“Nas andanças pela internet”
encontrei essa crônica...
Engraçado, pouco se falou no
assunto... assunto que deveria ter tido uma cobertura bem mais ampla por parte
da imprensa.
Infelizmente, por vezes, a mídia
esquece o fundamental e se agarra com unhas e dentes ao assessório...
Repasso então, para conhecimento
dos leitores do Fernando Amaral FC, a bela iniciativa da Secretaria de Saúde do
Paraná, encampada por três de seus clubes.
Alma cheia, camisa vazia
Paraná, Operário e Atlético
Paranaense abrem mão do seu maior símbolo em homenagem às vítimas do câncer de
mama
Por “O Velho Cronista”
Os dois escretes estão ali,
perfilados no gramado, à espera das primeiras notas do hino nacional.
A câmera passeia pelos donos da
casa, mostra rostos, expressões, olhos fechados.
Vemos o uniforme, as cores, o
escudo: trata-se do Esporte Clube Vitória.
A lente, então, migra para os
visitantes, que estão logo ao lado.
E mostra o semblante ansioso daquela gente,
a cara suada daqueles homens.
Depois, desce para as suas camisas.
É quando vemos um fardamento
distinto, diferente de tudo o que já vimos num gramado até aqui: não há escudo
nenhum naquela camisa.
Não há nada, um pormenor que represente aquela
agremiação.
Ninguém sabe bem quem é aquele adversário do Vitória.
A câmera, como quem também
estranha aquilo tudo, continua o seu movimento, recua mais à procura de uma
explicação e vemos que aqueles homens de branco, sem identidade, seguram uma
faixa que lê, em letras garrafais, o seguinte:
TIRAMOS O ESCUDO DO PEITO EM
HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DO CÂNCER DE MAMA.
E ali, na faixa, aparece a
araucária, a gralha, o azul e o vermelho – o inconfundível brasão do Paraná
Clube.
É o time da Vila Capanema que
está lá, portanto.
E ele acaba de marcar a ferro e fogo a sua história:
arrancou do próprio peito o escudo para mostrar às mulheres que perderam os
seios que, sim, existe vida depois da peleja, e que é possível seguir a labuta
quando um pedaço tão substancial da gente ficou pelo caminho.
E aquela partida acabou ali
mesmo, sem nunca ter começado.
E veio, depois disso, outra partida,
completamente diferente.
Porque no estádio, em casa, nos bares e nos
manicômios, o povo todo sabia que estava em campo muito mais do que uma camisa,
ou os 3 pontos, ou um jogo – estava um princípio mais nobre do que tudo.
Pelo país todo, homens e mulheres
foram abraçados por um estofo branco, uma camisa que, mesmo sem identidade,
dizia mais do que já disse qualquer outra.
Eu gosto de imaginar que filhos
ligavam para suas mães, que venceram a doença, e pediam para que ligassem a TV
posto que havia, assim, de repente, uma homenagem espantosa a ela.
E essas
mulheres, então, sintonizavam o futebol e viam aquilo tudo e logo ligavam para
outras senhorinhas, que davam também sequência aos avisos, formando assim uma
imensa corrente de respeito e consideração.
E, de súbito, as mulheres que não
sabem o que é o futebol, acompanhavam o jogo e, mesmo não entendendo nada,
mantinham os olhos na camisa do Paraná, sabendo que ali, naquele intervalo
branco sem tinta nem brasão, morava uma reverência calada à sua dor.
Longe dali, em Belém, o Operário
também jogou sem o escudo, em uma das partidas mais importantes da sua
história, que valia vaga para a Série C do Brasileiro.
E em Curitiba, o
Atlético Paranaense não jogou, mas foi a campo igualmente sem escudo, como se fosse
vítima de uma mastectomia.
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