Carta aberta para Bethe Correa.
Por Alexandre Erhardt.
Acho engraçado alguém escrever
contra um atleta e criticar a sua performance como algo ridículo, sendo que na
maioria das vezes os críticos nunca praticaram tal modalidade ou quando sim, o
fazem de forma amadora.
Ridicularizar um atleta após uma
derrota e criticar o desempenho deste, é algo típico de quem desconhece o que é
um esporte de alto rendimento.
Em se tratando de um esporte como
o MMA, que engloba valências distintas e inúmeras possibilidades, onde terminar
um combate em 30 segundos ou permanecer até o último round, não pode ser
analisado de forma tão simplória, principalmente quando se enfrenta um oponente
de altíssimo nível.
Bethe você é uma vencedora, pois
ser um atleta profissional é ser diferente de tudo que há...
Não é o mesmo que ir a uma academia
ou treinar sem compromisso em um local determinado.
Ser atleta é se submeter a uma
vida espartana, é viver sob pressão, é suportar dores que chegam a doer na alma
e que fatalmente lhe acompanharão pelo resto da vida...
É treinar quando o corpo implora
por descanso, é ficar longe de amigos, familiares e de eventos sociais...
Ainda assim, mesmo passando por
isto tudo, nada garante o sucesso ao final.
Parabéns Bethe, não lhe conheço,
mas fui atleta, conheço gente de alto nível do seu meio e tive a honra de poder
estar ao lado de alguns e de treinar com eles.
Você como nordestina superou
muito para estar no topo...
Neste país vir do Nordeste é uma
condição que implica que para se vencer, o esforço deverá ser o dobro ou o
triplo da maioria...
Você é mulher, então seu esforço
para ser reconhecida foi ainda maior, principalmente no seio de uma sociedade
machista e debilitada como a nossa.
Eu que fui atleta do esporte tido
como mais popular do país, sofri...
Imagino o quanto você penou, ao
enveredar por um esporte individual, onde poucos são aqueles que estão ao seu
lado...
Onde os resultados são de sua
total responsabilidade.
Não existe um lateral direito
para culpar, um zagueiro para apontar ou um goleiro para sacrificar...
É você e só você.
Seu caminho foi o mais árduo, o
mais complexo, o mais difícil...
Afinal vivemos numa nação de
monocultura esportiva e, isso, por si só, já é um gigantesco obstáculo.
Por outro lado, existe o
“torcedor”...
Sim, este ser de dupla face, que
só torce pelo que ganha...
Que falso e oportunista, o
aplaude nas vitórias e lhe cospe nas derrotas...
Que desconsidera o todo e se
agarra à taça ou ao cinturão, no seu caso, conquistado.
Ridículos que desprezam o segundo
colocado, como se nada fosse...
Pobres tolos, que em suas vidas
comuns dariam tudo para ser o segundo em uma prova de mestrado, doutorado ou
concurso público...
Que se comportariam como pavões
em seus trabalhos comuns, caso seus chefes ou patrões os considerassem aptos e
prontos para substituir o primeiro.
Estar entre os melhores em um
esporte de alto rendimento é estar no Olimpo...
Mas, infelizmente, não se pode
exigir de simples mortais tão convictos de tantos lugares comuns, entender
sobre o Olimpo e sobre o esforço hercúleo que faz para alcançá-lo.
Não sou especialista em MMA, mas
de lutas sempre gostei...
Pratiquei boxe e treino outras
artes marciais...
Minha escolha profissional exige
e minha certeza de que nada sei, me impulsiona a humildemente me submeter ao
que mais sabem e com eles aprender.
Fui atleta profissional por 13
anos...
13 anos de sacrifício e dor...
Sofri derrotas humilhantes,
obtive vitórias gloriosas e, portanto, creio que sei alguma coisa, sobre esse
mundo, onde o ontem nada vale, a não ser para quem lá esteve.
Por fim, só me resta lamentar,
quando vejo a enorme quantidade de besteiras reverberadas pela multidão das
arquibancadas do Coliseu.
Parabéns Bethe Correa...
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