domingo, maio 12, 2019

Política (não) se mistura com futebol...

Imagem: Autor Desconhecido

Política (não) se mistura com futebol

Henrikh Mkhitaryan provavelmente não disputará a final da Europa League por ser armênio e o jogo acontecer em Baku, capital do Azerbaijão, país que rompeu relações diplomáticas com a Armênia.

Parece noticiário político, mas é o caderno de esportes.

Por Pedro Henrique Brandão Lopes do Universidade do Esporte

“Quem diz que futebol e política não se misturam, ou não sabe de nada ou sabe demais”.

A frase do historiador uruguaio Gerardo Caetano é um potente contragolpe ao pensamento dos seguidores de Tiago Leifert que defendem o absurdo de que futebol e política são campos completamente afastados e que nada têm em comum nem devam ser misturados.

Sempre que algum caso evidencia a relação, não apenas próxima, mas insolúvel entre esporte e política, a frase de Gerardo Caetano cai como uma luva para que se defenda o óbvio: o esporte, mas principalmente, o futebol como expressão popular e meio de relação social é parte integrante do cotidiano do indivíduo em sociedade e pode mediar, influenciar ou mesmo ser influenciado por ações políticas.

O caso de Mkhitaryan não deixa dúvidas sobre a relação direta e estreita que futebol e política mantêm desde sempre.

Hoje jogador do Arsenal, o meia armênio começou sua carreira no futebol na base do São Paulo.

Sua família se mudou para o Brasil depois que estourou a Guerra de Nagorno-Qarabag, um conflito armado entre Armênia e Azerbaijão pelo domínio do território.

A guerra durou de 1988 a 1994, quando as relações diplomáticas entre os dois países foram rompidas.

Desde então as fronteiras foram fechadas e nenhum cidadão armênio entra em território azeri, nem um azeri vai à Armênia.

O conflito, porém, mudou a trajetória de Mkhitaryan na época em que fugindo da guerra com sua família chegou ao Brasil e passou pelas categorias de base do São Paulo dando seguimento ao sonho de ser jogador de futebol.

Em 2016, Mkhitaryan já era um jogador de renome quando um novo conflito eclodiu entre os dois países.

Dessa vez o conflito ficou conhecido como “A Guerra dos Quatro Dias” e aparentemente não causou grandes transtornos na vida do jogador que a essa altura atuava na Inglaterra.

Porém o conflito de 2016 piorou a já conturbada relação entre Armênia e Azerbaijão e a guerra mudaria outra vez a vida de Mkhitaryan.

Atualmente o jogador faz parte do elenco do Arsenal que fará a decisão da Europa League contra o Chelsea.

Pelo sistema de final única utilizado pela UEFA e consagrado pela mídia como o melhor modelo comercial para o que costumam chamar de produto, a final da Europa League 18/19 está marcada para Baku, capital do Azerbaijão e lugar proibido aos armênios.

Mkhitaryan é uma das maiores celebridades armênias e carrega a imagem do país pelo mundo, ou seja, não seria nada interessante para o governo azeri ter o garoto propaganda armênio em seu território posando com um troféu de campeão da Europa numa hipotética vitória do Arsenal.

De acordo com o jornal inglês Daily Mail, nem o próprio Arsenal deve encorajar o jogador a pedir uma autorização ao governo azeri para entrar no país, por considerar um risco a ida de Mkhitaryan ao Azerbaijão considerando o contexto político existente.

A guerra que viabilizou o sonho do jovem armênio há tantos anos, agora cobra a fatura e provavelmente tirará Mkhitaryan de uma decisão importantíssima no próximo dia 29.

O motivo não tem nada a ver com critérios esportivos, mas é sim totalmente político e sem que se possa fazer algo para mudar, porque futebol vai muito além do campo, é mais que um esporte.

É uma expressão cultural com todas as nuances que implicam na vida de uma sociedade e negar isso pressupõe ignorância ou desonestidade.

Realmente futebol e política não se misturam, na verdade eles nunca se separam.

Nenhum comentário: