Imagem: Autor Desconhecido
Copa 70: o
futebol arte completa 50 anos — Primeira fase
No grupo 3, o
Brasil enfrentou a então campeã Inglaterra, a Tchecoslováquia, finalista de
1962, e a forte Romênia.
Ainda no
formato com 16 equipes, a Copa do Mundo de 1970 começou em 31 de maio e teve
sua decisão em 21 de junho, quando a Seleção Brasileira coroou sua campanha
invicta com uma goleada
Por Pedro
Henrique Brandão/Universidade do Esporte
Da estreia
até alcançar a final, uma seleção teria de jogar seis partidas.
As três da
primeira fase e outras três eliminatórias — quartas, semi e a tão disputada
decisão.
O time
brasileiro era uma constelação de craques do nível de Rivelino, Carlos Alberto
Torres, Brito, Piazza, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Tostão, Félix, Everaldo e
o Rei Pelé.
Porém, as
outras seleções também levaram o que tinham de melhor com seus nomes
consagrados como Teofilo Cubillas, Mazurkiewicz, Sepp Maier, Gerd Müller, Uwe
Seeler, Karl-Heinz Schnellinger, Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath, Giacinto
Facchetti, Roberto Rosato, Sandro Mazzola, Luigi Riva, Gianni Rivera e Roberto
Boninsegna, Gordon Banks, Bobby Moore, Geoff Hurst, Martin Peters e Bobby
Charlton.
Antes de
bater a Itália por 4 a 1 na decisão, o Brasil estreou bem e goleou a Tchecoslováquia
também por 4 a 1, venceu a Inglaterra pelo placar magro de 1 a 0 no jogo mais
difícil da Copa, e fechou a fase grupos com vitória por 3 a 2 sobre a Romênia.
Nas quartas
de final, venceu o Peru por 4 a 2 e na semifinal, um clássico do cone sul
vencido por 3 a 1 sobre o Uruguai.
Foram 19 gols
marcados e apenas sete sofridos, em seis jogos.
Jairzinho
anotou gols em todas as partidas do Mundial e foi o artilheiro brasileiro com
sete tentos — vice goleador da Copa, atrás de Gerd Müller com 10. Pelé foi
escolhido o Bola de Ouro, Gérson ganhou a Bola de Prata e a seleção do Mundial
teve seis brasileiros.
Uma campanha
com 100% de aproveitamento de um time que ficou marcado na história do futebol
mundial.
Brasil 4 a 1
Tchecoslováquia
No dia 03 de
junho, no estádio Jalisco, em Guadalajara, com 52.897 pessoas nas
arquibancadas, o Brasil estreou na Copa do Mundo contra a Tchecoslováquia, em
partida que foi uma reedição da decisão do Mundial de 1962.
Os
brasileiros começaram com força máxima e pelo lado esquerdo do ataque com
Rivelino, Gérson e Jairzinho, as melhores jogadas eram criadas.
Tudo indicava
que a qualquer momento o Brasil abriria o placar, mas aos 11 minutos de jogo
foram os tchecos que alcançaram o gol com Petras, camisa 8, que partiu num
rápido e fulminante contra-ataque.
Um susto que
seria contornado com a inovação tática que Zagallo propunha.
A Seleção
Brasileira de 1970 é apontada como um divisor de águas no futebol mundial por
vários aspectos, mas uma característica que o time aperfeiçoou com o Velho Lobo
foi a mobilidade.
Ainda não era
o Carrossel Holandês de Rinus Michels que entraria na história quatro anos
depois com o Futebol Total da Laranja Mecânica, mas havia a possibilidade dos
jogadores de ataque trocarem o posicionamento e isso era algo bastante novo
naquele momento.
Justamente
com essa inversão, o Brasil voltou a dar trabalho à defesa tcheca e Rivelino
passou a assustar pelo lado direito ao cortar para dentro e bater forte ao gol
adversário.
Num ataque
bem tramado, aos 24 minutos, Pelé foi derrubado na meia-lua e Riva foi
incumbido da cobrança.
Com a
consagrada “patada atômica”, a Seleção empatou e tomou as rédeas da partida.
No segundo
tempo, dominando amplamente, o Brasil deslanchou no placar em razão da
superioridade técnica, mas também por conta da melhor condição física em
relação aos europeus.
Aos 14
minutos, Gérson deu um daqueles lançamentos de Gérson.
Da
intermediária, fatiou a bola no peito de Pelé, que dentro da área, matou no
peito e fuzilou o goleiro tcheco.
Apenas três
minutos mais tarde, outro passe com GPS de Gérson, dessa vez o Canhotinha de
Ouro estava atrás do meio-campo quando lançou Jairzinho, que com muita
velocidade escapou da defesa que marcava em linha.
O goleiro
Viktor saiu desesperado e o camisa 7 chapelou o indefeso arqueiro, matou no
peito e cumprimentou à rede.
Os europeus
já estavam rendidos pelo calor e pela evidente superioridade dos brasileiros,
quando Pelé tocou para Jairzinho na intermediária.
O atacante
partiu para cima dos tchecos e driblou três adversários antes de arrematar um
chute cruzado e rasteiro para encerrar o placar.
Sem
problemas, com tranquilidade e poder de reação, a Seleção Brasileira deixou um
belo cartão de visitas logo na estreia e despontou como favorita na busca do
Tri, porém, ainda com um longo e difícil caminho a pavimentar, como provaria a
partida seguinte contra o English Team.
Brasil 1 a 0
Inglaterra
A segunda
rodada do grupo 3 colocou frente a frente os times favoritos a classificação.
A partida de
7 de junho seria também um aguardado encontro entre dois campeões mundiais.
Em 40 anos de
disputa entre seleções nacionais e sem contar com duas edições canceladas em
razão da 2ª Guerra, aquela era apenas a 9ª Copa do Mundo e somente um seleto
grupo composto por Brasil, Itália, Uruguai, Alemanha e Inglaterra ostentava ao
menos uma conquista de melhor equipe de futebol do planeta.
Entre
ingleses e brasileiros, a expectativa também era grande, pois nas três Copas
anteriores, entre 1958 e 1966, Brasil e Inglaterra monopolizaram o topo do
futebol mundial pelos últimos 12 anos e se revezaram como campeões garantindo o
bicampeonato tupiniquim e o único título do time da Rainha.
Além disso, o
confronto sempre parelho já havia criado uma certa tradição, pois nas campanhas
de 58 e 62, os brasileiros enfrentaram os ingleses no caminho do título.
Todo esse
histórico colocava ainda mais ingredientes na partida que poderia encaminhar a
classificação do vencedor.
Os ingleses
vinham de vitória magra contra a Romênia na estreia e sem dúvidas era o elenco
adversário mais complicado do grupo, com um time repleto de remanescentes do
título de 1966 como Bobby Moore, Gordon Banks, Martin Peters e Bobby Charlton.
Com tudo isso
em jogo, o público compareceu em peso e 66.843 pessoas foram ao estádio Jalisco
para assistir a uma partida duríssima, disputada palmo a palmo no incandescente
gramado sob o pino do meio-dia do escaldante verão mexicano e com um grande
trabalho defensivo dos ingleses que anularam Pelé.
Porém, aquela
seleção tinha o diferencial proposto por Zagallo e justamente contra a
Inglaterra, a movimentação ofensiva dos brasileiros foi mais evidente e
eficiente.
Com um
ferrolho na frente da área inglesa, os jogadores da Amarelinha precisaram
buscar os lados do campo.
Em jogadas
iniciadas pelos flancos, os principais momentos da partida aconteceram.
Carlos
Alberto Torres lançou Jairzinho que foi ao fundo e cruzou para Pelé.
O camisa 10
subiu e fez o movimento perfeito do cabeceio para o chão, Gordon Banks saltou e
conseguiu tirar em cima da linha no lance que ficou marcado como a “defesa do
século”.
Ainda com o
marcador zerado, outra grande defesa marcaria o jogo.
Num cabeceio
à queima roupa de Lee, Félix fez a “defesa da Copa” para o Brasil e no rebote,
lançou-se corajosamente para abafar a bola.
No ímpeto de
fazer o gol, Lee chutou e acertou o rosto do goleiro brasileiro.
A coragem e
técnica de Félix desmentem a narrativa de “goleiro fraco” que a crônica
esportiva da época colou no arqueiro.
O empate sem
gols persistia até que Jairzinho trocou de lado mais uma vez.
Tostão foi
para a esquerda e driblou dois ingleses para fazer a meia-volta e cruzar com
perfeição para Pelé dominar e apenas rolar de lado para Jairzinho anotar o gol
da vitória.
Com o gol de
Jairzinho, o Brasil garantiu a segunda vitória e seguiu forte no Mundial.
Além disso, o
time brasileiro descobriu que o Furacão da Copa sopraria ventos fortes capazes
de derrubar até a mais sólida defesa inglesa.
Brasil 3 a 2
Romênia
No
encerramento da primeira fase, a Romênia foi a adversária, no dia 10 de junho,
diante de 50.804 pessoas no estádio Jalisco.
Com 100% de
aproveitamento nas duas primeiras rodadas, apenas uma combinação absurda de
resultados tiraria a Amarelinha das quartas de final.
Zagallo
decidiu poupar Rivelino e Gérson e tirou os dois meias canhotos da partida.
Mais do que
poupar, a substituição servia para rodar o elenco e deixar os jogadores
motivados — se é que seja necessário algum incentivo extra do que estar numa
Copa do Mundo.
Entraram o
zagueiro Fontana no lugar de Gérson, o que fez com que o coringa Piazza, que
jogou os dois primeiros jogos na zaga, voltasse ao meio-campo; e Paulo Cézar
Caju na vaga de Rivelino.
PC Caju era
destaque e titular absoluto no Botafogo, mas na seleção era difícil conseguir
uma vaga entre as Feras ainda que o atacante fosse inquestionavelmente uma
delas.
Era mais uma
questão de ajuste das características e o grupo base com Gérson, Clodoaldo,
Rivelino, Tostão, Pelé e Jairzinho era tão afinado que parecia ter nascido para
jogar junto.
Apesar de
talentoso, depunha contra Caju seu temperamento forte, que o colocava como um
dos primeiros bad boys brasileiros.
Porém, o
atacante era um driblador dos melhores de sua geração e provou que tinha lugar
no grupo.
Logo nos
primeiros minutos, PC Caju mostrou que tinha a chave do jogo e tratou de
desarrumar o lado direito da defesa romena com uma sequência de dribles
desconcertantes e num chute de fora da área acertou a trave.
A Romênia de
1970 era uma equipe representada por uma das melhores gerações do país com
jogadores como Dembrowski, Lucescu e Dumitrache.
Mesmo assim,
com a defesa aberta pela bagunça de Caju, Pelé abriu o marcador aos 19 minutos
e Jairzinho ampliou aos 27.
Em menos de
meia hora de bola rolando, o Brasil resolveu a partida e poderia descansar para
a próxima fase.
Nada disso,
porém, havia sido combinado com os romenos.
Os europeus
passaram a pegar pesado na marcação e em algumas divididas, até com excesso de
violência.
A intervenção
do treinador romeno ao tirar o goleiro Adamache, que perceptivelmente nervoso
dava rebote em todas as finalizações brasileiras, surtiu efeito e melhorou a
equipe europeia.
A fim de não
apanhar, os brasileiros passaram a explorar os contra-ataques e isso foi um
erro por dois motivos.
Primeiro,
porque a característica daquele time era propor o jogo, na sistemática posse de
bola residia o melhor esquema defensivo da história.
Depois,
porque Fontana fazia péssima partida.
A união
desses dois fatores permitiu que a Romênia descontasse antes do intervalo.
Aos 34
minutos, Dumitrache era o único romeno dentro da área brasileira e aproveitou
um bate cabeça generalizado da zaga para bater no canto de Félix que nada pôde
fazer.
Passado o
susto, na etapa final o Brasil chegou ao terceiro gol num escanteio batido no
primeiro pau para Tostão desviar com o calcanhar e encontrar Pelé dentro da
pequena área.
Ainda haveria
tempo para Dembrowski descontar, mas a vitória brasileira estava garantida e a
campanha rumo ao Tri seguia 100%.
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