Pensem bem, Abecedistas!
Por Rafael Moraes
Para Carta Potiguar
Interessante a fala do
Vice-Presidente de Futebol do ABC, Leonardo Arruda, na coletiva de imprensa,
realizada no Complexo Vicente Farache.
A informação dá conta que a
gestão anterior do ABC antecipou R$ 280 mil da cota de R$ 505 mil pela
participação na Copa do Nordeste de 2016.
Segundo Arruda, foram duas parcelas
distintas.
A primeira no montante de R$ 200
mil em outubro/2015 e outra de R$ 80 mil em dezembro, pasmem, um dia antes da
eleição para o triênio atual.
E mais, apurei que, também em
outubro, foram antecipados mais R$ 200 mil dos R$ 240 mil oferecidos pela
disputa da Copa do Brasil.
Infelizmente essa prática é
bastante comum entre as milhares e milhares de agremiações de futebol
existentes nessa “terra dos 7 a 1”.
O mais comum é montar elencos que
custem acima da capacidade orçamentária do clube e, contando com antecipações
de receitas dos anos e campeonatos seguintes, cobrir os rombos deixados pela
irresponsabilidade de quem tem o poder em suas mãos.
Até aqui, tudo bem.
Nada irregular.
Apesar de ser um exemplo claro da
incompetência e do amadorismo administrativo gerencial que predomina no futebol
brasileiro, não é um ato proibido por lei, decreto ou coisa parecida da
linguagem juridiquês.
Mas, convenhamos, dependendo das
circunstâncias e condições em que ela acontece, pode ser extremamente prejudicial
ao clube.
No caso alvinegro, a antecipação
foi efetuada às vésperas de um pleito eleitoral altamente conturbado e
acirrado.
Não havia a mínima certeza de
continuidade de gestão.
A possibilidade de mudanças era
eminentemente razoável, frente aos péssimos resultados obtidos nos últimos
anos.
A questão maior é entender que
antecipar uma cota de patrocínio àquela altura do campeonato foi, minimamente,
um ato antiético.
São R$ 480 mil a menos na conta.
Antes mesmo de iniciar um ano que
prometia imensas dificuldades, criou-se um desfalque relevante nos cofres para
formar o time atual e manter as demais despesas em dia.
Some-se a isso a ausência de
patrocínios agravadas pela crise político-financeira do país, a perda da
receita proveniente do televisionamento da Série B e as dívidas acumuladas pela
própria gestão anterior.
Além disso, existe outro dado
importante e que foi assassinado por eles, os cartolas, nesse episódio.
De acordo com o Estatuto Social
do ABC, qualquer proposta de antecipação de receita orçamentária a ser
efetuada, precisa da apreciação e aprovação do Conselho Deliberativo.
Ato que, sem justificativa até o
momento, não foi consumado.
Resumindo em uma frase curta,
direta e objetiva, a gestão Rubens-Rogério-Paiva se apossou, sem aprovação prévia,
de receitas que deveriam ser administradas pela gestão do ano seguinte, de
Judas-Leonardo-Flávio.
E o prejuízo poderia ser ainda
maior.
A lei de Responsabilidade Fiscal
do Esporte, popularmente conhecida como Profut, a qual o próprio ABC aderiu no
final do ano passado, proíbe essa prática, quando a antecipação atinge receitas
de períodos posteriores a gestão vigente.
A lei permite apenas a
antecipação de 30% da receita bruta anual do ano seguinte.
Faz parte do pacote batizado de
fair play financeiro.
Se descumprido, é passível de
punição, inclusive, para os gestores – prática de gestão temerária – e para o
clube – exclusão do Profut.
Nesse caso, a falta de
publicização de dados financeiros do clube não me permite afirmar que o valor
antecipado ultrapassou o limite de 30% imposto pela lei.
ABC e gestores, legalmente, saem
ilesos.
Não sofrerão sanções, pois as
contrapartidas pela adesão ao Profut ainda não estão sendo cobradas à risca.
Coisas do Brasil.
Quase mais um gol da Alemanha.
Mas, para um bom entendedor, não
precisa nem comer carne de macaco para ficar inteligente, como faziam alguns
povos africanos, é clara e evidente a prática antiética cometida.
Excessivamente irresponsável.
Dois-mil-e-dezesseis começou
assim, com um time fraco, retalhado e sem grandes investimentos.
Sem querer tirar o peso dos erros
do início da gestão atual, é fato que os resultados do passado recente
continuam assombrando a Frasqueira.
Eu sei, os torcedores, aqueles
partidários, movidos pela paixão, pelo coração e pelo amor, altamente críticos,
exigentes e que, na imensa maioria das vezes, vêm apenas o que lhes é
favorável, não irão aceitar as derrotas tão facilmente.
Mas, relembro o que escrevi em
“Não é chororô”, em 19 de janeiro, que “em curto prazo, a saída é pela gestão transparente
e participativa. Compartilhar para poder cobrar participação do torcedor. E
como bem disse o jornalista Vicente Serejo, nesses tempos de hoje, então,
quanto mais transparente, mais forte é qualquer instituição”.
A estratégia é boa.
Acredito nesse caminho de
compartilhar a verdade com o torcedor, aquele que pode, ainda, ser o respiro da
sobrevivência.
De positivo nessa história toda,
apenas o fato da diretoria atual ter aberto “a caixa-preta” das contas e
tornado isso público.
Pensem bem, Abecedistas: quando
foi a última vez que vocês ouviram falar em cifras no ABC Futebol Clube?!
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