Reminiscências da Copa do Mundo
A identidade latino-americana na paixão e no delírio pelo futebol
Por Luiz Henrique Gomes*
Quando o pontapé inicial da Copa do Mundo
de 2014 foi dado, eu não imaginava o quanto aquele mês me aproximaria da
identidade latino-americana.
Pela seleção brasileira é que não foi:
nesta, o menor traço de Brasil e de América Latina já se esvaiu há muito.
O que valeu foi a festa da nossa gente
com os países que aqui nesta parte da América residem.
Nos dias que o México embarcou para jogar
nesta esquina da América, Natal se transformou em território carnavalesco.
Também havia os uruguaios, que aguardavam
o jogo com a Itália, e alguns colombianos que tinham perdido viagem e parado
aqui, onde a Colômbia não jogou.
A despeito dos outros países que aqui
vieram, foram estes quem mais se sentiram em casa, vibraram com a festa e
sofreram com suas seleções.
O delírio de Pablo Armero comemorando o
gol com a seleção colombiana foi repetida aqui pelos torcedores que assistiam o
jogo debaixo do sol.
Era como um pacto de irmandade: nós,
brasileiros, nos juntamos aos colombianos e compartilhamos aquele frenesi.
O mesmo aconteceu quando Suárez
desempatou o jogo contra a Inglaterra e o estádio da Arena Corinthians tremeu.
Nem todos os jogos eu estava presente no
espaço da Fifa reservado para os torcedores, é verdade.
Mas mesmo os que assisti em casa, no
boteco da esquina ou na cigarreira do meio do caminho foram comemorados ou
lamentados com a certeza que o futebol é muito mais que um jogo.
Foi assim com a vitória do Chile sobre a
Espanha: comemorei junto ao vendedor de cigarros e seu vizinho quando parei
obrigações burocráticas para ver o jogo na sua barraca da Cidade Alta.
E a cada jogo eu estava mais convicto que
o prazer de comemorar juntos aos argentinos era maior que a rivalidade raivosa
entre países vizinhos.
Sem abandonar o espírito que tira uma
onda, torci para os hermanos, que jogavam um futebol melhor que a nossa
seleção do chutão e do choro, e lamentei a derrota para os alemães na final.
Depois, andando pela praia já passadas
horas do jogo, encontrei argentinos atordoados do álcool e amargando o sabor da
derrota no maior estilo brasileiro de sofrer: xingando o juiz, destruindo seus
ídolos e saudando o passado.
Foi neste jogo da final, junto com a
campanha da surpreendente Costa Rica, que vi a paixão do futebol desafiando a
lógica: apesar de reconhecer que a Alemanha jogou o melhor futebol e a Holanda
mereceu passar dos costa-riquenhos nas quartas-de-final, o pecado de perder que
a seleções latino-americanas sofreram foi menor que a alegria do espetáculo que
elas proporcionaram.
Quanto a seleção canarinho, também vibrei
e torci, mas não conseguia ter muita simpatia.
O estilo sem-estilo e pragmático de um
técnico intolerante, junto com jogadores que sequer suavam a camisa, não me
passou nenhuma identidade.
O desastroso e inesquecível 7 – 1 foi recebido com
melancolia e sobriedade, ao contrário do que aconteceu com os hermanos
na final.
Luiz Henrique Gomes é estudante de jornalismo na UFRN, apaixonado por futebol, repórter do programa "Universidade do Esporte" da FM Universitária, 88,9 e ainda sonha com os belos dias da Copa do Mundo em Natal.
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