Imagem: Autor Desconhecido/Pinçada do Blog do Juca Kfouri
Wendell Lira representa o futebol
brasileiro que é ignorado pela CBF
Por Rodrigo Mattos
A escolha de Wendell Lira como
autor do gol mais bonito do mundo em 2015 (prêmio Puskas) serve para nos
lembrar como é mal tratada a maioria dos jogadores brasileiros.
Para além da imagem de carrões e
propostas milionárias da China, o atleta nacional sofre com salários baixos,
péssimas condições de treinamento e falta de competições para disputar.
É solenemente ignorado pela CBF
que só pensa na seleção brasileira e na elite.
Dados da própria confederação e
do Bom Senso indicam que 82% dos jogadores nacionais ganham até dois salários
mínimos, e outros 15% estão desempregados.
Apenas 3% têm vencimentos acima
dos dois salários. Isso em um universo de 20 mil atletas.
Esses números foram divulgados
recentemente por reportagem da “Placar''.
Representam uma realidade
conhecida e imutável há anos.
“Eu sou como 90% dos jogadores de
futebol do país que treinam em campo ruim, sofrem para achar time, têm
dificuldade para pagar as contas'', disse Wendell Lira ao site “Fato online'',
antes de ganhar o prêmio.
Seu salário no Goianésia quando
marcou o gol premiado era de R$ 3 mil, enfrentou desemprego, trabalhou até como
caixa de supermercado.
Há três fatos que multiplicam
casos como o de Lira pelo país, ambos são responsabilidade da CBF.
1) O calendário do futebol ignora
a maior parte das 600 equipes do país ao não organizar ou incentivar
campeonatos o ano inteiro para times pequenos
2) Não há regulação eficiente
para garantir que os direitos dos atletas sejam respeitados, sem atrasos de
salários
3) A entidade investe apenas uma
pequena parcela dos seus ganhos milionários com as competições do país.
Basta dizer que, em 2014, a
confederação ganhou R$ 519 milhões.
Desse total, apenas R$ 58,7 milhões
foram investidos em competições.
A CBF costuma alardear que dá R$
100 milhões para o futebol do país, citando passagens e agrados para Série C e
D.
Há ainda mesadas para federações
de parcos recursos que quase não investem nesta base.
É pouco, pouquíssimo.
Os contratos milionários da CBF
só são possíveis porque há essa base gigantesca de jogadores, maior do que a de
qualquer lugar do mundo, para lapidar os maiores talentos para sua seleção
brilhar no mundo.
Quem ultrapassa todas as
barreiras é recompensado com grandes salários.
Aos outros, é destinado ao
esquecimento da confederação como ocorre com Lira, lembrado só agora no site
pelo seu gol.
Não se defende aqui que todos os
jogadores sejam milionários.
É normal os melhores se
destacarem e terem melhores salários.
Mas é inadmissível que a
confederação não tenha sequer um plano para desenvolver a grande base do
futebol do país.