quinta-feira, outubro 22, 2015

A homenagem dos clubes paranaenses às vítimas do câncer de mama...

“Nas andanças pela internet” encontrei essa crônica...

Engraçado, pouco se falou no assunto... assunto que deveria ter tido uma cobertura bem mais ampla por parte da imprensa.

Infelizmente, por vezes, a mídia esquece o fundamental e se agarra com unhas e dentes ao assessório...

Repasso então, para conhecimento dos leitores do Fernando Amaral FC, a bela iniciativa da Secretaria de Saúde do Paraná, encampada por três de seus clubes.

Alma cheia, camisa vazia

Paraná, Operário e Atlético Paranaense abrem mão do seu maior símbolo em homenagem às vítimas do câncer de mama

Por “O Velho Cronista”

Os dois escretes estão ali, perfilados no gramado, à espera das primeiras notas do hino nacional.

A câmera passeia pelos donos da casa, mostra rostos, expressões, olhos fechados. 

Vemos o uniforme, as cores, o escudo: trata-se do Esporte Clube Vitória.

A lente, então, migra para os visitantes, que estão logo ao lado. 

E mostra o semblante ansioso daquela gente, a cara suada daqueles homens. 

Depois, desce para as suas camisas.

É quando vemos um fardamento distinto, diferente de tudo o que já vimos num gramado até aqui: não há escudo nenhum naquela camisa. 

Não há nada, um pormenor que represente aquela agremiação. 

Ninguém sabe bem quem é aquele adversário do Vitória.

A câmera, como quem também estranha aquilo tudo, continua o seu movimento, recua mais à procura de uma explicação e vemos que aqueles homens de branco, sem identidade, seguram uma faixa que lê, em letras garrafais, o seguinte:

TIRAMOS O ESCUDO DO PEITO EM HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DO CÂNCER DE MAMA.

E ali, na faixa, aparece a araucária, a gralha, o azul e o vermelho – o inconfundível brasão do Paraná Clube.

É o time da Vila Capanema que está lá, portanto. 

E ele acaba de marcar a ferro e fogo a sua história: arrancou do próprio peito o escudo para mostrar às mulheres que perderam os seios que, sim, existe vida depois da peleja, e que é possível seguir a labuta quando um pedaço tão substancial da gente ficou pelo caminho.

E aquela partida acabou ali mesmo, sem nunca ter começado. 

E veio, depois disso, outra partida, completamente diferente. 

Porque no estádio, em casa, nos bares e nos manicômios, o povo todo sabia que estava em campo muito mais do que uma camisa, ou os 3 pontos, ou um jogo – estava um princípio mais nobre do que tudo.

Pelo país todo, homens e mulheres foram abraçados por um estofo branco, uma camisa que, mesmo sem identidade, dizia mais do que já disse qualquer outra.

Eu gosto de imaginar que filhos ligavam para suas mães, que venceram a doença, e pediam para que ligassem a TV posto que havia, assim, de repente, uma homenagem espantosa a ela. 

E essas mulheres, então, sintonizavam o futebol e viam aquilo tudo e logo ligavam para outras senhorinhas, que davam também sequência aos avisos, formando assim uma imensa corrente de respeito e consideração.

E, de súbito, as mulheres que não sabem o que é o futebol, acompanhavam o jogo e, mesmo não entendendo nada, mantinham os olhos na camisa do Paraná, sabendo que ali, naquele intervalo branco sem tinta nem brasão, morava uma reverência calada à sua dor.

Longe dali, em Belém, o Operário também jogou sem o escudo, em uma das partidas mais importantes da sua história, que valia vaga para a Série C do Brasileiro. 

E em Curitiba, o Atlético Paranaense não jogou, mas foi a campo igualmente sem escudo, como se fosse vítima de uma mastectomia.

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