Mediocridade F.C.
Por Luan Xavier
Para o Novo Jornal
Diz o ditado potiguar que Natal é
a cidade onde um camarada gasta 20 reais para evitar que seu vizinho ganhe 2.
Fato.
E o futebol da província segue à
risca esse mandamento.
Não importa quão mal vá seu time,
se o rival estiver meio cegueta, seu olho único lhe torna rei.
ABC e América, hoje, servem de
retrato perfeito para uma comprovação empírica dessa tese.
O Alvinegro começou o ano
alimentando a esperança de chegar à elite do futebol nacional.
No fantástico mundo do torcedor,
que tem lógica própria, diferente de tudo que há no planeta, o principal fator
para fomentar essa empreitada era o fato de o América estar um degrau abaixo,
na Série C.
Já os rubros quase conseguiram
fazer bem a lição e dar uma resposta à altura.
Enxugou as contas, ensaiou um
planejamento regular e começou a temporada dando resultados.
Campeão estadual, fazia o
torcedor acreditar que melhor era estar na terceira divisão vencendo a ficar na
Segundona apanhando de qualquer um que viesse por aqui.
Valeu a máxima enquanto havia
sol.
Eliminado no meio do caminho, o
Dragão deixou de cuspir fogo e tragou o goto seco de ter de passar mais uma temporada
– pelo menos – no andar de baixo.
Agora, vestindo camisa camuflada
e sentada na arquibancada da Arena da Mediocridade, a torcida rubra destina seu
tempo a torcer contra o rival.
A esperança é que, caindo o ABC,
o fracasso vermelho fique esquecido.
Ou, pelo menos, seja igualado.
Por via das dúvidas até já se
ensaiou um jogo de bastidor no meio da cartolagem.
Teve a velha reclamação contra
arbitragem, algumas denúncias de políticos pedindo favorecimento de resultados
por aí afora, dentre outros.
Pior é que do outro lado da
arquibancada o sentimento de conformismo já hasteia bandeira e silencia a
charanga.
Quem veste branco e preto já sabe
que, agora, cair já não é mais tão trágico como seria com o coirmão tendo
conseguido êxito em sua empreitada de subir.
É a máxima do pensamento mediano:
estou na lama, mas meu vizinho também.
Triste conformismo.
Chegar a esse estágio de
preocupação é, para mim, pior que um rebaixamento.
Aliás, já o é, pelo menos de
forma moral.
Entra e sai ano, ABC e América se
acostumaram a brigar por baixo.
Viraram celeiro de aproveitadores
e gestores de araque.
São clubes que parecem fadados -
e talvez até merecedores - de eternizar o velho dito popular natalense.
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