terça-feira, março 15, 2011

Futebol não é um grande negócio...


Há algum tempo, publiquei uma matéria, onde um economista apaixonado pelo esporte mostrava que essa história de dizer que o futebol era um grande negócio, era mera falácia de gente que nada sabe de economia e pensa que sabe muito de futebol...


Repercussão zero...


Afinal, quem vai repercutir contra si mesmo?


Agora, Oliver Seitz do site http://www.universidadedofutebol.com.br/, publica uma nova matéria sobre o assunto, que Juca Kfouri reproduziu e eu, pego carona.


Por Oliver Seitz


Não interessa quanto de dinheiro um clube ganha. Porque quanto mais ele ganha, mais ele efetua gastos.


Alguém disse um dia que o futebol é um grande negócio.


Um monte de gente acreditou.


Esse alguém e esse monte de gente, infelizmente, estão errados.


Futebol não é um grande negócio.


É um negócio mediano.


Energia, alimentação, automóveis, extração, jogos de azar e construção são grandes negócios.


Futebol não.


Não chega nem perto.


Nem aqui, nem na Europa e muito menos na China.


Mas no fundo, isso pouco importa, afinal o futebol independe do dinheiro que ele gera.


Não é isso que faz a máquina funcionar.


Se o futebol gera 10 milhões ou 10 bilhões de reais, a diferença, especialmente pro mercado brasileiro, é muito pequena.


Isso acontece porque a cadeia de valores do futebol funciona de uma maneira bastante peculiar.


Diferente de cadeias normais, onde o processo de produção é baseado essencialmente no processo financeiro, o futebol se baseia no processo esportivo, independente do financeiro.


Basicamente, a ideia da cadeia é a seguinte: times existem para ganhar partidas; times com jogadores mais talentosos ganham mais partidas; existem muito mais demanda do que oferta de jogadores talentosos; jogadores talentosos tendem a escolher o clube por conta da proposta financeira; quanto mais dinheiro um clube tem, mais chance de contratar jogadores talentosos ele possui e, portanto, ele terá mais chances de obter vitórias.


Só que o valor de um jogador talentoso não é baseado em uma tabela fixa, mas sim no preço atribuído por outros clubes que competem pelo mesmo talento, independente do quanto for isso.


Clubes de futebol do mundo inteiro tendem a gastar em média uns 80% daquilo que arrecadam com salários e transferências e apenas 20% com outros custos, como estrutura de estádio e centro de treinamento.


Esses últimos, porém, são gastos com valores determinados pelo mercado em geral, o que faz com que apenas essa parcela represente um ganho real de receita.


Para esses valores, mais dinheiro de fato significa algo positivo.


O resto, porém, é uma draga: quanto mais você ganha, mais você gasta.


Ou seja, não interessa quanto de dinheiro um clube ganha.


Porque quanto mais ele ganha, mais ele gasta.


O que interessa é que ele ganhe mais dinheiro do que os outros clubes.


Se você analisar os números, na verdade você chega à conclusão que isso acontece de verdade: apesar das receitas dos clubes brasileiros terem aumentado significativamente ao longo da última década, os gastos aumentaram muito mais.


Isso porque a competitividade por talento é quase que uma disputa bélica, e o único jeito de acabar com isso é justamente o jeito com que EUA e Rússia conseguiram frear o espiral de gastos da guerra fria: chegaram a um acordo de corte de gastos conjunto.


Clubes não deveriam se unir para descobrir um jeito de ganhar mais dinheiro.


Deveriam se unir para descobrir um jeito de gastar menos.


Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br


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