Aqueles partidários
Por Rafael Morais
Para Carta Potiguar
No futebol podemos controlar
tudo, menos os torcedores, aqueles partidários, movidos pela paixão, pelo
coração e pelo amor.
Os torcedores, aqueles que, na
imensa maioria das vezes, vêm apenas o que lhes é favorável.
Aqueles que não são simples
simpatizantes, mas sim seguidores que, em noventa minutos de jogo, são capazes
de transformar vizinhos, amigos e até mesmo parentes em inimigos mortais.
Os partidários do futebol, esses
mesmos seguidores, altamente críticos, exigentes e que não aceitam as derrotas
tão facilmente.
Escrevi sobre isso dias atrás.
E de fato, eles têm razão de ser.
Dia desses li que o nascimento de
um clube se dá a partir da união de sócios.
É assim que tudo começa ou foi
assim que começou no fim do século XIX e início do século passado.
Somos todos, associações
jurídicas e humanas.
E mais, o crescimento dos clubes
se dá em função de seus torcedores e sua capacidade de consumi-lo a qualquer
preço, a qualquer custo.
Quanto mais apaixonada,
fidelizada e grande é a torcida, mais forte é a agremiação, mas robusta é a
associação.
Sendo assim, os torcedores,
aqueles partidários-seguidores-críticos-exigentes, que não aceitam as derrotas
facilmente, desempenham, segundo o economista Cesar Grafietti, o papel de
acionistas.
Dentre as muitas definições para
acionista, temos a que diz que são detentores de bônus que gostariam de um
sólido desempenho da empresa e, portanto, uma redução do risco de perda.
O torcedor-acionista também quer
resultado.
Ele quer que cada centavo seu
gasto seja revertido num objetivo: tornar seu time vencedor e campeão.
E é por isso que a Frasqueira
clama.
O torcedor do ABC roga por dias
de vitórias e pela volta dos títulos.
As derrotas dos últimos anos
atingiram, como uma bala de rifle, em cheio os corações sofridos dos
partidários do ABC.
É um círculo vicioso.
José Mourinho, certa vez, disse
que as vitórias trazem poder, poder traz independência, mais independência traz
ainda mais vitórias.
Deduzo então que o avesso da
fórmula do Rockstar pode ser aplicada nesse caso: derrotas minguam o poder e
aumentam a dependência do índice de rejeição, que trazem ainda mais derrotas.
Não que as derrotas sejam “o fim
da bola” – expressão usurpada do amigo jornalista Leonardo Pessoa – mas se as
vitórias nos levam ao delírio, ao mundo da lua, as derrotas abalam e, sem
dúvida, mexeram com os sentimentos dos torcedores do ABC, aqueles partidários.
Por isso escrevi, em outra
oportunidade, que por representar continuidade de uma gestão que mais errou e
perdeu do que acertou e venceu, Fabiano Teixeira possui alta rejeição por parte
dos torcedores.
Fabiano paga, na realidade, o
preço das derrotas.
Por outro lado, há de se
concordar com as palavras do representante do povo Sócrates Brasileiro Sampaio
de Souza Vieira de Oliveira, que afirmou que a vitória nos emburrece e a
derrota nos faz reavaliar quem somos, o que somos, quem pretendemos ser e como crescer.
É preciso reavaliar e tirar
lições das derrotas.
A torcida não deve ter medo dos
seus dirigentes.
Os dirigentes é que devem ter
medo da sua torcida.
Foi ela a razão de tudo existir e
é ela quem faz o clube ser grande.
Duvidar do desejo de uma torcida
é, simplesmente, não entender o papel dela no processo.
É desafiar quem clama
desesperadamente por uma revolução.
É por isso que eu escrevo, falo,
digo e repito, no futebol podemos controlar tudo, menos os torcedores, aqueles
partidários.
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