Sócio Torcedor: Dois mais dois são quatro?

Por Breno Tavares Nunes

Precisamente em 13 de julho de 2010, a diretoria do ABC apresentava à torcida do clube e à imprensa uma pioneira ação de Marketing, o Plano Sócio torcedor Mais Querido. Uma iniciativa louvável, que certamente seria o catalisador do processo de profissionalização do futebol no estado.

Nos meses que se seguiram, o Sócio Mais Querido cresceu rápido, dia após dia, e, sistematicamente, foi alcançando números expressivos de sócios, até atingir a marca de 10 mil, precisamente um ano após o seu lançamento, conforme evolução cronológica abaixo:

13/07/2010 – 1
04/09/2010 – 3 mil
12/12/2010 – 7,5 mil
27/02/2011 – 8 mil
14/07/2011 – 10 mil

Nesse curto espaço de tempo, o ABC foi bicampeão estadual, vice da Copa do Nordeste e campeão do Campeonato Brasileiro Série C. 

Os títulos ajudaram a ação do marketing abcdista a se tornar modelo para outros times. 

Tudo muito bonito e digno de reverência.

Acontece que, a reboque da natural euforia instalada entre torcedores e mídia esportiva local, o ABC iniciou a disputa da Série B, em 20/05, com o firme propósito de conseguir o acesso à elite do futebol nacional, a primeira divisão – no que está muito correto. 

Entretanto, mesmo estando fazendo um bom início de campeonato, figurando constantemente entre os times que brigam pelas quatro vagas à Séria A, no jogo em que o Mais Querido conseguiu seu maior público pagante na competição (1x0 contra o Náutico, em 25/06), dentre os sete que já realizou, abaixo listados, “apenas” 7.809 torcedores compareceram ao Frasqueirão, um estádio com capacidade para receber 18 mil pessoas:  

ABC 1x1 Salgueiro - Público: 6.197
ABC 2x0 Goiás - Público: 3.838;
ABC 1x0 Náutico - Público: 7.809;
ABC 1x1 Criciúma - Público: 5.356;
ABC 3x0 Duque de Caxias - Público: 5.275;
ABC 2x2 São Caetano - Público: 5.602;
ABC 1x1 Icasa - Público: 5.868;

Somando esses números, cerca de 40 mil espectadores já estiveram no estádio Maria Lamas Farache, o que dá uma média de 5.706 torcedores pagantes por jogo, na Série B deste ano. 

Algo que causa estranheza, e por uma razão muito simples, matemática: no dia em que fez seu primeiro jogo em casa pela competição, em 28/05, o ABC já tinha em torno de nove mil sócios, como consta na listagem aqui já citada, e ainda assim, o público pagante daquele jogo foi de 6.197 pessoas. 

Ora, se apenas os sócios eram nove mil, somando essa quantidade à parcela de torcedores que não é sócia, mas que vai ao campo a cada jogo, o público de ABC x Salgueiro deveria ter sido de, no mínimo, nove mil espectadores, que é a mesma quantidade de sócios – sendo benevolente.

A título de comparação, segundo o pesquisador Marcos Trindade, na Série C 2010 a média de público do alvinegro foi de 9.106 torcedores, e o recorde de média de público do clube na Era Frasqueirão é de 9.207, verificado na Série C 2007, quando ele não contava com o sócio torcedor, como hoje - é difícil imaginar que os médios nove mil torcedores de 2010 sejam exatamente os 10 mil que se tornaram sócios, com algum acréscimo, até esta data.

Como, então, um time que tem mais de 10 mil sócios ostenta uma média de público de 5.706 torcedores?

Acaso os sócios-torcedores não estão indo ao Frasqueirão em dia de jogo? 

Estaria mais de metade dos financiadores do clube abrindo mão de um direito que lhes custa caro? 

Sim, porque, como já ressaltado, não estamos considerando o contingente de pessoas que vão ao estádio sem serem sócios. 

Contando com contingente, a média aproximada de público do time deveria ser igual, hoje, a um número da ordem de, pelo menos, 11 mil pessoas por jogo - mais que o dobro do número verificado atualmente. 

Não é o que acontece.

Das duas uma: ou o ABC não tem o número de sócios adimplentes que diz ter ou há algo estranho acontecendo na contagem do time. 

Como dizem que jornalista não é bom de cálculo, não sei se dois mais dois são quatro...