Sei o quanto é difícil a função de um jornalista esportivo numa cidade onde só existem duas equipes capazes de atrair as atenções da esmagadora maioria dos interessados em futebol...
Vivo essa dificuldade todos os dias.
Isso acontece em Minas Gerais, no Rio Grande do Sul, na Bahia, aqui e em alguns outros estados brasileiros.
A falta de concorrência concentra e essa concentração acaba por produzir a falsa idéia de que ao elogiar um, você está contra o outro e vice versa.
Infelizmente, essa concepção dualística se sobrepõe...
Faz parte do senso comum.
(Se você criticar as invasões de terra será um reacionário e não um legalista)...
(Se ousar dizer que não gostaria de ter um filho homossexual, será um bastardo preconceituoso e não, apenas um sujeito que gostaria de ver seu filho (a), lhe dar o prazer de ser avô)...
E por aí vai...
Mas pior que isso, é quando a cidade é diminuta e quase todos se conhecem...
As relações tendem a sofrer constantes desgastes, pois o critico corre sempre o risco de ver o criticado tomar as critica como uma ofensa pessoal.
(Se você disser que fulano é mal dirigente, ele vestirá a carapuça e partirá para cima de você, como se você tivesse dito: “ele mal pai, mal esposo, mal amigo, mal patrão, mal caráter e qualquer outro mal, que lhe vier à cabeça”).
(Se você disser que o time é ruim, vão “entender” que você desrespeitou a instituição, a história e as glórias do clube, vão pregar que você quer a destruir o que tanto tempo se levou para construir).
Confundem a equipe, que é passageira, com a instituição que é eterna...
Talvez por isso, alguns comentaristas tenham a tendência de “morder e soprar”...
Não que isso signifique fraqueza ou medo, mas em geral, tal posicionamento é apenas uma forma de evitar seqüelas desnecessárias.
(Fulano é isso, é aquilo e aquilo outro, mas é honesto, caridoso, têm dois gatos, três cachorros e contribui mensalmente com a casa das velinhas)...
Hoje, vi mais uma vez o ABC ser derrotado, já esperava, aliás, eu todo mundo que vive com os pés na terra, mas, aqueles que vivem no Sítio do Pica Pau Amarelo, certamente não, pois conseguem conversar com um sabugo de milho, dar atenção a uma boneca de pano e disputar com o Saci-Pererê a hegemonia nas peraltices.
Ouvi elogios a nova “postura tática” da equipe e a “atitude dos jogadores”...
Meu Deus!
Serei eu um louco?
Essa postura tática, apenas adiou do primeiro para o segundo, a ampliação do marcador...
Já sei...
Vão dizer que a expulsão de Rogério facilitou as coisas...
Que coisas?
O placar já era de 2x0...
A postura dos jogadores tão decantada acarretou uma derrota de 3x0...
Isso é goleada em qualquer lugar do mundo!
Lúcido foi Leonardo, que ao deixar em campo, declarou ao ser perguntado se a postura do time tinha melhorado: “melhorou, mas isso não é o suficiente”!
E nada mais disse.
Ouvi afirmações de que o Vasco é fraco e que o Guarani também o é...
Tem razão quem disse isso, mas esqueceram de dizer duas outras coisas...
A primeira:
O Vasco e o Guarani são fracos sim, mas para disputar a Série A, na Série B, um é vice-líder e o outro é líder e, ao que me consta, o critério para ascender a Série A é conquistar pontos e isso, esse dois fracotes estão fazendo sem maiores problemas...
A segunda:
Campinense, ABC, São Caetano, Paraná, Juventude e Vila Nova, estariam dando saltos de alegria se seus elencos fossem no mínimo, iguais aos deles.
O fato é que independente de “soprar e morder”, perder em São Januario deixou o ABC com 7 pontos na tabela e correndo o risco de ver Paraná e Juventude ampliar a vantagem atual de 4 pontos, para 7 pontos...
O fato é que restam para o ABC, 78 pontos em disputa e que no momento, são necessários 45 pontos para que se evite a queda para a Série D, portanto, o ABC precisa agora, conquistar 38 pontos e isso, são quase 50% dos pontos necessários...
Com esse elenco e sem condições financeiras de arcar com contratações que realmente cheguem para resolver, podemos crer que tal feito será alcançado?
Hoje, só outro fato inegável mantém minha crença nessa possibilidade...
Paraná, Juventude, Vila Nova e Bahia, patinam e se continuarem assim, talvez a tal postura venha a ser a tão ansiada saída.