Dia (s) das crianças no Dendê de Baixo
Por Mariana Coutinho
Imagem: Mariana Coutinho
Tão comum
quanto observar as demonstrações públicas de afeto com crianças nas primeiras
semanas de outubro é encontrar a galerinha reunida no campo do Dendê para jogar
futebol – a diferença é que isso não acontece apenas uma ou poucas vezes ao
ano.
Todos os
sábados, faça chuva ou faça sol, eles estão por lá.
Neste fim de
semana, de modo especial, Edilson Félix reuniu bem mais que as quase trinta
crianças que fazem parte da Escolinha de Futebol do Dendê de Baixo.
Para o
singelo campinho de futebol, vieram crianças de toda região.
A localidade,
que fica a cerca de 50 km da capital, faz parte da Zona Rural do município de
Arês e abriga uma população bastante carente – de recursos financeiros e
necessidades básicas, importante ressaltar.
De alegria,
força de vontade e luta, a comunidade é farta.
Bom, o motivo
do encontro era o mesmo de todos os outros dias: fazer a alegria da criançada.
Da estrada de
areia que leva até a entrada do campinho já era possível ouvir o barulho dos
meninos.
As vozes
dispersavam-se com o vento, mas de longe dava para ver algumas crianças que
corriam de um lado para o outro em aquecimento, outros (os menores)
aproveitavam o tempo antes da partida para brincar de pega com os coleguinhas.
Debaixo da
cabana de palha projetada como uma arquibancada, vários familiares aguardavam
ansiosos pelo início do jogo.
Além do maior
número de pessoas em campo, o que diferenciava este sábado dos outros era o
brilho dos troféus dourados e das pequenas medalhas dispostas numa mesinha de
plástico enfiada na areia.
Para o jogo
em comemoração ao dia das crianças, Edilson utilizou seus próprios recursos –
que não são muitos – e também recebeu ajuda de pessoas da localidade.
Algumas mães
prepararam lanches, levaram refrigerante e uns poucos salgadinhos.
Tudo simples
e cuidadosamente calculado para distribuir a todos os pequeninos.
As cores no
campo se misturavam – uniformes azuis, amarelos, vermelhos, laranjas.
Alguns já
desbotados traziam propagandas políticas ou de empresas privadas.
Nenhum
uniforme oficial.
Nos pés,
chuteiras.
Algumas
novas, outras velhas e rasgadas.
Mas a alegria
mesmo era de quem tinha pelo ao menos uma para usar.
Em meio a
tantos sorrisos, alguns olhares da plateia chamavam a atenção.
Eram aqueles
que não participavam por não ter uma chuteira para calçar.
Da forma mais
excludente, a necessidade se fazia presente.
A ladra de
sonhos, com o peso da realidade.
O sábado foi
lindo – mais um.
O próximo não
terá troféus e medalhas.
Talvez um
lanchinho, se o bolso permitir.
Não haverá
ternos para as escolinhas da região – elas que se esforçam para manter vivos os
sonhos dos pequeninos.
Quem sabe no
dia das crianças do ano que vem, não é mesmo?
Enquanto
isso, o Pedro, o Caio, o Lucas, o Josielton, o Mateus e tantos outros aguardam
por uma chuteira.
Mas o que vai
ter mesmo, de verdade, é criança jogando.
Vai ter
sorriso no campo e vai ter disposição.
Ah, vai.
Todos os
sábados, faça chuva ou faça sol, eles estão por lá.
Imagem: Mariana Coutinho
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