segunda-feira, janeiro 05, 2015

Mais quatro anos sem uma política voltada para o esporte...

Por Dorrit Harazim*, em “O Globo” de ontem


O que a gente quer e precisa é de um Plano Nacional de Esporte da dimensão do Brasil

O novo ministro do Esporte, deputado George Hilton, não é economista nem francês. 

Não se chama Thomas Piketty nem vendeu 1,5 milhão de exemplares de “O capital do século XXI”. 

Em comum, eles têm apenas a idade, 43 anos.

Piketty acaba de rejeitar o título de cavaleiro da Légion d’Honneur por considerar que não é papel de um governo — no caso o do socialista François Hollande — decidir quem é honrado.

No caso do nosso pastor da Igreja Universal ungido a ministro, a questão não é de honra, e sim de política. 

Já por isso, e considerando-se o esdrúxulo currículo do baiano de Alagoinhas, nada o faria declinar o convite. 

Problema da presidente Dilma Rousseff, responsável pela sua nomeação ao cargo. 

A vaia que marcou a posse do novo ministro pode ter sido constrangida e constrangedora, mas a biografia do deputado já deve ter sido marcada por desconfortos maiores.

Amargo é o que está por vir em decorrência de sua nomeação: mais quatro anos de oportunidades perdidas num país inebriado por grandes eventos, mas que, em mais de 500 anos, ainda não conseguiu ter uma política pública para o esporte.

Em entrevista concedida a Luana Nunes Leal, de “O Estado de S.Paulo”, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, sustenta que a pasta pode ser tocada por um bom administrador, não é essencial que seja um profundo conhecedor. “Se o sujeito for bom gestor, vai muito bem. 

O que a gente quer é mais atuação do governo federal na Olimpíada”, disse o prefeito da Rio 2016.

Engano.

O que a gente quer é muito mais do que uma impecável festa de esportes olímpicos que deixará saudades a toda uma geração. 

O que a gente quer e precisa é de um Plano Nacional de Esporte da dimensão do Brasil, capaz de garimpar o inexplorado potencial esportivo nacional. 

Jogos Olímpicos são um desperdício de esforço e de recursos quando não acompanhados de uma política pública para o esporte. 

O inverso talvez fosse mais sadio: os Jogos como coroação da melhoria na formação esportiva da nação.

*Dorrit Harazim é jornalista, Prêmio Esso de Reportagem em 1994 e cobriu todos os Jogos Olímpicos desde 1980, em Moscou. A Rio-16 deve ser sua décima cobertura.

Nenhum comentário: