quinta-feira, setembro 28, 2017

O isolamento de Neymar no Paris Saint Germain...

Imagem: Benoit Tessier/Getty Images/Crodon Press


Neymar se vê isolado no PSG depois de um mês de conflitos

Dono do clube ofereceu a Cavani um milhão de euros para ele ceder os pênaltis ao brasileiro e assim encerrar a crise.

Mas o uruguaio recusou, com apoio dos companheiros

Por Diego Torres para o El País

Nasser Al-Khelaifi, presidente do PSG, enviou semana passada um intermediário para oferecer dinheiro a Edinson Cavani, maior goleador da equipe, em troca de renunciar a cobrar os pênaltis em favor de Neymar.

A proposta consistia em melhorar seu contrato: no item em que o clube se comprometia a lhe pagar um bônus de um milhão de euros (3,7 milhões de reais) caso fosse o maior goleador da Ligue 1 de França, Al-Khelaifi oferecia garantir o valor de qualquer forma.

Marcasse gols ou não.

O dirigente esperava assim pacificar um vestiário em polvorosa, que evidencia uma crise toda vez que Neymar e Cavani brigam para cobrar os pênaltis.

A tentativa foi em vão.

A resposta de Cavani foi taxativa.

Disse que não estava interessado em dinheiro.

Se o clube quisesse lhe pagar mais, não se oporia, mas continuaria batendo os pênaltis, pois estava há quatro anos jogando pelo PSG, era o terceiro capitão, e tinha conquistado sua dignidade dessa forma.

Al-Khelaifi, segundo fontes próximas ao PSG, também enviou emissários para sondar Neymar.

Com bajulação, foi convidado a esquecer os pênaltis.

Disseram- lhe que era um jogador completo e sugeriram-lhe que o rei da equipe deveria agir com magnanimidade, cedendo a graça do tiro penal ao centroavante, que vive de gols.

Neymar não entendeu a lógica.

O brasileiro, de 25 anos, foi no domingo passado passear em Londres em seu jato particular e, ao voltar, na quarta-feira, dedicou-se a questionar a resposta de Cavani, criando um clima de tensão sem precedentes no clube francês.

O presidente Al-Khelaifi, o técnico Unai Emery, o diretor esportivo Antero Henrique e os capitães Thiago Silva e Thiago Motta fizeram o possível para aproximar as partes.

Quando lhe anunciaram a decisão inflexível de Cavani, a reação de Neymar foi irada.

Na quinta-feira, dia 21 de setembro, alegou dor no pé e Emery não o relacionou para jogar no sábado em Montpellier.

O PSG fez sua pior partida da temporada e empatou em 0 a 0.

Um mês depois de aterrissar em Paris, Neymar só parece feliz quando se diverte com seus amigos, os tois.

O jogador, que é a pedra angular de um projeto destinado a quebrar a hegemonia espanhola no futebol europeu, não está à vontade.

Jogadores e agentes próximos ao clube parisiense garantem que a estrela brasileira descobriu resistências inesperadas.

A hostilidade explícita de Cavani é só a expressão da sensação generalizada de seus colegas, especialmente os veteranos.

O mal-estar começou no início de agosto, quando Al-Khelaifi não conseguiu conter a sensação de pânico que sucedeu a ameaça da UEFA de deixar o clube fora da Champions a partir de 2018 se o fair play financeiro fosse violado.

O confronto que ficou evidente há uma semana, quando Neymar e Cavani brigaram por cobrar um pênalti durante a partida da Liga contra o Olympique de Lyon, se gestou há um mês e meio no escritório da sede da UEFA,na cidade suíça de Nyon.

A advertência do órgão regulador do futebol ocorreu pouco depois que o PSG pagou ao Barcelona os 222 milhões de euros (cerca de 800 milhões de reais) que constituíram a transferência mais cara da história, no dia 3 de agosto passado.

O Comitê de Controle Financeiro de Clubes, órgão da UEFA encarregado de auditar as contas e zelar pelo equilíbrio orçamentário, advertiu o PSG de que a sanção a ser imposta caso os gastos ultrapassarem 30 milhões de euros (cerca de 110 milhões de reais) de sua receita (550 milhões de euros, ou cerca de 2 bilhões de reais, em 2016) não seria simplesmente econômica.

Segundo fontes próximas à UEFA, a confederação do futebol europeu observou o fervor comprador do PSG como um fenômeno que dava prestígio à Champions.

Só a pressão exercida por Bayern, Real Madrid e Juventus forçou os funcionários da Suíça a propor um programa especial de fiscalização. A consequência foi ameaçar Al-Khelaifi com uma pena de “vários anos” fora dos torneios internacionais.

A reação de Al-Khelaifi e seu diretor geral, Jean-Claude Blanc, foi precipitada.

Um representante que trabalha com o PSG afirma que nas 48 horas seguintes os dirigentes ligaram para os intermediários de jogadores que representavam a metade do vestiário para lhes abrir a porta de saída.

A lista incluiu Di Maria,Pastore, Matuidi, Lucas Moura, Draxler, Ben Arfa, Aurier e Thiago Silva.

Alguns estão entre os jogadores mais influentes da equipe nos últimos anos e a mensagem, segundo um dos receptores, foi vergonhosa.

Foram informados de que, devido à contratação de Neymar, o clube tinha a necessidade de vendê-los para obter receita e assim equilibrar as contas, segundo as regras do fair play financeiro.

O francês Blaise Matuidi, um dos líderes do grupo, se sentiu ofendido e forçou sua ida para a Juventus por apenas 20 milhões de euros (cerca de 72 milhões de reais).

Sua saída semeou o desânimo.

Em maior ou menor medida, todos os integrantes do plantel se sentiram tratados como mercadoria em troca de abrir espaço para Neymar.

No vestiário pairava uma pergunta:

“Quem ele acha que é?

Messi?”.

À frente dos indignados, estava Edinson Cavani.

A chegada de Neymar a seu primeiro treinamento, em 4 de agosto, não fez mais do que aumentar as suspeitas de seus colegas.

Acompanhado por Al-Khelaifi e Henrique —que o abraçavam e beijavam na lateral do campo— arrastou a parafernália dos ídolos consagrados.

Ninguém questionou que se tratava do jogador mais alto na hierarquia da equipe, mas surpreendeu sua atitude exagerada coincidindo com o menosprezo dos dirigentes em relação a tantos colegas.

Com o passar dos dias, até Marquinhos e Lucas Moura, frequentemente relacionados para a seleção brasileira, chegaram à conclusão de que seu conterrâneo assumia atribuições excessivas.

Viram-no agir com a presunção de um Bola de Ouro.

Como se estivesse há anos ganhando títulos para o PSG.

Só Daniel Alves, amigo pessoal, se manteve firme a seu lado.

Em um vestiário lotado de colegas à venda por sua causa, Neymar se comportou como se sua consagração viesse não dos méritos obtidos em campo, mas de sua contratação por 222 milhões de euros e de seu salário anual de mais de 25 milhões líquidos (cerca de 90 milhões de reais), o dobro do que recebe Cavani, o segundo melhor pago.

Thiago Silva e Thiago Motta lhe explicaram que ali havia grandes jogadores que ele não poderia ignorar.

Cavani exigiu respeito com os veteranos.

Neymar os ouviu com ar distraído.

O primeiro a perceber o perigo do projeto foi o técnico, Unai Emery.

No entorno do PSG, afirmam que o treinador espanhol foi o único que compreendeu que aquela gestão exigia tantos egos feridos.

Emery se encarregou de persuadir os dirigentes de que deviam mudar de estratégia.

Alertou o clube de que não era possível ganhar títulos só com Neymar e que para aplacar os danos morais do coletivo era preciso transmitir a todos os jogadores uma ideia de amparo, união e carinho.

Em fim de agosto, Al-Khelaifi voltou atrás e mandou chamar os jogadores que tinha colocado à venda para lhes dizer que eram intransferíveis, e reforçar a ideia de “família”.

Emery recomendou manter especialmente Di Maria se sua venda não fosse suficiente para fechar as contas.

Al-Khelaifi confiou que a compra de Mbappé —que não entrará no orçamento até 2018— aplacará a inspeção da UEFA.

Al-Khelaifi sem querer desagregou sua equipe, dividindo-a entre prescindíveis e intocáveis.

Entre os intocáveis, dois se destacam: Marquinhos e Cavani, ambos transformados em inesperados agentes dos prejudicados.

Dizem as testemunhas que Al-Khelaifi parece conformado diante de um incêndio que continua ativo.

À frente dos bombeiros, Emery defende uma convivência sustentável que lhes permita concorrer para ganhar a Champions, grande obsessão dos proprietários do Catar.

Conta para isso com o trabalho diplomático de Thiago Silva, Thiago Motta e Daniel Alves, três dos cinco líderes morais —Marquinhos e Cavani são os outros— de um grupo de jogadores cindido.

Na quinta-feira, em uma tentativa de pacificação, Daniel Alves convidou o elenco para jantar em um restaurante chique do distrito XVI de Paris.

O jantar, segundo um integrante, foi tão animado quanto um velório.

Do blog:

Apesar dos abraços e afagos durante as comemorações dos gols marcados pela equipe do PSG, na vitória contra o Bayern, por 3 a 0, a situação entre o grupo, Neymar e Cavani não está de todo resolvida...

Os bons resultados podem ajudar a superar a crise de egos, mas, como em toda crise que envolve vaidade, qualquer faísca pode causar uma enorme explosão.

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