A situação de Brittney Griner é
cada vez mais preocupante, uma vez que foi transferida para uma das piores
cadeias da Rússia e os esforços dos Estados Unidos para libertar a jogadora,
uma das melhores do país, têm tido sucesso...
De acordo com o jornal 'As', foi
oferecida ao Governo russo uma troca de prisioneiros, mas a proposta não foi
aceita.
Condenada a 9 anos de prisão após
ter sido detida a 17 de fevereiro no aeroporto de Moscou por posse de droga -
foram encontrados na sua bagagem cartuchos com óleo de canabis, um produto
ilegal na Rússia, que a jogadora alegou usar com fins medicinais -, Griner foi
levada para uma colônia penal a cerca de 500 quilômetros da capital...
Os Estados Unidos temem pela sua
integridade física, pois, a jogadora está numa prisão terrível, uma das mais
duras do sistema prisional russo.
Olga Zeveleva, socióloga da
universidade de Helsínqui, especialista em condições de vida nas prisões
russas, tendo feito parte do projeto 'Ecos do Gulag', contou ao jornal 'The
Guardian' que as prisões da República da Mordóvia, onde se encontra a
norte-americana, são “reconhecidamente terríveis”...
“Sabe-se que ali há regimes muito
duros e violações graves dos direitos humanos. É o lugar que qualquer preso
quer evitar”, explicou, referindo-se à colônia penal IK-2, onde se encontra
Brittney Griner.
Herança de Stalin
Localizada numa zona desabitada,
a quase 500 quilómetros de Moscou, a prisão foi construída nos anos 30 como
parte do sistema gulag de Stalin e forma um dos maiores complexos
penitenciários da Europa...
Judith Pallot, professora em
Oxford, visitou o centro em 2017: “Quando você é como se entrasse numa
sociedade diferente. Parece que o tempo parou 50 anos”, explicou também ao
'The Guardian'.
Pallot acredita que a jogadora
norte-americana deve estar compartilhando uma cela com umas cem mulheres, num
espaço reduzido...
“As prisioneiras não têm
nenhuma privacidade. Não se pode ter objetos pessoais, como fotografias. Tudo é
estéril e triste.”
As prisioneiras que ali chegam,
passam duas semanas em quarentena, para controle de doenças infecciosas...
Entregam as suas roupas e recebem
um uniforme e um lenço para cobrirem a cabeça, que têm de usar sempre.
Tudo está escrito em russo e
ninguém fala outra língua...
O dia começa às 6 da manhã, com
exercícios de grupo.
Depois seguem-se umas 12 horas de
trabalho, basicamente de costura de uniformes do serviço penitenciário ou da
força área russa...
Observadores internacionais
denunciam há anos graves violações dos direitos humanos, como tortura e abusos
sexuais nas prisões russas masculinas.
E embora nas femininas o nível de
violência não seja tão elevado, há bullying entre reclusas e violência por
parte das guardas...
Não há qualquer supervisão
noturna e, segundo Pallot, o sistema não se foca na reabilitação, mas sim no
castigo.
"Atmosfera de ansiedade e
ameaça"
Nadezhda Tolokonnikova, que em
2013 fez parte da banda 'Pussy Riot' e que ali esteve detida durante dois anos,
fez greve de forme, por causa da situação em que se encontrava...
Tolokonnikova denunciou jornadas
de 17 horas de trabalho, bem como uma “atmosfera de ansiedade e ameaça”.
“Há privação permanente do
sono, pressão para cumprir quotas de trabalho impossíveis, reclusas a ponto de
desabar emocionalmente por completo, a gritar constantemente, sem parar, ou
lutando por coisas mínimas”, explicou Tolokonnikova, em declarações à
televisão norte-americana NBC.
“Mandaram a Griner para a pior
prisão de toda a Rússia. Ali trabalha-se 16 horas por dia costurando e preparando
uniformes. Há lesões porque o material e a maquinaria estão em más condições.
São normais os espancamentos e as torturas, quase não há assistência médica. Se
não estiverem a trabalhar nos uniformes as prisioneiras têm de fazer trabalhos
físicos muito duros, como cavar valas ou partir blocos de gelo. Se alguém se
negar, vai para uma cela de castigo, um espaço mínimo e gélido. Os barracões
têm entre três e cinco banheiros para 100 ocupantes. Não há água quente... São
lugares que não mudaram desde o tempo dos gulags. As condições são de
escravatura. Algumas decidem suicidar-se, o que nem sequer é fácil num lugar
destes”, acrescentou.
Uma ex-prisioneira, que quis
manter o anonimato, contou, por sua vez ao 'Daily Mail' que a basquetebolista norte-americana
corre perigo de vida: “Vão seguramente atacá-la durante o banho, será
assaltada... O governo russo há muito que ensina ao seu povo que os
norte-americanos são o inimigo da humanidade...”