A resposta de Giggs e Neville a
um grupo de sem-teto que invadiu seu hotel de luxo: “Podem ficar”
Por Leonardo de Escudeiro
Após sua aposentadoria, além de
comentar jogos na TV britânica, Gary Neville tem outro método para seguir
aumentando seu patrimônio: propriedades.
Em 2013, ao lado do
ex-companheiro de Manchester United Ryan Giggs, o ex-lateral da seleção inglesa
comprou o antigo prédio da Bolsa de Valores de Manchester para transformá-lo em
um hotel de luxo.
Ainda em obras, o edifício foi
invadido por um grupo de ativistas sem-teto, e a resposta dos ídolos dos Red
Devils à invasão surpreendeu até mesmo os militantes: “Podem ficar”.
Em entrevista ao jornal Guardian,
Wesley Hall, de 33 anos, líder do grupo Manchester Angels, relatou a conversa
que teve por telefone com Neville, ao fim da qual não conteve as lágrimas.
Segundo o ativista, o ex-jogador
lhe disse que sempre apoiou pessoas sem-teto e deu a entender que seria
bastante incoerente de sua parte forçar a saída do grupo.
“Muito obrigado, você não sabe o que fez pela gente”, respondeu
Hall.
Em conversa com o Mirror, o líder
do grupo revelou que Neville afirmou que os trabalhos de reforma no prédio
principal começariam apenas em fevereiro de 2016 e que o grupo poderia ficar no
local até então, especialmente por causa da rigorosidade do inverno na
Inglaterra, entre dezembro e fevereiro.
Os Manchester Angels decidiram
até chamar a ocupação de Operação Inverno Seguro.
A única demanda de Neville ao
grupo de ativistas foi que a entrada dos profissionais que trabalham nas obras
de reforma do local seja sempre permitida, o que Hall acatou sem problemas.
“Comprometemo-nos a não causar nenhum dano a qualquer coisa e a deixar
o prédio em estado tão bom quanto aquele em que o encontramos, senão melhor.
Encomendei alarmes de incêndio para manter o prédio seguro. Até mesmo sugeri ao
Neville que talvez ele se interesse em empregar alguns dos sem-teto que estão
vivendo aqui agora como operários no trabalho de reforma do hotel”, afirmou
o líder do grupo ao Guardian.
Ainda incrédulo com toda a
situação, descrevendo-a como um “sonho”, Hall revelou os planos do grupo dali
em diante:
“Já planejamos turnos para cozinhar, limpar e cuidar do portão.Todos poderão ter seu quarto, e
cada pessoa poderá trancar a porta de seu quarto. Esperávamos que, logo que Giggs e
Neville descobrissem que ocupamos o prédio, eles fossem tentar nos despejar e
que teríamos que procurar outro prédio.Ter alguns meses durante o
inverno para trabalhar com pessoas sem-teto sem a ameaça de despejo sobre
nossas cabeças é brilhante”.
Além da ocupação por necessidade,
a invasão ao prédio é uma forma dos ativistas sem-teto demonstrarem seu
descontentamento com a política de moradia do primeiro ministro britânico,
David Cameron.
O líder do Partido Conservador
anunciou no início deste mês a construção de 200 mil casas, mas o programa é
apenas um incentivo para que pessoas de boa renda possam comprar sua primeira
casa própria.
Não contempla os menos
afortunados, como os integrantes do Manchester Angels, e também não resolve
outro problema: as várias casas vazias que poderiam ser usadas para acomodar
temporariamente os sem-teto.
A sensibilidade de Neville e
Giggs quanto à situação do grupo foi admirável.
Mesmo com os ambiciosos planos de
construir um hotel de luxo, encontraram uma brecha para acomodar todas essas
pessoas, enquanto, como Hall destaca, a tendência de proprietários é se
apressar com uma ordem de despejo.
Mais do que ajudar uma série de
pessoas, passam uma lição de empatia sempre bem-vinda.
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