Imagem: Autor Desconhecido
Ameaça da TV aos Estaduais só reflete desinteresse do público
Por Rodrigo Mattos, do UOL Esporte
Os Estaduais começam em 2019 com
seu tamanho e modelo sob questionamento pela intenção velada da Globo de rever
o calendário do futebol brasileiro no futuro.
A atitude da emissora nada mais é
do que o reflexo empresarial de um desinteresse do público por boa parte das
competições regionais.
Tradução: os campeonatos atuais
perderam boa parte do seu significado esportivo e, por consequência, o
econômico.
Alguém vai bater no peito e
argumentar que ''haverá finais com casa cheia e olha como os Estaduais estão
vivos''.
Sim, porque a rivalidade entre os
times nacionais vai bem obrigado e proporciona esses confrontos.
Mas são quantos jogos assim em
três meses de Estaduais?
Não é à toa que o público abandona
o pay-per-view durante o período.
Para fazer sentido esportivo e
econômico, campeonatos de futebol têm que ser atrativos na maior parte de seus
jogos.
Como ocorre com o Brasileiro, com
a Libertadores, com a Copa do Brasil.
Haverá um ou outro jogo morto
ali, mas, na maioria deles, há bastante coisa em disputa.
Faz sentido botar o Palmeiras com
seus R$ 600 milhões de receita para enfrentar um sem número de times pequenos?
Qual é a evolução técnica que
isso proporciona para o time de Felipão?
Qual é a vantagem econômica visto
que tira datas de campeonatos que só crescem em valor como Brasileiro e
Libertadores?
Precisamos encarar a realidade de
que os Estaduais roubam de nossos clubes grandes tempo (datas) e dinheiro.
Esses dois elementos são
imprescindíveis para que os nossos grandes clubes se fortaleçam e consigam
minimamente disputar com europeus, seja dentro de campo, seja nas cabeças das
crianças que vão formar o público do futebol.
Enquanto nossos melhores
jogadores enfrentam adversários muito inferiores em campos esburacados, Messi
desfila na Liga dos Campeões e no Espanhol na TV.
Enquanto nossos jogadores têm
menos de 20 dias de pré-temporada para estrear no Estadual, Guardiola arma seu
City para exibir um dos times com futebol coletivo mais convincente do mundo.
''Ah, mas vamos matar os times pequenos que formam a base da formação
de jogadores.''
Como estruturas profissionais,
esses clubes já estão morrendo.
Eram 700 e tantos no Brasil, já
caíram para 600.
Outros devem sumir.
Nenhuma migalha de cota de
Estadual em três meses vai salva-los.
O que pode, sim, salva-los é
criar uma estrutura paralela ao funcionamento dos grandes clubes para que
continuem a existir.
Pode ser com campeonatos
regionais semiamadores na maior parte do ano com direito a classificar a fases
reduzidas finais de Estaduais – sim, eles poderiam sobreviver com seis, oito
datas, um mês no máximo, como um início de temporada.
E pode ser com um projeto de
financiamento feito pela própria CBF onde sobra dinheiro no caixa e os
incentivos para o futebol nacional são bem reduzidos proporcionalmente ao que
arrecada com ele.
Mesmo o Brasileiro, transformado
em liga, poderia gerar dinheiro para bancar campeonatos amadores pelo país.
Ou pode ser com a destinação de
dinheiro direto para formação de atletas pelo país em centros bancados pela
CBF.
O que não dá mais é para os
Estaduais funcionarem como âncora para a elite do futebol nacional.
É preciso que se ponha em
primeiro lugar o Brasileiro de dez meses, a Libertadores, a Sul-Americana e a
Copa do Brasil.
Ou então vamos nos conformar com
o baixo nível técnico e sermos párias de um futebol mundial pujante que se
apresenta pelo mundo.
Seria como insistir na máquina de
escrever por um apego emocional quando seu concorrente trabalha com poderosos
processadores.
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