O livro das bolas de futebol
Fanático por bolas desde os seis
anos de idade (“Uma paixão embalada pelo perfume do couro, pela alegria das
peladas no prédio, no clube, no campo ou na praia. ”), o jornalista esportivo
Erich Beting detalha em seu novo livro a história das redondas, desde sua
criação pelos egípcios até a alta tecnologia empregada atualmente para
torná-las mais eficientes no jogo.
Uma linha do tempo da história da
bola de futebol – que se inicia nos primórdios das atividades que dariam origem
ao esporte e vai até o lançamento da Brazuca, bola usada na Copa 2014 – é
apresentada ao leitor logo no começo do livro. Lá, é possível descobrir por
exemplo que, entre 900 e 200 a.C., o povo maia praticava uma atividade chamada
pok ta pok, espécie de futebol que misturava diversão e sacrífico humano. O
atirador mestre do time perdedor – que corresponderia, hoje, ao capitão da
equipe – era sacrificado e há relatos de que a bola continha um crânio!
Em seguida, dá-se início ao
registro de todas as bolas usadas nos campeonatos internacionais, nos
campeonatos nacionais e as bolas históricas que marcaram época. Entre 1910 e
1940, os jogadores eram obrigados a encarar uma bola de couro cuja abertura da
câmara de ar era fechada por um cadarço grosso. Essa estrutura machucava a
testa dos cabeceadores, que entravam em campo munidos de gorros e toucas.
Depois, as bolas passaram a ser costuradas à mão – aqui no Brasil, a maior
parte delas era feita por presidiários em troca de redução da pena ou
remuneração. A extinta Casa de Detenção de São Paulo foi um dos principais
presídios a fornecer esse tipo de mão de obra para os fabricantes de bolas de
futebol.
Adotada na Copa do Mundo de 1954,
a Swiss WC Match Ball entrou para a história por ser a primeira bola com
dimensões padronizadas pela Fifa. Com ela, o campeonato teve a maior média de
gols por jogo na história dos Mundiais – foram marcados 140 tentos em 26 jogos.
Só em 1970 oficializaram-se as bolas brancas (até então, preservava-se o marrom
do couro), estratégia para destacar a redonda nas transmissões televisivas em
preto e branco. Já a Copa de 2010, na África do Sul, ficou marcada pela atuação
da Jabulani, bola oficial do torneio. A tecnologia Grip n’ Groove deixou-a mais
veloz – e bastante imprevisível. Não houve jeito: cada chute errado ou falha na
defesa foram botados na conta da bola.
Depois de dissertar sobre as
bolas de cada Copa do Mundo, Erich Beting conta também detalhes das redondas de
todas as edições da Copa do Mundo Feminina, da Copa das Confederações, da
Eurocopa, da Liga dos Campeões da Uefa, do Campeonato Inglês, do Campeonato
Espanhol, do Campeonato Italiano, do Campeonato Alemão, da Copa América, da
Copa Libertadores da América, da Copa Africana de Nações, do Campeonato
Brasileiro, da Copa do Brasil e do Campeonato Paulista. Como se não bastasse,
diversas curiosidades temáticas contribuem para rechear as páginas do livro.
Quer saber algumas delas?
- As grandes fabricantes de bolas de
futebol produzem, anualmente, de 40 a 60 milhões de bolas de futebol.
- Nem a bola escapa do famigerado
padrão Fifa: para ser usada em jogos oficiais, a redonda passa por inúmeros
testes e especificações. Deve, por exemplo, pesar 410 gramas (no início da
partida) e 450 gramas (ao final desta).
- O termo gandula é uma homenagem a
Bernardo Gandulla, meia-esquerda argentino contratado pelo Vasco em 1939.
Devido a complicações de contrato, Gandulla foi obrigado a ocupar um lugar no
banco do time carioca. Espontaneamente, o rapaz assumiu a função de recuperar
bolas isoladas, para agilizar o andamento das partidas.
- O massagista da seleção brasileira
Mário Américo ficou famoso por uma habilidade bastante peculiar: ele era craque
em roubar bolas campeãs. Quando o Brasil conquistou seu primeiro título
mundial, em 1958, Mário Américo agarrou a redonda e saiu correndo com ela nos
braços para o vestiário. Quatro anos depois, repetiu o feito e sequestrou Mr.
Crack – a bola bicampeã da Copa do Chile. Hoje, os dois troféus redondos estão
expostos no Museu da Federação Paulista de Futebol.
- Criada na década de 1960, a empresa
argentina Dalemas entrou para o Livro dos Recordes como detentora da maior
coleção de bolas no mundo. A empresa hoje é especializada em fabricar modelos
para serem usados em decoração, especialmente em programas televisivos na
Argentina.
- No Memorial do Corinthians, no Parque
São Jorge, está exposta uma bola quadrada. Isso mesmo: fabricada em Portugal
com apenas seis gomos, quando ficava murcha mais parecia com um dado do que com
uma bola. Durante uma partida do Timão em São Paulo contra um adversário
português (não se sabe se a Portuguesa ou o extinto Lusitano), alguém da
torcida jogou a “quadradinha” no campo, provocando risos até mesmo dos jogadores.
TRECHO
“O Campeonato Brasileiro da Série
B de 2008 foi disputado com o modelo 8, fabricado pela Penalty, a marca
esportiva que fez a primeira bola no mundo com apenas oito gomos. Antes de
rolar nos gramados pela Segundona, o modelo fez uma estreia no mundo da música
– em abril de 2008 o cantor Rod Stewart fez uma turnê nas cidades de São Paulo
e Rio de Janeiro. O cantor inglês, apaixonado pelo futebol, pediu 48 bolas para
mandar ao público durante os shows. ”
O AUTOR
Erich Beting nasceu em 1979 e é
jornalista esportivo. Trabalhou em jornal, rádio, TV e internet. É dono do site
Máquina do Esporte e tem um blog no UOL. Tinha seis anos quando ganhou sua
primeira bola de couro, e desde então é fascinado pelo cheiro de bola nova –
mesmo que elas não sejam mais de couro.
O LIVRO DAS BOLAS DE FUTEBOL
Erich Beting | 128 pp.
R$ 55,90
Pinçado do Blog do Juca Kfouri
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