quinta-feira, agosto 11, 2016

Yusra Mardini, a menina síria que encantou as olimpíadas...

Imagem: Autor Desconhecido


Saudade da minha cama

Yusra Mardini, 18 anos, síria, atleta da equipe olímpica de refugiados

Por Depoimento colhido por Maria Clara Vieira para Veja

A natação salvou minha vida duas vezes.

A primeira foi quando tentava chegar à Europa.

Se não fosse nadadora, não teria sobrevivido à travessia entre Izmir, na Turquia, para onde tinha fugido da guerra em minha terra natal, a Síria, e a Ilha de Lesbos, na Grécia.

No meio do caminho, o motor do barco parou.

Eu e minha irmã, que também é nadadora, pulamos na água.

Nadamos por três horas e meia.

Passei a odiar o mar.

Mas a experiência me fez mais forte.

Da Grécia, atravessamos Macedônia, Sérvia, Hungria e Áustria, um longo percurso a pé e de trem, até chegarmos à Alemanha.

Fomos instaladas no acampamento de refugiados em Berlim.

Ficamos vários dias na fila para conseguir documentação.

Chegava a passar oito horas de pé no frio.

Quando os papéis ficaram prontos, a primeira coisa que fiz foi procurar um clube de natação.

Já tinha competido na Síria.

O técnico gostou do meu currículo e me inscreveu nos treinos.

E foi nas piscinas desse clube alemão que conquistei minha segunda grande chance na vida, a indicação para participar do time de refugiados dos Jogos Olímpicos.

Vou disputar duas provas de 100 metros: a de nado livre e a de nado borboleta.

Saí de Damasco porque não enxergava futuro lá. Ia aos treinos e à escola, mas não via nenhum sentido, nenhum propósito.

Continuava nadando por amor, mas sabia que, com a guerra civil na Síria, nunca chegaria ao nível profissional.

Comecei a nadar aos 3 anos, por influência do meu pai, que é técnico de natação.

Escolhi especializar-me no estilo borboleta justamente por ser o mais difícil.

Em casa, falávamos pouco da situação.

Havia uma resignação geral.

Com o avanço da guerra, porém, os treinos ficaram complicados.

O teto do edifício em que treinávamos desabou em um bombardeio.

Quando nossa casa foi destruída, eu e minha irmã resolvemos cruzar a fronteira com a Turquia.

Meus pais concordaram.

Não perdi nenhum parente na guerra, mas três amigos morreram.

Dois nadadores da nossa equipe também foram vítimas.

Passamos por muitas dificuldades, mas quando penso que a vida não parou por causa delas tenho força para continuar.

Participar da Olimpíada do Rio de Janeiro é uma oportunidade de mostrar que os 60 milhões de refugiados em todo o mundo são pessoas que, antes de fugir, tinham uma vida, uma história, um trabalho.

É uma forma de mudar a maneira como somos vistos.

Sinto que estou competindo por todos: pelos refugiados, pela Síria, pela Alemanha.

Sinto muita falta de Damasco.

Está completando um ano que saí de lá.

Tenho muita saudade de minha casa, especialmente de minha cama.

Mas não sou de ficar chorando pelo que não posso mudar.

Hoje minha família está toda reunida na Alemanha.

Retornei à escola, saio com amigos, levo uma vida normal e razoavelmente feliz.

Tenho uma rotina.

Talvez construa uma vida lá e, quando for mais velha, regresse a meu país para relatar esta experiência.

Quero que o povo sírio se lembre de mim como um símbolo de esperança, porque, infelizmente, muitos já se esqueceram de seus sonhos no meio da guerra.

Quero mostrar que, mesmo que a jornada seja difícil, qualquer um é capaz de alcançar objetivos grandes.

Não espero ganhar nenhuma medalha na Olimpíada do Rio.

Já considero uma vitória ter chegado até aqui, junto com outros refugiados, formando a primeira equipe desse tipo na história dos Jogos.

O esporte permaneceu comigo quando eu tinha perdido tudo.

No momento em que pulo na água, deixo meus problemas para trás e só penso em uma coisa: superar meus limites.

Do blog

Yusra Mardini, não conseguiu se classificar...

 Entre as 45 nadadoras que competiram por uma vaga na final dos 100 metros borboleta, ela chegou em 41º lugar.

Concluiu a bateria classificatória com o tempo de 1:09,21...

Porém, se tornou um símbolo para todos os refugiados, que motivados por guerras, perseguições políticas ou religiosas deixaram seus países.

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