segunda-feira, agosto 03, 2015

Para Bethe Correa...

Carta aberta para Bethe Correa.

Por Alexandre Erhardt.

Acho engraçado alguém escrever contra um atleta e criticar a sua performance como algo ridículo, sendo que na maioria das vezes os críticos nunca praticaram tal modalidade ou quando sim, o fazem de forma amadora.

Ridicularizar um atleta após uma derrota e criticar o desempenho deste, é algo típico de quem desconhece o que é um esporte de alto rendimento.

Em se tratando de um esporte como o MMA, que engloba valências distintas e inúmeras possibilidades, onde terminar um combate em 30 segundos ou permanecer até o último round, não pode ser analisado de forma tão simplória, principalmente quando se enfrenta um oponente de altíssimo nível.

Bethe você é uma vencedora, pois ser um atleta profissional é ser diferente de tudo que há...

Não é o mesmo que ir a uma academia ou treinar sem compromisso em um local determinado.

Ser atleta é se submeter a uma vida espartana, é viver sob pressão, é suportar dores que chegam a doer na alma e que fatalmente lhe acompanharão pelo resto da vida...

É treinar quando o corpo implora por descanso, é ficar longe de amigos, familiares e de eventos sociais...

Ainda assim, mesmo passando por isto tudo, nada garante o sucesso ao final.

Parabéns Bethe, não lhe conheço, mas fui atleta, conheço gente de alto nível do seu meio e tive a honra de poder estar ao lado de alguns e de treinar com eles.

Você como nordestina superou muito para estar no topo...

Neste país vir do Nordeste é uma condição que implica que para se vencer, o esforço deverá ser o dobro ou o triplo da maioria...

Você é mulher, então seu esforço para ser reconhecida foi ainda maior, principalmente no seio de uma sociedade machista e debilitada como a nossa.

Eu que fui atleta do esporte tido como mais popular do país, sofri...

Imagino o quanto você penou, ao enveredar por um esporte individual, onde poucos são aqueles que estão ao seu lado...

Onde os resultados são de sua total responsabilidade.

Não existe um lateral direito para culpar, um zagueiro para apontar ou um goleiro para sacrificar...

É você e só você.

Seu caminho foi o mais árduo, o mais complexo, o mais difícil...

Afinal vivemos numa nação de monocultura esportiva e, isso, por si só, já é um gigantesco obstáculo.

Por outro lado, existe o “torcedor”...

Sim, este ser de dupla face, que só torce pelo que ganha...

Que falso e oportunista, o aplaude nas vitórias e lhe cospe nas derrotas...

Que desconsidera o todo e se agarra à taça ou ao cinturão, no seu caso, conquistado.

Ridículos que desprezam o segundo colocado, como se nada fosse...

Pobres tolos, que em suas vidas comuns dariam tudo para ser o segundo em uma prova de mestrado, doutorado ou concurso público...

Que se comportariam como pavões em seus trabalhos comuns, caso seus chefes ou patrões os considerassem aptos e prontos para substituir o primeiro.

Estar entre os melhores em um esporte de alto rendimento é estar no Olimpo...

Mas, infelizmente, não se pode exigir de simples mortais tão convictos de tantos lugares comuns, entender sobre o Olimpo e sobre o esforço hercúleo que faz para alcançá-lo.

Não sou especialista em MMA, mas de lutas sempre gostei...

Pratiquei boxe e treino outras artes marciais...

Minha escolha profissional exige e minha certeza de que nada sei, me impulsiona a humildemente me submeter ao que mais sabem e com eles aprender.

Fui atleta profissional por 13 anos...

13 anos de sacrifício e dor...

Sofri derrotas humilhantes, obtive vitórias gloriosas e, portanto, creio que sei alguma coisa, sobre esse mundo, onde o ontem nada vale, a não ser para quem lá esteve.

Por fim, só me resta lamentar, quando vejo a enorme quantidade de besteiras reverberadas pela multidão das arquibancadas do Coliseu.

Parabéns Bethe Correa...

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