Kaliane Jovino tinha 18 anos, era mãe e saiu de casa no domingo para assistir ao clássico ABC e América. Esse foi seu crime e por esse crime foi morta... Mas a morte de Kaliane não nos deve chocar, afinal ela não foi a primeira e nem será a última no país da impunidade, no país do faz de conta. Morrer violentamente hoje nesse país é regra e não exceção. Viver amedrontado faz parte do cotidiano de uma população que também tem sua parcela de culpa no caos moral e ético que nos assola. Somos um país permissivo, somos flexíveis demais, somos hipócritas e pior, somos dissimulados... O filho de um presidente pode ficar rico da noite para o dia sem que isso seja vergonhoso, representantes do povo podem se locupletar da forma mais explicita possível e nada lhes acontece, juízes se confundem com contraventores e contraventores freqüentam o hight society que os recebe de braços abertos, pois a sanha pelo dinheiro e poder, os tornou iguais. Esses idiotas de preto e branco ou de vermelho se alimentam da nossa passividade, sobrevivem sob nossa concordância e se reproduzem no nosso silencio. Nós da imprensa somos culpados quando exaltamos a rivalidade, somos culpados quando fazemos de um simples jogo entre 22 homens algo excepcional ou quando transformamos um clube em “vingador” do nosso estado. Os dirigentes são culpados ao abrirem suas bocas para incentivar baboseiras do tipo, “temos a maior torcida” e “somos o orgulho do Rio Grande do Norte” entre outras. São culpados por abrirem as suas sedes e se darem ao desplante de receber chefes de torcida para debaterem o futuro do clube e são culpados ao permitirem manifestações desses cretinos em seus campos de treino... Porém e como sempre, cabe a autoridade a culpa mais pesada, pois suas medidas sempre são paliativas, sempre é muito mais marketing do que ação. Aqui o Ministério Público, a Secretaria de Segurança e seus agentes proibiram o uso de símbolos, bandeiras, faixas e camisas das torcidas organizadas, mas acabaram ludibriados, aliás, normalmente o são... Os membros das tais torcidas, agora tatuam no corpo a letra M de Máfia e o G de gangue e continuam reunidos nos mesmos lugares de sempre, desafiando os “doutores” em leis e os “especialistas” em segurança... Ludibriam com simplicidade, sem possuírem nenhum doutorado ou pós-doutorado, pois sabem que as leis são frouxas, assim como frouxos são os que deveriam por ela zelar. Não quero e nem devo querer dar lições de história a ninguém, mas toda nação ou grupo social que optou pela política do apaziguamento e pela paz a qualquer preço, acabou pagando com sangue e com a privação de sua liberdade... Não quero e nem devo pregar a violência como resposta a violência, mas deve haver um limite para tanta tolerância, deve haver uma linha que não possa ser ultrapassada, deve haver em algum lugar nesse país homens corajosos o bastante para dizer não, mesmo que esse não custe algumas baixas entre os que optaram por viver as margens da lei. Portanto, encerro afirmando que Kaliane Jovino morreu por acreditar que tinha o direito de sair de casa e expressar seu sentimento por um clube de futebol em uma tarde de domingo, Kaliane Jovino morreu atingida por uma pedra que poderia ter sido detida se as mãos que a lançaram estivessem “algemadas” pelo respeito às leis e as autoridades, se estivessem “algemadas” pelo medo da punição severa sem nenhum beneficio esdrúxulo.
Este espaço não propõe defesa nem ataque a nenhum clube ou pessoa. Este espaço se destina à postagem de observações, idéias, fatos históricos, estatísticas e pesquisas sobre o mundo do futebol. As opiniões aqui postadas não têm o intuito de estabelecer verdades absolutas e devem ser vistas apenas como uma posição pessoal sujeita a revisão. Pois reconsiderar uma opinião não é sinal de fraqueza, mas sim da necessidade constante de acompanhar o dinamismo e mutabilidade da vida e das coisas.
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