Imagem: Autor Desconhecido
Política (não) se mistura com futebol
Henrikh Mkhitaryan provavelmente não disputará a final da Europa League
por ser armênio e o jogo acontecer em Baku, capital do Azerbaijão, país que
rompeu relações diplomáticas com a Armênia.
Parece noticiário político, mas é o caderno de esportes.
Por Pedro Henrique Brandão Lopes do Universidade do Esporte
“Quem diz que futebol e política não se misturam, ou não sabe de nada
ou sabe demais”.
A frase do historiador uruguaio
Gerardo Caetano é um potente contragolpe ao pensamento dos seguidores de Tiago
Leifert que defendem o absurdo de que futebol e política são campos
completamente afastados e que nada têm em comum nem devam ser misturados.
Sempre que algum caso evidencia a
relação, não apenas próxima, mas insolúvel entre esporte e política, a frase de
Gerardo Caetano cai como uma luva para que se defenda o óbvio: o esporte, mas
principalmente, o futebol como expressão popular e meio de relação social é
parte integrante do cotidiano do indivíduo em sociedade e pode mediar,
influenciar ou mesmo ser influenciado por ações políticas.
O caso de Mkhitaryan não deixa
dúvidas sobre a relação direta e estreita que futebol e política mantêm desde
sempre.
Hoje jogador do Arsenal, o meia
armênio começou sua carreira no futebol na base do São Paulo.
Sua família se mudou para o
Brasil depois que estourou a Guerra de Nagorno-Qarabag, um conflito armado
entre Armênia e Azerbaijão pelo domínio do território.
A guerra durou de 1988 a 1994,
quando as relações diplomáticas entre os dois países foram rompidas.
Desde então as fronteiras foram
fechadas e nenhum cidadão armênio entra em território azeri, nem um azeri vai à
Armênia.
O conflito, porém, mudou a trajetória
de Mkhitaryan na época em que fugindo da guerra com sua família chegou ao
Brasil e passou pelas categorias de base do São Paulo dando seguimento ao sonho
de ser jogador de futebol.
Em 2016, Mkhitaryan já era um
jogador de renome quando um novo conflito eclodiu entre os dois países.
Dessa vez o conflito ficou
conhecido como “A Guerra dos Quatro Dias” e aparentemente não causou grandes
transtornos na vida do jogador que a essa altura atuava na Inglaterra.
Porém o conflito de 2016 piorou a
já conturbada relação entre Armênia e Azerbaijão e a guerra mudaria outra vez a
vida de Mkhitaryan.
Atualmente o jogador faz parte do
elenco do Arsenal que fará a decisão da Europa League contra o Chelsea.
Pelo sistema de final única
utilizado pela UEFA e consagrado pela mídia como o melhor modelo comercial para
o que costumam chamar de produto, a final da Europa League 18/19 está marcada
para Baku, capital do Azerbaijão e lugar proibido aos armênios.
Mkhitaryan é uma das maiores
celebridades armênias e carrega a imagem do país pelo mundo, ou seja, não seria
nada interessante para o governo azeri ter o garoto propaganda armênio em seu
território posando com um troféu de campeão da Europa numa hipotética vitória
do Arsenal.
De acordo com o jornal inglês
Daily Mail, nem o próprio Arsenal deve encorajar o jogador a pedir uma
autorização ao governo azeri para entrar no país, por considerar um risco a ida
de Mkhitaryan ao Azerbaijão considerando o contexto político existente.
A guerra que viabilizou o sonho
do jovem armênio há tantos anos, agora cobra a fatura e provavelmente tirará
Mkhitaryan de uma decisão importantíssima no próximo dia 29.
O motivo não tem nada a ver com
critérios esportivos, mas é sim totalmente político e sem que se possa fazer
algo para mudar, porque futebol vai muito além do campo, é mais que um esporte.
É uma expressão cultural com
todas as nuances que implicam na vida de uma sociedade e negar isso pressupõe
ignorância ou desonestidade.
Realmente futebol e política não
se misturam, na verdade eles nunca se separam.
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