imprensa nesse papel, recordo-me da minha última visita à Recife, há cerca de 1 mês: mesmo no domingo pela manhã, havia na TV mais de um programa de debates sobre o futebol voltado exclusivamente para o futebol local.
Programas com 2 horas de duração. O campeonato pernambucano é todo transmitido pela TV aberta.
Você pode argumentar que o futebol de lá recebe incentivos do governo, mas aí vem à questão: será que o governo não faz isso justamente por saber o quanto o futebol atrai a atenção das pessoas em razão da valorização que é dada pelos canais de comunicação locais?
Eu particularmente valorizo muito o estadual (sou sócio do ABC desde 2003, vou a todos os jogos do meu time quando estou em Natal e incentivo minha filha a ir ao estádio - ela vai comigo desde os 3 anos) e acho muito legal essa coisa de viajarmos a outras cidades, conhecendo novas pessoas, acompanhando a luta do pessoal do interior em formar e manter seus times, mas fico decepcionado com o tratamento que esses caras recebem da imprensa.
Às vezes penso que isso se deve ao fato de haver tanta gente na imprensa esportiva do estado oriunda de outros centros (pode parecer um pouco preconceituoso isso que escrevo), uma vez que essas pessoas não veem com o mesmo brilho essa briga quase hercúlea de manter acesa a chama do nosso futebol.
Particularmente, hoje não consigo assistir aos jogos da seleção brasileira de futebol (são tantas estrelas desconhecidas nossas, tanta gente cheia de pose, caras e bocas...).
Parafraseando Belchior, prefiro um tango argentino a um blues.
Enfim, caro Fernando, sei que me estendi muito, mas se você tiver curiosidade e paciência de ler essas linhas um pouco mal escritas entenderá essa minha aflição.
Gostaria muito (e me dói um pouco ver essa situação) que os formadores de opinião (homens da nossa imprensa) que militam em nossa imprensa procurassem valorizar mais nossas coisas, nosso futebol.
Não precisamos pra isso ser sectários, mas bem que poderíamos ser mais orgulhosos com nossos feitos e nossos valores.
É isso!
Um abraço!
O leitor que enviou o comentário se chama Aécio Carvalho e desde que o recebi, tenho procurado me lembrar de seu rosto, pois tenho certeza quase absoluta que o conheço...
Se for quem penso que é, o tenho em alta conta, pois é um homem gentil, educado, bom papo e despido de maldade (seu texto mostra isso claramente)...
Enfim, tomara seja ele, mas se não for, tudo bem, o respeito será o mesmo.
Meu caro Aécio, você não se estendeu, eu, gosto de ler!
Por outro lado, não li por curiosidade, mas sim por interesse e, não me faltou paciência, pois nada do que você escreveu foi enfadonho.
Bem, hora de responder, explicar ou desabafar...
Que bom que você começa seu texto com as seguintes palavras: “Comentário chato esse seu, Fernando”.
Teria sido terrível tivesse dito: “Quanta calúnia, quanta mentira, quanto disparate, meu caro Fernando”.
Sinto-me mais aliviado.
Aqui nessas linhas – espero não me estender, pois sei quem nem todas as pessoas apreciam ler – vou lhe falar sobre Fernando Amaral, portanto, não espere que me posicione sobre o que fazem os outros...
Não escrevo com as mãos atadas...
Não tenho patrocinadores – confesso que até já pensei em tê-los, mas depois vi que isso me traria mais problemas que solução.
Todas as vezes que me falam em patrocínios, me lembro de uma frase de Millôr Fernandes: “jornalismo é oposição... todo o resto é armazém de secos e molhados”.
Se é que você me entende.
Escrevo procurando me ater aos fatos, mas quando opino, o faço escudado em minhas convicções.
Muitas vezes erro, mas como disse Juca Kfouri, jornalismo é errar mais que acertar...
Não existe infalibilidade.
Quando decidi criar esse blog, depois de muita pressão de Mário Sérgio de Mendonça Figueiroa – um amigo-irmão que me “torrou” a paciência até quase a exaustão –, o fiz com a firme decisão de não enveredar pelo lugar comum...
Não queria ser mais um a tratar o futebol com um produto, não sou marqueteiro: tem gente muito melhor qualificada que eu, a fazer isso.
O futebol para mim é uma atividade humana e como toda atividade humana, tem acertos e erros.
Produtos, só têm vantagens – mesmo que sejam apenas para engambelar o consumidor.
Então, não espere de mim silencio sobre estádios vazios...
Estádios vazios, são tristonhos, são perversos para com os artistas que encenam o espetáculo.
E, espetáculo sem público, logo sai de cartaz.
Não espere de mim textos de incentivo a torcidas cujos times caminham para o rebaixamento – se um time marchar para a degola, direi com todas as letras que ele marcha para o cadafalso...
Se fosse para ser diferente, escreveria um blog sobre o Vasco da Gama e aí, me comportaria como todo blogueiro-torcedor: criaria fantasias, desculpas esfarrapadas e me deleitaria com piadas de mau gosto e agressões gratuitas aos adversários.
Cabe ao torcedor, fazer contas, ascender velas, consultar o oráculo, o horóscopo e até os búzios, se assim o desejar, mas a mim não!
Porém, não sou cego às conquistas, as vitórias, as lutas travadas muitas vezes em condições totalmente adversas...
Não negarei um elogio e até mesmo uma ode, se o feito for merecedor...
Cobrarei sempre, transporte melhor, acomodações melhores, segurança efetiva e tratamento condigno para aqueles que deixam seus lares e vão acompanhar suas equipes...
Exigirei sempre, que dirigentes apresentem projetos viáveis, confiáveis e acima de tudo lucrativos para atrair empresários e empresas...
Não sou daqueles que acham que uma empresa por ser sólida e bem sucedida, deva jogar em clubes de futebol, seu dinheiro.
É preciso saber para onde vai e quando volta.
Não sou daqueles que criam falácias sobre o retorno que o futebol trás, apenas para tentar abrir os cofres de municípios e estados, a fundo perdido.
Ricardo Teixeira com sua flauta patriótica, já conseguiu mais seguidores que o flautista de Hamelin.
É preciso lacrar o ralo que cobre o poço sem fundo que consome milhares de reais.
Governos devem sim, investir no esporte, mas no esporte escolar, no esporte de inclusão social e não no futebol dito profissional...
Um clube de futebol, assim como qualquer outra atividade, ou se estabelece pela competência, ou desaparece tragado pelas movediças areias da má gestão...
Aliás, o futebol é o que menos pode reclamar dos governos, pois basta levantar o calote gigantesco que a maioria esmagadora dos clubes já deu aos cofres públicos para constatar que digo a verdade.
Mas isso é uma longa discussão e creio não ser aqui, o lugar mais adequado.
Quero tê-lo como leitor e como amigo, mas sem que isso, nos obrigue a escrever ou dizer sempre, o que o outro espera ler ou ouvir.
Por fim, sou um dos oriundos de outras plagas que escolheram Natal para viver...
E aí, me permita uma rápida história:
Uma vez na escola, escandalizei um professor, militar, xenófobo e ufanista que afirmou que todos, devemos ter orgulho de ser brasileiros...
Perguntei por que, e ele, exaltado me olhou disse: por que é nossa pátria!
Eu lhe disse: “o senhor escolheu nascer aqui”?
Claro que não, disse ele.
Então, como o senhor pode se orgulhar de um acaso?
Não seria melhor o senhor dizer que todos, devemos nos orgulhar das coisas que fazemos e das coisas que conquistamos?
Não seria melhor sentir orgulho do que criamos e de tudo que parte de uma escolha?
Para mim, a aula não terminou: fui expulso da sala aos gritos pelo velho.
Portanto, quando aqui ou ali, alguém se dirige a mim como um carioca forasteiro, costumo responder o seguinte:
Onde nasci é obra do acaso, mas onde vivo hoje, é escolha e, portanto, dela me orgulho...
Não nasci no Rio Grande do Norte, mas escolhi o Rio Grande do Norte para viver, criar meu filho e morrer...
DESCULPEM-ME, ESTOU AQUI POR ESCOLHA E NÃO, POR ACASO.
Ah, não faço escolhas entre o Tango e Blues, não me imponho fronteiras e nem construo muros a minha volta.