segunda-feira, outubro 16, 2017

As crianças do Dendê de Baixo não desistem da esperança...

Dia (s) das crianças no Dendê de Baixo

Por Mariana Coutinho


Imagem: Mariana Coutinho


Tão comum quanto observar as demonstrações públicas de afeto com crianças nas primeiras semanas de outubro é encontrar a galerinha reunida no campo do Dendê para jogar futebol – a diferença é que isso não acontece apenas uma ou poucas vezes ao ano.

Todos os sábados, faça chuva ou faça sol, eles estão por lá.

Neste fim de semana, de modo especial, Edilson Félix reuniu bem mais que as quase trinta crianças que fazem parte da Escolinha de Futebol do Dendê de Baixo.

Para o singelo campinho de futebol, vieram crianças de toda região.

A localidade, que fica a cerca de 50 km da capital, faz parte da Zona Rural do município de Arês e abriga uma população bastante carente – de recursos financeiros e necessidades básicas, importante ressaltar.

De alegria, força de vontade e luta, a comunidade é farta.

Bom, o motivo do encontro era o mesmo de todos os outros dias: fazer a alegria da criançada.

Da estrada de areia que leva até a entrada do campinho já era possível ouvir o barulho dos meninos.

As vozes dispersavam-se com o vento, mas de longe dava para ver algumas crianças que corriam de um lado para o outro em aquecimento, outros (os menores) aproveitavam o tempo antes da partida para brincar de pega com os coleguinhas.

Debaixo da cabana de palha projetada como uma arquibancada, vários familiares aguardavam ansiosos pelo início do jogo.

Além do maior número de pessoas em campo, o que diferenciava este sábado dos outros era o brilho dos troféus dourados e das pequenas medalhas dispostas numa mesinha de plástico enfiada na areia.

Para o jogo em comemoração ao dia das crianças, Edilson utilizou seus próprios recursos – que não são muitos – e também recebeu ajuda de pessoas da localidade.

Algumas mães prepararam lanches, levaram refrigerante e uns poucos salgadinhos.

Tudo simples e cuidadosamente calculado para distribuir a todos os pequeninos.

As cores no campo se misturavam – uniformes azuis, amarelos, vermelhos, laranjas.

Alguns já desbotados traziam propagandas políticas ou de empresas privadas.

Nenhum uniforme oficial.

Nos pés, chuteiras.

Algumas novas, outras velhas e rasgadas.

Mas a alegria mesmo era de quem tinha pelo ao menos uma para usar.

Em meio a tantos sorrisos, alguns olhares da plateia chamavam a atenção.

Eram aqueles que não participavam por não ter uma chuteira para calçar.

Da forma mais excludente, a necessidade se fazia presente.

A ladra de sonhos, com o peso da realidade.

O sábado foi lindo – mais um.

O próximo não terá troféus e medalhas.

Talvez um lanchinho, se o bolso permitir.

Não haverá ternos para as escolinhas da região – elas que se esforçam para manter vivos os sonhos dos pequeninos.

Quem sabe no dia das crianças do ano que vem, não é mesmo?

Enquanto isso, o Pedro, o Caio, o Lucas, o Josielton, o Mateus e tantos outros aguardam por uma chuteira.

Mas o que vai ter mesmo, de verdade, é criança jogando.

Vai ter sorriso no campo e vai ter disposição.

Ah, vai.

Todos os sábados, faça chuva ou faça sol, eles estão por lá.


Imagem: Mariana Coutinho

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