Dos grandes narradores que
admiro, nenhum grita
Mauricio Stycer
Colunista do UOL
Aprendi muito sobre futebol
ouvindo jogos narrados pelo rádio.
Nos anos 70, os principais
narradores no Rio eram Jorge Curi (1920-1985) e Waldir Amaral (1926-1997).
O primeiro era dono do grito de
gol mais potente e longo que já ouvi (ainda mais se fosse gol do Flamengo).
Mas só gritava nessa hora.
O segundo era uma espécie de
narrador-cronista, descrevia uma partida como se estivesse escrevendo um texto
(o autor do gol era um “indivíduo competente”).
Na televisão, o primeiro narrador
a me marcar foi Geraldo José de Almeida (1919-1976).
Vibrava a cada jogada bonita:
“Linda! Linda! Linda”.
E dividia com o espectador as
suas surpresas: “Que que é isso, minha gente? ”
É verdade que o futebol mais
cadenciado nos anos 70 permitia aos narradores respirar um pouco mais, o que
deixava as narrações mais elegantes, talvez.
Isso mudou à medida em que o
futebol foi ficando mais veloz, e os narradores obrigados a falar mais palavras
por minutos.
Ainda assim, grandes narradores
que vieram depois, como José Carlos Araújo e Osmar Santos, por exemplo,
acrescentaram velocidade à narração, mas raramente recorreram à gritaria.
Outros, como Januário de Oliveira
(“Tá lá um corpo estendido no chão”) e Silvio Luiz (“Pelas barbas do profeta”),
introduziram humor e picardia aos jogos mais aborrecidos.
Isso para não falar de Galvão
Bueno, que se intitula um “vendedor de emoções”.
O principal narrador da Globo há
quase três décadas é capaz de transformar o jogo mais chato do mundo numa
transmissão divertida.
Sem gritar.
Faço este longo preâmbulo para
falar de André Henning.
Só fui apresentado às suas
narrações em 2016, quando o Esporte Interativo passou a fazer parte da grade da
NET.
Estou dez anos atrasado e peço
desculpas pela minha falha.
O narrador do EI parece trabalhar
sentado em uma cadeira elétrica.
Ele grita em toda e qualquer
situação.
“Cartão amarelo!!!!!!!!!!!! David
Luiz!!!!”, explode Henning.
“Lateral para o
Chelsea!!!!!!!!!!!!!!”, comemora o narrador.
E assim vai, o jogo inteiro,
gritando emocionado ao descrever enfiadas de bola malsucedidas, chutes para
fora e faltas, violentas ou não.
Em entrevista ao UOL Esporte,
publicada horas antes do primeiro jogo das oitavas-de-final da Liga dos
Campeões da Europa, Henning afirmou:
“Posso garantir que aqui não tem ‘forçação de barra’ na dose da emoção.
A gente narra, transmite aquilo que realmente estamos sentindo”.
Não é o que se ouve durante as
suas transmissões.
Divido os narradores em dois
times, os talentosos e os que gritam.
Neste segundo time, me sinto
obrigado a dizer que não conhecia ninguém com a força de André Henning.
Um comentário:
esse cara não tem quem aguente. fiz uma postagem a algum tempo falando desse retardado gritando e apareceram os defensores dizendo "se não gosta mude de canal". resolvi deixar na tecla mute pois a EIMAXX está infelizmente com os direitos da copa dos campeões!
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