Opinião: Transformamos o Brasileirão em Brasileirinho
CBF, clubes e mídia fizeram questão de esconder do torcedor a conquista
do torneio pelo Atlético-MG
Erich Beting para o Máquina do Esporte
O Atlético-MG foi campeão brasileiro na última quinta-feira (2), após 50
anos de espera, em um jogo que alcançou uma das mais expressivas audiências
recentes do futebol.
Mas apenas os torcedores de Minas Gerais puderam acompanhar, ao vivo e na
TV aberta, a eletrizante virada atleticana sobre o Bahia que sacramentou a
conquista do título nacional.
O Galo ganhou.
Mas pouca gente em todo o Brasil teve a oportunidade de ver o feito
atleticano.
Um jogo que deveria estar disponível para quem gosta de futebol ficou
perdido em uma quinta-feira, às 18h, na televisão aberta para Minas Gerais e no
PPV para o restante do país.
Sim, há dois anos o Flamengo foi campeão sem nem precisar entrar em
campo, mas de qualquer forma o jogo em que o Palmeiras perdeu o título foi
exibido nacionalmente pela TV aberta, em uma tarde de domingo, para deleite do
rubro-negro que havia conquistado a América um dia antes e fazia festa pelas
ruas do Rio de Janeiro.
O que torna ainda mais bizarro o feito que conseguiram protagonizar a
Confederação Brasileira de Futebol (CBF), os clubes e as emissoras detentoras
dos direitos de transmissão do Brasileirão.
Não podemos apontar o dedo para um só nessa responsabilidade múltipla que
fez com que o Brasileirão se transformasse em Brasileirinho naquela que tem
tudo para ser uma das mais belas histórias de conquista nesta era do torneio em
pontos corridos.
Não por acaso, o atleticano festejou até o dia seguinte nas ruas de Belo
Horizonte.
Só que o amante de futebol e de boas histórias praticamente ficou alijado
de acompanhar tudo isso.
A não ser quem se dispôs a pagar, além da mensalidade da internet e da TV
a cabo, outros R$ 50 por mês, pelo menos, para ter o pay-per-view do
Brasileirão.
O dirigente esportivo brasileiro tem a obrigação de entender que isso não
é fruto de uma infeliz coincidência.
A tabela do campeonato precisa ser pensada e formatada de um jeito que os
grandes jogos decisivos estejam disponíveis para o maior número possível de
pessoas.
Por mais que se critique a final única da Libertadores, o fato de ter um
jogo decisivo com dia e local predefinidos movimenta a mídia, os patrocinadores
e os torcedores para o evento.
O Brasileirão tem o benefício de poder fazer isso a cada rodada.
Mas desde que o produto seja bem pensado e bem trabalhado.
É inadmissível que a partida que pode definir o campeonato fique
“largada” no meio de semana, sem ser dado o tratamento que merece a decisão do
título.
Se o futebol brasileiro seguir com a mentalidade de regionalizar a
transmissão de seus jogos, ficará cada vez mais fadado a reduzir o tamanho de
seu campeonato.
Não é difícil olhar o modelo.
Há 70 anos, antes mesmo de o Brasileirão
ter sido inventado e formatado, os americanos já organizavam seus campeonatos
pensando em produtos para a mídia divulgar ao máximo a competição.
Por mais que em um torneio por pontos corridos exista a “imprevisibilidade”
de se saber em qual rodada o título vai sair, é minimamente calculável quando
essa conquista virá.
Não podemos esconder o futebol de quem não é fanático.
Do contrário, vamos reduzir cada vez mais o público que está disposto a
consumi-lo.
Numa das mais lindas histórias de título que tivemos recentemente, o
Brasileirão virou Brasileirinho.
Graças à incompetência do futebol brasileiro de valorizar o que ele tem de bom.
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