O encontro Polônia e Rússia pela
Eurocopa de 2012 foi mais que um jogo...
No campo, isto ficou claro para
quem conhece história.
Nos noventa minutos, polacos e
russos correram em busca não só da vitória, mas de afirmação nacional.
Espremida entre dois gigantes,
Alemanha e Rússia, a Polônia precisou sangrar para sobreviver.
Em 1795, a Comunidade Polaco
Lituana foi desmembrada entre o Império da Prússia e o Império Russo...
Sua independência só ressurge ao
fim da primeira guerra mundial em 1918.
No entanto a leste, o bolchevismo
triunfante e expansionista mirava com olhos cobiçosos as terras da Polônia e
dos Estados do Báltico...
Os novos senhores da Rússia,
rebatizada de União Soviética, não esperaram por muito tempo...
Em 1919, investiram contra o
território polonês...
A guerra entre o gigante agora
vermelho e os poloneses durou até 1921, quando o Exército Vermelho sofreu uma
acachapante derrota.
Humilhados, os soviéticos foram
obrigados a recuar, mas não esqueceriam a surra e voltariam em 1939.
A chegada ao poder no oeste do
Nacional-Socialismo na Alemanha, acabou dando a Stalin, substituto de Lenin, as
condições ideais para solucionar a questão báltica e polonesa.
O Pacto Molotov-Ribbentrop,
assinado entre Alemanha e União Soviética não continha apenas clausulas
comerciais e de não agressão...
Havia nele uma clausula secreta
que deixava Hitler livre para equacionar as questões de Dantzig (Gdańsk) e da
região do Memel com a Polônia...
Stalin por sua vez, estaria livre
para anexar a Letônia, a Lituânia, a Estônia e colocar sob sua esfera de
influência, a Finlândia...
Resolvidas estas questões, a
Polônia seria partilhada entre ambos.
Com as garantias do pacto
assinado em Moscou por Moltov e Ribbentro e sem nenhuma declaração formal de
guerra, o Exército Vermelho entrou no território polonês no dia 17 de setembro
de 1939, para abocanhar o que restava da Polônia já dilacerada pela invasão
alemã no dia 1 daquele mês.
Nos territórios anexados pelos
comunistas, imediatamente 13 milhões de poloneses foram declarados cidadãos
soviéticos e aqueles que resistiram, ou foram mortos, ou foram expulsos de suas
terras, casas e cidades.
Em 1940 sob ordem direta de
Stalin, 27.500 membros do exército polonês feitos prisioneiros durante a
invasão em 1939, foram executados sob acusação de serem eles,
contrarrevolucionários.
Katyn, Kharkov e Miednoje, foram
os locais escolhidos para a matança.
Crime este, que posteriormente,
os soviéticos tentaram imputar aos alemães durante o julgamento de Nuremberg,
mas sem sucesso.
Com a invasão da União Soviética
em 1941 pelos alemães, os comunistas novamente se foram, mas em 1945,
vitoriosos, entraram novamente na Polônia, agora como “libertadores”...
Liberdade esta que nunca foi
confirmada, pois os campos de concentração usados pelos alemães para perpetrar
dor, sofrimento e morte a milhares de judeus, ciganos e outros considerados
inimigos do nacional-socialismo, logo voltaram a receber prisioneiros...
Desta vez, poloneses considerados
pela União Soviética como inimigos do povo.
O domínio soviético através da
Republica Popular da Polônia durou longos e sofridos anos e findou em 1990,
quando Lech Wałęsa, venceu as eleições presidenciais e livrou a Polônia do
julgo comunista.
Portanto, a pancadaria que
ocorreu ontem nas ruas de Varsóvia, entre torcedores poloneses e russos, não
surpreende...
Ontem, o que menos teve
importância foi o resultado de 1x1...
O pesado silencio que se abateu
sobre a torcida polonesa depois que aos 37 minutos do primeiro tempo, Dzagoev
abriu o placar foi significativo...
Porém, a expressão no rosto de Jakub
Błaszczykowski ao empatar o jogo aos 12 minutos do segundo tempo e a incontida
euforia das arquibancadas, foi marcante.
O gol foi uma demonstração da
vontade dos poloneses em reafirmar sua nacionalidade e sua eterna desconfiança
da Rússia.
Não foi só uma partida de
futebol: foi o hoje relembrando o ontem e sinalizando o amanhã.
Imagem: AFP - Janek Skarzynski
Um comentário:
meu caro Fernando tem certeza que foram 27 mil oficiais poloneses executados por uma ordem da URSS?
pensava que foram 4 mil, é claro que isso não diminui o crime de guerra.
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