Horas antes da partida a
Deutschwelle publicou matéria onde descreveu o sentimento em relação a final olímpica, na
Alemanha.
Para alemães, decisão olímpica
está longe de ser revanche
Por Deutschwelle
Enquanto Brasil busca dar fim à
obsessão pelo ouro inédito e quer vingar o 7 a 1, Alemanha joga com a base da
seleção sub-21, inúmeros desfalques e pouco destaque na imprensa.
No penúltimo dia de disputas dos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o Brasil terá sua quarta oportunidade de
conquistar a tão sonhada medalha de ouro no futebol – depois das pratas em Los
Angeles (1984), Seul (1988) e Londres (2012).
Além da busca pelo único título
que falta à seleção brasileira masculina, a decisão contra a Alemanha é cercada
de expectativas também devido as ainda vívidas memórias do fatídico 7 a 1 da
Copa do Mundo de 2014.
Durante a semifinal vencida pela
seleção alemã contra a Nigéria, o canto de "Alemanha, pode esperar, sua
hora vai chegar" era entoado pela torcida presente na Arena Corinthians.
Um sentimento de revanche, que,
no entanto, não encontra correspondência na Alemanha.
O torneio olímpico de futebol não
tem grande apelo na Alemanha.
A equipe enviada ao Brasil é
praticamente a seleção sub-21 com inúmeros desfalques, já que o treinador Horst
Hrubesch teve que obedecer a uma série de pedidos de clubes e da Federação
Alemã de Futebol (DFB) na convocação, e a decisão no Maracanã tem recebido
pouco destaque na imprensa esportiva alemã.
Atual campeã mundial e uma das
potências do futebol, a Alemanha não demonstra nenhum pingo de obsessão pela
conquista do torneio olímpico, apesar de, também para ela, tratar-se de um
título inédito.
Nenhuma equipe alemã – seja antes
da Segunda Guerra, seja depois da Reunificação – conquistou a medalha de ouro:
exceção feita à Alemanha Oriental, campeã olímpica nos Jogos de Montreal, em
1976.
O torneio olímpico de futebol dos
Jogos do Rio de Janeiro é o primeiro disputado pela Alemanha depois da
Reunificada.
A última participação alemã havia
sido em 1988, em Seul, quando a equipe que contava com um jovem Jürgen
Klinsmann foi derrotada nos pênaltis na semifinal justamente pelo Brasil, que
tinha um esquadrão, com Romário, Bebeto, Careca, Taffarel, Jorginho, Neto, entre
outros.
Nem a quebra do longo hiato de
ausência em Jogos Olímpicos nem o retorno ao país onde conquistara o título da
Copa do Mundo de 2014 entusiasmaram os responsáveis pela seleção alemã.
Com a meta declarada de alcançar
a semifinal, a DFB enviou ao Brasil uma equipe enfraquecida.
Inúmeras limitações na convocação
Na convocação, Hrubesch enfrentou
uma série de limitações.
Como o torneio olímpico não é um
evento organizado pela Fifa, os clubes não são obrigados a liberarem seus
atletas.
A DFB e os clubes, então, selaram
o seguinte compromisso: apenas dois jogadores profissionais por clube; nenhum
atleta que esteve na Eurocopa; nenhum jogador que trocou de clube na última
janela de transferências; e nenhum do Borussia Mönchengladbach e do Hertha
Berlim, que disputam as fases qualificatórias de Liga dos Campeões e Liga
Europa, respectivamente.
Hrubesch teve então de abrir mão
de peças importantes, como o polivalente Joshua Kimmich (Bayern de Munique),
Leroy Sané (recentemente vendido ao Manchester City por 50 milhões de euros), o
volante Julian Weigl (Borussia Dortmund), o meia Mahmoud Dahoud
(Mönchengladbach), o goleiro titular Timo Wellenreuther (Mallorca, da Espanha)
e até do capitão da campanha classificatória do Europeu Sub-21, o atacante
Kevin Volland (que trocou o Hoffenheim pelo Bayer Leverkusen).
Do elenco de 18 jogadores, apenas
o zagueiro Matthias Ginter (Borussia Dortmund) esteve na Copa do Mundo de 2014,
mas não atuou um minuto sequer.
Alguns têm breves experiências na
Liga dos Campeões, como o atacante Julian Brandt (Bayer Leverkusen) e o meia
Max Meyer, do Schalke 04 e conhecido por ser o único alemão que saiu do futsal
para o futebol de campo.
Mas completam o elenco também
desconhecidos, como Grischa Prömel, atacante do Karslruhe, da segunda divisão.
Segundo dados do site
especializado transfermarkt.de, o valor de mercado do time titular da Alemanha
contra a Nigéria é de 107 milhões de euros, praticamente o equivalente de
Neymar, avaliado em 100 milhões de euros.
A disparidade é imensa: o único
jogador do elenco alemão que já conquistou um título nacional é o volante Sven
Bender (Borussia Dortmund), um dos três jogadores permitidos acima de 23 anos.
Sem transmissão na íntegra na TV
As diferenças entre as
expectativas, a pressão popular e a importância da decisão para Brasil e
Alemanha podem ser medidas na cobertura dos principais jornais e portais
esportivos.
Na Alemanha, o primeiro
reencontro entre Brasil e Alemanha depois do Mundial de 2014 não é tratado como
revanche, nem como chance de redenção para o Brasil.
"Uma vitória não apagará a vergonha de Belo Horizonte. Mas uma
derrota seria um desastre para os brasileiros", escreveu o site
Spiegel Online.
Os poucos artigos publicados
seguem a linha: a derrota de 2014 não pode ser vingada nem apagada num torneio
olímpico.
No portal da revista
especializada Kicker, principal periódico esportivo do país, o duelo olímpico
tem menos destaque do que, por exemplo, o lucro do Borussia Dortmund na
temporada passada, os jogos da Copa da Alemanha, do fracasso do hipismo em
conseguir uma medalha e até mesmo de uma entrevista com Zico.
Se o ouro vier, certamente será
celebrado – mas tanto quanto foram as medalhas na canoagem, na ginástica
artística ou no tiro esportivo.
Assim como aconteceu no decorrer
do torneio, a final no Maracanã nem mesmo será transmitida na íntegra pela
emissora ARD, mas em paralelo com outras competições.
O futebol é o esporte mais
popular na Alemanha, mas não é onipresente.
Na televisão alemã, a final do
futebol terá de dar espaço para disputas que incluem atletas alemães em outros
esportes, como o pentatlo moderno ou a luta olímpica.
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