Imagem: Autor Desconhecido
A tarde em que desapareceu o Torino
Roberto Palomar para o Diário Marca
Ainda hoje causa arrepios a
tragédia que atingiu o Torino, Il Grande Torino, em 4 de maio de 1949.
A catástrofe da Chapecoense
permanece fresca na memória de todos, mas nada chocou tanto o futebol mundial
como o acidente Equipe italiana.
É apenas comparável à sofrida
pelo Manchester United, em Munique, nove anos depois.
Com uma diferença: o Torino
desapareceu completamente e foi, num momento em que era o melhor time do
continente.
Haviam vencido quatro scudettos
consecutivos e, no momento da tragédia, ele era o líder e isolado e
incontestável da Liga Italiana.
Tanto que a Federação lhe
concedeu o título postumamente.
A concessão do título não foi
apenas uma questão de cortesia e sensibilidade diante tragédia.
Seus rivais, além de estarem
chocados como o resto do mundo, estavam convencidos de que o Torino teria sido
impossível naquele ano, para o Grande Torino.
Além das perdas humanas, o halo
mítico que cercava aquele time tornou a ferida da catástrofe ainda mais
profunda.
Com desaparecimento do Torino,
não apenas um clube inteiro sumiu no melhor momento de sua história.
A seleção italiana foi
profundamente afetada...
Dez de seus jogadores eram
titulares da seleção, apenas o goleiro pertencia Juventus.
A Itália, reinava na Europa e, queria
confirmar a sua supremacia no Mundo na Copa do Brasil de 1950.
Não foi possível porque quase
toda a Azzura morreu na Basílica de Superga, em cujo muro o avião que
transportava o Torino de volta para casa depois de um amistoso em Lisboa e uma
escala em Barcelona se despedaçou.
A tragédia está tão bem
documentada que é possível datar exatamente o tempo do impacto: cinco e cinco
minutos à tarde.
Apenas um pouco antes, o piloto
tinha dito a torre de controle que o avião estava perfeitamente alinhado com a
pista e que, apesar da tormenta e da falta de visibilidade em virtude das nuvens
que cobriram tudo, logo pousariam em Turim.
O Torino jogou a noite anterior
contra o Benfica, em Lisboa, no jogo em homenagem ao seu grande capitão Xico
Ferreira (23 de agosto de 1919/Lisboa, 14 de dezembro de 1986).
De manhã, às 9h40, saíram da
capital portuguesa para Barcelona.
A aeronave, um trimotor da Fiat,
não tinha autonomia suficiente para chegar a Turim e teve que fazer uma parada
técnica para reabastecer.
O destino foi cruel...
Os últimos a estarem com a
delegação do Torino foram os membros de um dos rivais mais acirrados: o Milan.
A equipe da Lombardia também
parou em Barcelona, com destino a Madri.
A época o futebol, muito mais
humanizado do que agora, permitiu que dividissem a mesa durante o almoço no
aeroporto de Barcelona.
Depois, todos seguiram seu
destino.
Na verdade, foi como um último
jogo.
A aproximação
A investigação do acidente foi
tão minuciosa que os detalhes são conhecidos de maneira milimétrica.
O plano de voo mostrou que a rota
a ser seguida passaria por Cap de Creus, Toulon, Nice, Albenga e Savona.
Em seguida, a aeronave faria
curva para o norte em direção a Turim.
Às cinco e cinco da tarde, a
torre de controle comunicou-se com o tenente-coronel Meroni, comandante do
avião.
Ele descreveu o clima na capital
do Piemonte: chuva, nuvens baixas, visibilidade de 40 metros e ventos
tempestuosos.
Após um breve silêncio, o
comandante deu sua posição.
Um farol de rádio no Pino
Torinese ajudou-o a tomar as coordenadas para se alinhar com a pista.
- "Estamos a 2.000 metros acima do nível do mar", disse
Meroni.
- "Nós vamos cortar Superga."
E nesse ponto que a tragédia
ganha uma explicação...
Porque nem o avião estava
alinhado com a pista, nem estava a 2.000 metros.
A aeronave, na verdade estava
alinhada com a montanha dá nome à Basílica, e sua altitude era de 675 metros,
muito abaixo do que pensava o piloto.
O que aconteceu para que uma
manobra aparentemente fácil acabasse em tragédia?
As teorias são diversas.
De uma falha no altímetro à deriva
para estibordo, o que levou ao avião contra a montanha por causa das fortes
rajadas de vento.
O fato é que, apenas três ou
quatro minutos após a última comunicação, o avião colidiu com a muralha que
circunda a basílica.
Não havia indicações de que o
comandante tenha feito qualquer tipo de manobra dissuasiva.
O golpe foi frontal.
Mais da metade do avião se
desintegrou com o impacto, deixando apenas parte da cauda, quase
despercebida, visivelmente intacta.
Os 31 ocupantes da aeronave
morreram.
18 eram jogadores do Torino.
Os dois treinadores, os dois
dirigentes e os três jornalistas que acompanharam a equipe também morreram.
O único sobrevivente do elenco do
Torino foi Sauro Toma, que não viajou a Lisboa devido a uma lesão no joelho.
Toma passou o resto de seus dias
carregando o sentimento de culpa por não estar naquele avião com seus
companheiros.
Turim foi às ruas para se
despedir de seus jogadores e a solidariedade veio de todos os cantos do
planeta.
Poucos dias depois, o River
Plate, com Alfredo di Stéfano no comando, veio jogar um amistoso contra um
combinado que representou o Campeão Italiano de 1949.
Il Grande Torino permaneceu para
sempre nos corações dos fãs.
Imagem: Autor Desconhecido
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