quarta-feira, junho 17, 2020

Os 50 anos da Copa do Mundo do México - 1970... Parte 2.

Imagem: Autor Desconhecido

Copa 70: o futebol arte completa 50 anos — Primeira fase

No grupo 3, o Brasil enfrentou a então campeã Inglaterra, a Tchecoslováquia, finalista de 1962, e a forte Romênia.

Ainda no formato com 16 equipes, a Copa do Mundo de 1970 começou em 31 de maio e teve sua decisão em 21 de junho, quando a Seleção Brasileira coroou sua campanha invicta com uma goleada

Por Pedro Henrique Brandão/Universidade do Esporte

Da estreia até alcançar a final, uma seleção teria de jogar seis partidas.

As três da primeira fase e outras três eliminatórias — quartas, semi e a tão disputada decisão.

O time brasileiro era uma constelação de craques do nível de Rivelino, Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Tostão, Félix, Everaldo e o Rei Pelé.

Porém, as outras seleções também levaram o que tinham de melhor com seus nomes consagrados como Teofilo Cubillas, Mazurkiewicz, Sepp Maier, Gerd Müller, Uwe Seeler, Karl-Heinz Schnellinger, Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath, Giacinto Facchetti, Roberto Rosato, Sandro Mazzola, Luigi Riva, Gianni Rivera e Roberto Boninsegna, Gordon Banks, Bobby Moore, Geoff Hurst, Martin Peters e Bobby Charlton.

Antes de bater a Itália por 4 a 1 na decisão, o Brasil estreou bem e goleou a Tchecoslováquia também por 4 a 1, venceu a Inglaterra pelo placar magro de 1 a 0 no jogo mais difícil da Copa, e fechou a fase grupos com vitória por 3 a 2 sobre a Romênia.

Nas quartas de final, venceu o Peru por 4 a 2 e na semifinal, um clássico do cone sul vencido por 3 a 1 sobre o Uruguai.

Foram 19 gols marcados e apenas sete sofridos, em seis jogos.

Jairzinho anotou gols em todas as partidas do Mundial e foi o artilheiro brasileiro com sete tentos — vice goleador da Copa, atrás de Gerd Müller com 10. Pelé foi escolhido o Bola de Ouro, Gérson ganhou a Bola de Prata e a seleção do Mundial teve seis brasileiros.

Uma campanha com 100% de aproveitamento de um time que ficou marcado na história do futebol mundial.

Brasil 4 a 1 Tchecoslováquia

No dia 03 de junho, no estádio Jalisco, em Guadalajara, com 52.897 pessoas nas arquibancadas, o Brasil estreou na Copa do Mundo contra a Tchecoslováquia, em partida que foi uma reedição da decisão do Mundial de 1962.

Os brasileiros começaram com força máxima e pelo lado esquerdo do ataque com Rivelino, Gérson e Jairzinho, as melhores jogadas eram criadas.

Tudo indicava que a qualquer momento o Brasil abriria o placar, mas aos 11 minutos de jogo foram os tchecos que alcançaram o gol com Petras, camisa 8, que partiu num rápido e fulminante contra-ataque.

Um susto que seria contornado com a inovação tática que Zagallo propunha.

A Seleção Brasileira de 1970 é apontada como um divisor de águas no futebol mundial por vários aspectos, mas uma característica que o time aperfeiçoou com o Velho Lobo foi a mobilidade.

Ainda não era o Carrossel Holandês de Rinus Michels que entraria na história quatro anos depois com o Futebol Total da Laranja Mecânica, mas havia a possibilidade dos jogadores de ataque trocarem o posicionamento e isso era algo bastante novo naquele momento.

Justamente com essa inversão, o Brasil voltou a dar trabalho à defesa tcheca e Rivelino passou a assustar pelo lado direito ao cortar para dentro e bater forte ao gol adversário.

Num ataque bem tramado, aos 24 minutos, Pelé foi derrubado na meia-lua e Riva foi incumbido da cobrança.

Com a consagrada “patada atômica”, a Seleção empatou e tomou as rédeas da partida.

No segundo tempo, dominando amplamente, o Brasil deslanchou no placar em razão da superioridade técnica, mas também por conta da melhor condição física em relação aos europeus.

Aos 14 minutos, Gérson deu um daqueles lançamentos de Gérson.

Da intermediária, fatiou a bola no peito de Pelé, que dentro da área, matou no peito e fuzilou o goleiro tcheco.

Apenas três minutos mais tarde, outro passe com GPS de Gérson, dessa vez o Canhotinha de Ouro estava atrás do meio-campo quando lançou Jairzinho, que com muita velocidade escapou da defesa que marcava em linha.

O goleiro Viktor saiu desesperado e o camisa 7 chapelou o indefeso arqueiro, matou no peito e cumprimentou à rede.

Os europeus já estavam rendidos pelo calor e pela evidente superioridade dos brasileiros, quando Pelé tocou para Jairzinho na intermediária.

O atacante partiu para cima dos tchecos e driblou três adversários antes de arrematar um chute cruzado e rasteiro para encerrar o placar.

Sem problemas, com tranquilidade e poder de reação, a Seleção Brasileira deixou um belo cartão de visitas logo na estreia e despontou como favorita na busca do Tri, porém, ainda com um longo e difícil caminho a pavimentar, como provaria a partida seguinte contra o English Team.

Brasil 1 a 0 Inglaterra

A segunda rodada do grupo 3 colocou frente a frente os times favoritos a classificação.

A partida de 7 de junho seria também um aguardado encontro entre dois campeões mundiais.

Em 40 anos de disputa entre seleções nacionais e sem contar com duas edições canceladas em razão da 2ª Guerra, aquela era apenas a 9ª Copa do Mundo e somente um seleto grupo composto por Brasil, Itália, Uruguai, Alemanha e Inglaterra ostentava ao menos uma conquista de melhor equipe de futebol do planeta.

Entre ingleses e brasileiros, a expectativa também era grande, pois nas três Copas anteriores, entre 1958 e 1966, Brasil e Inglaterra monopolizaram o topo do futebol mundial pelos últimos 12 anos e se revezaram como campeões garantindo o bicampeonato tupiniquim e o único título do time da Rainha.

Além disso, o confronto sempre parelho já havia criado uma certa tradição, pois nas campanhas de 58 e 62, os brasileiros enfrentaram os ingleses no caminho do título.

Todo esse histórico colocava ainda mais ingredientes na partida que poderia encaminhar a classificação do vencedor.

Os ingleses vinham de vitória magra contra a Romênia na estreia e sem dúvidas era o elenco adversário mais complicado do grupo, com um time repleto de remanescentes do título de 1966 como Bobby Moore, Gordon Banks, Martin Peters e Bobby Charlton.

Com tudo isso em jogo, o público compareceu em peso e 66.843 pessoas foram ao estádio Jalisco para assistir a uma partida duríssima, disputada palmo a palmo no incandescente gramado sob o pino do meio-dia do escaldante verão mexicano e com um grande trabalho defensivo dos ingleses que anularam Pelé.

Porém, aquela seleção tinha o diferencial proposto por Zagallo e justamente contra a Inglaterra, a movimentação ofensiva dos brasileiros foi mais evidente e eficiente.

Com um ferrolho na frente da área inglesa, os jogadores da Amarelinha precisaram buscar os lados do campo.

Em jogadas iniciadas pelos flancos, os principais momentos da partida aconteceram.

Carlos Alberto Torres lançou Jairzinho que foi ao fundo e cruzou para Pelé.

O camisa 10 subiu e fez o movimento perfeito do cabeceio para o chão, Gordon Banks saltou e conseguiu tirar em cima da linha no lance que ficou marcado como a “defesa do século”.

Ainda com o marcador zerado, outra grande defesa marcaria o jogo.

Num cabeceio à queima roupa de Lee, Félix fez a “defesa da Copa” para o Brasil e no rebote, lançou-se corajosamente para abafar a bola.

No ímpeto de fazer o gol, Lee chutou e acertou o rosto do goleiro brasileiro.

A coragem e técnica de Félix desmentem a narrativa de “goleiro fraco” que a crônica esportiva da época colou no arqueiro.

O empate sem gols persistia até que Jairzinho trocou de lado mais uma vez.

Tostão foi para a esquerda e driblou dois ingleses para fazer a meia-volta e cruzar com perfeição para Pelé dominar e apenas rolar de lado para Jairzinho anotar o gol da vitória.

Com o gol de Jairzinho, o Brasil garantiu a segunda vitória e seguiu forte no Mundial.

Além disso, o time brasileiro descobriu que o Furacão da Copa sopraria ventos fortes capazes de derrubar até a mais sólida defesa inglesa.

Brasil 3 a 2 Romênia

No encerramento da primeira fase, a Romênia foi a adversária, no dia 10 de junho, diante de 50.804 pessoas no estádio Jalisco.

Com 100% de aproveitamento nas duas primeiras rodadas, apenas uma combinação absurda de resultados tiraria a Amarelinha das quartas de final.

Zagallo decidiu poupar Rivelino e Gérson e tirou os dois meias canhotos da partida.

Mais do que poupar, a substituição servia para rodar o elenco e deixar os jogadores motivados — se é que seja necessário algum incentivo extra do que estar numa Copa do Mundo.

Entraram o zagueiro Fontana no lugar de Gérson, o que fez com que o coringa Piazza, que jogou os dois primeiros jogos na zaga, voltasse ao meio-campo; e Paulo Cézar Caju na vaga de Rivelino.

PC Caju era destaque e titular absoluto no Botafogo, mas na seleção era difícil conseguir uma vaga entre as Feras ainda que o atacante fosse inquestionavelmente uma delas.

Era mais uma questão de ajuste das características e o grupo base com Gérson, Clodoaldo, Rivelino, Tostão, Pelé e Jairzinho era tão afinado que parecia ter nascido para jogar junto.

Apesar de talentoso, depunha contra Caju seu temperamento forte, que o colocava como um dos primeiros bad boys brasileiros.

Porém, o atacante era um driblador dos melhores de sua geração e provou que tinha lugar no grupo.

Logo nos primeiros minutos, PC Caju mostrou que tinha a chave do jogo e tratou de desarrumar o lado direito da defesa romena com uma sequência de dribles desconcertantes e num chute de fora da área acertou a trave.

A Romênia de 1970 era uma equipe representada por uma das melhores gerações do país com jogadores como Dembrowski, Lucescu e Dumitrache.

Mesmo assim, com a defesa aberta pela bagunça de Caju, Pelé abriu o marcador aos 19 minutos e Jairzinho ampliou aos 27.

Em menos de meia hora de bola rolando, o Brasil resolveu a partida e poderia descansar para a próxima fase.

Nada disso, porém, havia sido combinado com os romenos.

Os europeus passaram a pegar pesado na marcação e em algumas divididas, até com excesso de violência.

A intervenção do treinador romeno ao tirar o goleiro Adamache, que perceptivelmente nervoso dava rebote em todas as finalizações brasileiras, surtiu efeito e melhorou a equipe europeia.

A fim de não apanhar, os brasileiros passaram a explorar os contra-ataques e isso foi um erro por dois motivos.

Primeiro, porque a característica daquele time era propor o jogo, na sistemática posse de bola residia o melhor esquema defensivo da história.

Depois, porque Fontana fazia péssima partida.

A união desses dois fatores permitiu que a Romênia descontasse antes do intervalo.

Aos 34 minutos, Dumitrache era o único romeno dentro da área brasileira e aproveitou um bate cabeça generalizado da zaga para bater no canto de Félix que nada pôde fazer.

Passado o susto, na etapa final o Brasil chegou ao terceiro gol num escanteio batido no primeiro pau para Tostão desviar com o calcanhar e encontrar Pelé dentro da pequena área.

Ainda haveria tempo para Dembrowski descontar, mas a vitória brasileira estava garantida e a campanha rumo ao Tri seguia 100%.

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