Imagem: Autor Desconhecido
Como saúde financeira dos clubes melhoraria nível do futebol brasileiro
Por Rodrigo Mattos
A temporada de 2018 começou com
boa parte dos clubes brasileiros em crise financeira logo após estas mesmas
agremiações terem sido beneficiadas com um programa para pagamento de dívidas e
luvas de televisão.
Uma novela repetida em que
dirigentes preferem investir pesado no futebol a adotar regras básicas
empresariais.
O que falta de compreensão aos
cartolas brasileiros é que, a longo prazo, uma recuperação das contas se
refletiria em melhoria técnica em campo.
Para explicar isso, é preciso
lembrar que o mercado de futebol do Brasil ainda é pouco regulado em termos de
finanças em relação a outras ligas europeias.
A CBF instituiu um licenciamento
para clubes para 2018 sem que exista nenhuma regra de fair play financeiro,
isto é, que puna aqueles que gastem sem ter dinheiro.
Isso já existe na Europa e na
Ásia. No Brasil, só há é a Lei do Profut que prevê exclusão do refinanciamento.
Pois bem, a Alemanha é o país
onde há talvez a maior regulação financeira dos clubes.
Por isso, é uma liga que gasta
bem menos com contratações de jogadores do que as outras, como a Inglesa ou
Espanhola.
A exceção é o Bayern de Munique,
que tem uma receita próxima de Real Madrid e Barcelona. Mesmo assim, gasta
menos do que esses.
Outra característica da liga
alemã é que seus clubes não podem ser comprados por milionários estrangeiros.
O controle acionário tem que ser
mantido com associações, isto é, aqueles sócios que fazem parte da fundação do
clube.
Há exceções apenas para times
como o Wolsburg porque a Wolkswagen está há mais de 20 anos controlando o time,
com raízes ligadas à sua fundação, mesma situação do Bayen Leverkussen. O Red
Bull Leipzig gera polêmica por ter um dono recente.
Se não tem investidores
milionários, nem gasta os turbos com contratações, como a liga alemã é uma das
de maior nível técnico e atratividade do mundo?
Um ponto é o desenvolvimento das
divisões de base locais, incentivada pela liga e federação alemãs porque os
clubes têm que fazer investimentos obrigatórios nos últimos 15 anos.
Ora, com a revelação de atletas,
os clubes se tornam muito menos dependentes de contratações.
Não é preciso ser um gênio para
constatar que o modelo se encaixaria perfeitamente no Brasil.
O país é o maior celeiro de
jogadores do futebol mundial.
Se os clubes tivessem
equilibrados financeiramente, e com pequenas mudanças na legislação, seria
possível tornar bem mais difícil tirar jogadores do Brasil.
Claro, o jogador do nível de
Neymar continuará a ir para Barcelonas e PSGs.
Mas atletas de talento com bom
nível técnico só sairiam por valores bem mais altos do que os atuais, ou não
sairiam.
Cada liga europeia identifica o
que tem de ponto mais forte.
No caso alemão, revelações e
fidelidade do time.
No caso espanhol, dois times de
repercussão global que puxam a liga inteira.
No caso inglês, a força econômica
de contratos que atingem valores astronômicos.
A liga italiana decaiu, mas ainda
acha na cultura tática e na Juventus sua força.
Mas precisa se reinventar.
O Brasil precisa achar a sua
cara, e isso tem que ser na aposta na manutenção de talentos, não no
investimento em veteranos a alto custo.
Mas, para isso, tem que se
aumentar também o gasto com divisão de base.
Os clubes nacionais investem a
metade dos alemães neste item, e de forma irregular, segundo dados levantados
pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil sobre o tema.
Ou seja, um São Paulo gasta
muito, e outros bem menos, por exemplo.
Não há padrão.
Investir em divisão de base e
acertar as contas para manter os atletas não dá Ibope e nem títulos imediatos.
Mais do que isso, não permite um
monte de transações com comissões astronômicas para agentes (e sabe se lá a que
outras pessoas no caminho).
Exatamente o ciclo vicioso em que
está preso o futebol nacional.
Os agentes deveriam focar em
ganhar dinheiro com a gestão da carreira de seus atletas, não com transações.
E os cartolas em desenvolverem
planos a longo prazo, não em holofotes momentâneos.
Dado esse primeiro passo, a liga
brasileira poderia então formar uma base forte e melhorar o nível técnico para
poder ser vendável no exterior como produto inteiro, como campeonato.
Atualmente, há pouquíssimo
interesse nos jogos do Brasil porque são de baixo nível técnico.
Aí, sim, haveria novo salto de
receita.
De todo esse roteiro, o primeiro
passo é que os clubes equilibrem suas finanças.
Sem isso, não será possível dar
nenhum dos passos seguintes.
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