A rivalidade que empobrece
Por Rafael Moraes
Para Carta Potiguar
Essa semana estive comigo
pensando, o que é essa tal rivalidade que mata tanta gente por aí.
Rivalidade é competir entre si?
É ser inimigo ou ser rival?
Os rivais têm razões para tal?
A rivalidade está acampada?
Ser rival é bom ou ruim?
É uma discussão quase sem fim.
Confesso que me deu vontade de
perguntar ao mestre Cascudo.
Os que com ele puderam conviver,
diziam que o velho era uma Enciclopédia em vida.
Quando havia uma dúvida ou uma
discussão sem fim, bastava pergunta-lo que a resposta sempre estava na ponta da
língua.
Mas como Câmara Cascudo não está
mais entre nós, e pior, não deixou um herdeiro intelectual para nos amparar em
momentos como esse, vou tentar por minha conta e risco.
Um conceito bacana diz que
rivalidade é a “disputa ou oposição entre pessoas, empresas, clubes esportivos
ou quaisquer outros tipos de seres ou entidades que pode ou não envolver a
busca por um mesmo objetivo”.
É mesmo um embate de ideias.
Pode ser a concorrência de
pessoas que pretendem a mesma coisa.
De pessoas que pensam diferente,
mas que ao final do jogo almejam quase sempre o mesmo objetivo.
Nesse contexto, a rivalidade não
tem nenhuma conotação negativa, exceto quando a paixão deriva em violência.
Aí sim, você abandona a condição
de rival e passa a ser um inimigo.
Mas a rivalidade pode ser sim
muito positiva.
Ela, muitas vezes, expõe
fragilidades e aponta caminhos a serem seguidos.
Dizem que as rivalidades fazem
bem à alma do futebol, mesmo que as birras façam mal.
A rivalidade sempre vai existir,
seja entre clubes, cidades, países.
A rivalidade no futebol é esperar
ansiosamente pela divulgação da tabela do campeonato e quando ela sair, a
primeira coisa é ver quando será o primeiro clássico para correr no calendário
e reservar com caneta vermelha a data.
Denise Fraga, atriz Global, que
confessadamente não entende (quase) nada de futebol, disse que “a paixão
incondicional por um time é uma coisa insana, difícil de explicar”.
“Mas é bela”, completa se
rendendo ao inevitável.
Os rivais se enfrentam quatro,
cinco vezes seguidas e mesmo assim, não haverá consenso algum depois de tantos
jogos, pois assim mesmo é a rivalidade.
Sem consenso.
Tem até aquela que gera receita
para os clubes, como a rivalidade corpo a corpo, centavo a centavo, clube a
clube entre a Globo e o Esporte Interativo, que lutam pelos direitos de
transmissão do futebol brasileiro a partir de 2019.
É a concorrência que valoriza o
produto.
É a rivalidade sadia, a que
promove.
E tem a rivalidade que mata.
Aliás, a rivalidade que se
transforma em guerra.
As guerras das torcidas
organizadas, que descambam para a violência.
Tem também a rivalidade lúdica,
estilo Fla-Flu, capaz de, em noventa minutos, transformar vizinhos, amigos e
até mesmo parentes em inimigos mortais.
Mas há também, infelizmente, a
rivalidade cega, que gera conflito.
É quando a rivalidade é encarada
no sentido de aversão, qualificando o adversário meramente como um inimigo.
Nesse contexto, a competição e a
rivalidade agem no sentido contrário ao aumento da produtividade.
No futebol, é preciso utilizá-las
com sabedoria, para promover e valorizar o produto oferecido. Em outras
palavras, é mais viável unir esforços no sentido colaborativo, para promover,
garantir brilho e agregar valor ao espetáculo esportivo.
Nessa Terra do Elefante, nos
últimos tempos, nasceu um tipo de rivalidade que limita o adversário em “dez
por cento”.
Uma rivalidade capaz até de criar
mecanismos de boicote a torcida visitante.
É a rivalidade de quem comanda
protegido com uma máscara de ferro de um cavaleiro medieval.
A rivalidade que empobrece e reduz nosso, já pobre, futebol.
A rivalidade que empobrece e reduz nosso, já pobre, futebol.
Mas muitos não enxergam (ou não
querem enxergar) o lado bom da rivalidade.
Sobre isso, nada mais a dizer do
que a palavra lamentável.
Se você tem a intenção de
prejudicar os outros, certamente estará prejudicando a si próprio¹.
O egoísmo, por natureza, não tem
limites².
Como dizem por aqui nesse país,
desde a era colonial, não existe pecado abaixo da linha do Equador.
Aqui, todo dia é dia de tudo
pode.
¹ Provérbio Hindu.
² Filósofo Arthur Schopenhauer.
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