Macumbão Alemão...
Por Alex Antunes
A teoria do “apagão de seis
minutos”, convenientemente abraçada por Felipão para explicar a derrota de 7 a
1 do Brasil para a Alemanha, que selou o destino pífio do país na copa, foi
muito atacada.
É óbvio que o tal apagão não foi
só um momento de vertigem; ele veio de longe, convergindo os erros e a
arrogância de muitas pessoas e instituições.
E seria perfeitamente “alemão” se
recusar a aceitar formulações esotéricas como essa, para se concentrar, mais
disciplinadamente, nas discussões a respeito de planejamento.
O que deveria ter sido e não foi,
e o que poderá ser a partir de agora.
Mas quem viu o jogo sabe que
aqueles quatro gols em sequência vertiginosa podem, sim, serem atribuídos ao
Sobrenatural de Almeida (nome cunhado por Nelson Rodrigues para brincar com o
inexplicável no futebol).
Ou a um bug na matrix.
A matrix no caso era a
convergência de interesses do governo federal, da Globo, da CBF e de bandidos
vip de diversas extrações, interessados não no “Brasil vencedor”, mas nas
possibilidades de lucro material, político e de influência trazidas pela
manipulação das narrativas apaixonadas.
Não adianta supor que agora
viraremos uma Alemanha, ou que implantaremos um “positivismo” tardio (segundo o
qual faltou “ordem e progresso” no futebol brasileiro), para usar os termos de
Marcos Augusto Gonçalves, num artigo seu publicado na Folha de São Paulo.
Muito apropriadamente, MAG
pergunta não o que deu errado agora, mas o que dava certo antes: como foi possível
que o futebol do Brasil, país caótico, truqueiro, oportunista e autoritário
desde sempre, tenha vencido cinco copas, em condições organizativas, políticas
e sociais em geral não melhores que as atuais.
Como notou Eliane Brum em outro
texto bacana, na dificuldade de compreender o que ocorre, é tendência na
discussão esportiva “buscar nos cronistas do passado, em especial em Nelson
Rodrigues, a interpretação do futebol e das brasilidades”.
O que ninguém está lembrando é o
quanto, nesta copa, a seleção da Alemanha é que foi brasileira, e não o
contrário.
Desde a escolha da concentração
na Bahia (no próprio litoral em que o país teve origem), a benção dos índios
locais, o enterro das sete moedas na Fonte Nova (pagando o dono da casa antes
de estrear), toda a troca psíquica com os brasileiros, até a dancinha
“indígena” de agradecimento no Maracanã.
Foi a Alemanha que, além de seus
traços usuais de disciplina, protagonizou o maior macumbão.
Entre os procedimentos adotados
no trabalho de base, em mais de uma década de preparação, está o cuidado
multirracial, criando acessos para filhos de imigrantes estrangeiros.
Não consigo imaginar nada menos
nazista.
Na seleção alemã, Ozil é de
origem turca, a de Khedira é tunisiana, a de Boateng ganesa.
Klose e Podolski nasceram na
Polônia, e Mustafi é kosovar.
No Brasil é exatamente o
contrário.
Nossos jogadores, frequentemente
de origem humilde, encaram o futebol exclusivamente como veículo de ascensão
social.
Passam a acreditar em
agenciamento e em marketing, na linguagem branca, corruptora.
Nosso caldeirão natural é
pasteurizado, desperdiçado.
São manipulados por figuras como
Gilmar Rinaldi, o novo coordenador de seleções da CBF.
Com Gilmar, não só botaram a
raposa para tomar conta do galinheiro, como depois que deu m* chamaram outra
raposa para criticar e substituir a primeira.
Como disse Romário no twitter e
no Facebook, “o cara é empresário de vários jogadores.
Só os ratos do Marin e Del Nero
para escolherem uma pessoa como essa.
Para piorar, ele ainda é agente
Fifa.
Vai fazer da CBF um banco de
negócios para defender os seus interesses".
Em resposta ao neomacumbão
alemão, tudo o que as instituições brasileiras sabem fazem é cultivar seu
nazismo moreno.
Por falar em positivismo, o lema
positivista que influenciou a bandeira brasileira era “Amor, ordem e progresso:
o amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim”.
De cara, já tiraram o amor, o
fator principal (de princípio, e de principismo) da equação.
Era esse o macumbão positivista;
sem todos os ingredientes ele simplesmente não funciona.
Porque propõe uma ordem sem conteúdo,
um progresso à força, uma Ferrari sem combustível.
E assim vamos embranquecendo
tanto que nem o futebol aguenta mais.
Podemos aguardar os próximos
apagões, os próximos bugs na matrix.
Nas eleições periga ter outro.
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