A morte é ciosa de sua missão...
Não descansa jamais, não se
omite, não negocia e não faz escolhas...
Para ela, tanto faz se é jovem,
velho, bom ou mau...
É fria, profissional e não se
comove diante do desespero de quem veio buscar e nem do sofrimento dos que
ficam.
Silenciosa, cumpre seu papel.
No sábado, a senhora da noite
eterna levou pelas mãos Ernani da Silveira e no início da tarde de domingo,
Francisco das Neves Macedo.
Ainda comovido com a fim da vida
do Dr. Ernani da Silveira, recebi o impacto da notícia do falecimento de
Macedo.
O velho Macedo...
Poucos sabem, mas Macedo foi uma
das primeiras pessoas que conheci depois que cheguei a Natal...
Não lembro exatamente o dia ou do
mês, mas me recordo que foi uma tarde ensolarada em sua loja de material
escolar no Alecrim...
Ali começamos uma amizade que se
não foi intima, foi cordial e respeitosa...
Repleta de alegria em todas as
vezes que nos encontramos.
Poeta e torcedor apaixonado pelo
Alecrim, Macedo era um homem bom...
Ainda não sei o que pensar, nem
tão pouco me sinto com vontade de escrever...
No entanto, faço questão de
deixar aqui registrado um fato que ratifica a grandeza de Macedo...
Um dia, estivemos em campos
opostos...
Macedo de um lado e eu de
outro...
Escrevi um texto onde criticava
sua posição e mostrava meu descontentamento...
Macedo, o leu...
O tempo passou e um dia nos
encontramos...
Quando o vi, esperei ser ignorado
ou então parado para uma dura conversa.
Engano meu...
Ele abriu um grande sorriso, veio
em minha direção e disse:
- “Li seu texto Amaral”...
- “Muito bom, gostei”...
- “Mas, você assim como todo
mundo, escreveu sem pensar nos meus motivos e nas minhas razões”...
- “Escreveu o que seu coração
pedia e sequer quis saber o que sentia o meu coração”...
Fiquei em silencio, não por me
arrepender do que havia escrito, mas impactado pela grandeza e nobreza do velho
Macedo...
Antes de ir, ele me deu um abraço
caloroso e sincero e arrematou:
- “Precisamos nos ver, mais...
gosto muito de você”!
Agora, ao escrever essas
palavras, meus olhos molhados e meu coração apertado me dizem que a reciproca
era imensamente verdadeira...
Macedo, eu também gostava muito
de você!
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