Devo confessar que sempre tive um olhar especial em relação à pequenina, mas brava Republica Oriental del Uruguay...
Seu território originalmente ocupado por portugueses cuja base partia da Colônia do Sacramento, na margem oposta Buenos Aires do Rio da Prata e pelos espanhóis, que fundaram Montevidéu, acabou sendo anexado ao recém-independente Império do Brasil...
Porém, a Província Austral, como era chamada pelos argentinos ou Província Cisplatina, como era conhecida pelos brasileiros, não se deixou subjugar e, sob a inspiração do General José Gervasio Artigas, acabou conquistando sua independência.
“Espremido” entre os dois gigantes do continente, o Uruguai sempre foi uma nação altiva e chegou a dar lições aos vizinhos...
O país foi o primeiro a reconhecer o direito ao aborto e um dos primeiros a estabelecer o voto feminino...
No final do século XIX, sua democracia estava consolidada e os níveis de bem estar social era comparado as mais desenvolvidas nações da Europa.
Nos anos 60, o Uruguai, mantinha ainda, altos índices sociais, sua estabilidade politica fazia inveja aos vizinhos e seu perfil de nação desenvolvida lhe conferiu o “título” de a “Suíça” sul-americana.
Infelizmente, na década de setenta a economia do país, baseada na agricultura, não resistiu à crise econômica e o resultado foi o golpe militar...
Foram 12 anos sob a batuta dos militares (1973 a 1985) e, mesmo com a volta dos civis ao poder, as sequelas da crise dos anos setenta e do período autoritário permaneceram...
Entretanto, hoje, o Uruguai é um dos países economicamente mais desenvolvidos do continente, o nível de educação de seus trabalhadores é junto como o Chile, o mais alto da América do Sul e também junto como o Chile, é considerado o país com o menor nível de corrupção do continente.
No futebol, a pequena nação de 3.399.273 habitantes (estimativa de 2007), também soube impor e se fez respeitar...
Foram os uruguaios que protagonizaram o primeiro amistoso internacional fora das ilhas britânicas, ao enfrentarem a Argentina em 1901...
Queiramos ou não, foram os uruguaios que colocaram a América do Sul no mapa do futebol mundial ao vencerem os Jogos Olímpicos de 1924 e repetirem o feito em 1928...
Por 76 anos, os uruguaios ostentaram solitários, os títulos olímpicos...
Somente em 2004, em Atenas, a Argentina voltou a colocar a América do Sul no ponto mais alto do pódio olímpico, feito, que repetiu em 2008 nas Olímpiadas de Pequim.
Nós brasileiros, temos nos argentinos os nossos maiores rivais futebolísticos, mas foram os uruguaios que nos colocaram o mais amargo gosto na boca...
Foi a celeste que calou literalmente, 200 mil brasileiros no Maracanã e fez chorar os outros tantos fora do estádio...
1950, nunca será esquecido.
Para os que irão argumentar que de lá para cá, o Uruguai não venceu mais nada, respondo:
Para uma nação de menos de 4 milhões de habitantes, os feitos do Uruguai no futebol, são imensos...
Para uma nação com tão poucos habitantes, o número de grandes jogadores revelados, são impressionantes e, para um país cuja economia se baseia na agricultura, os 19 títulos internacionais conquistados por sua seleção e os outros tantos, conquistados por Peñarol e Nacional, não podem ser desmerecidos.
Gosto do azul celeste de sua camisa, gosto dos calções e das meias negras, gosto de relembrar os brilhantes Mazurkiewicz e Rodolfo Rodrigues no gol uruguaio...
Gosto de lembrar, Pedro Rocha, Pablo Forlan, Hugo de León, Dario Pereyra, Ancheta e Francescoli e, acima de tudo, me recordo da frase de meu pai, presente ao Maracanã em 1950:
“Vamos passar o resto das nossas vidas a procurar desculpas para a derrota na final do mundial, mas nenhuma delas vai apagar a verdade: Obdulio Varela, Schiaffino, Ghiggia e Máspoli não eram pernas de pau a morrer de medo da nossa seleção; eram grandes jogadores que naquele dia teriam vencido qualquer um em qualquer lugar”.
Ontem, na África do Sul, a celeste que lá chegou desacreditada, passou pelo México e chegou às oitavas de final do mundial...
Não foi um jogo brilhante, mas foi o jogo necessário...
Foi uma partida tipicamente uruguaia: cheia de garra, de vontade e de determinação...
Foi valentia pura e quem os conhece, sabe do que estou falando.
Agora, veremos até onde irão, mas se não forem muito mais além, ainda sim, terão ido bem mais longe...
Pois deles poucos esperavam tanto.
Um comentário:
Texto muito bacana, Fernando. Muita festa em Montevideo e todos satisfeitos com a nova geração Celeste, sem estrelismos e jogando "operariamente". Agora "que vengan los coreanos". Abraços
Dionisio Outeda
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