Por Leonardo Lepri Ferro
Um país como outro qualquer, que
enfrenta os mesmos problemas e dificuldades de outro qualquer.
Mas o que faz do Uruguai, e de
seu presidente, um Estado especial, é a valentia em tomar decisões que nenhum
outro mandatário jamais ousou colocar em prática.
Desta vez Pepe Mujica decidiu
concentrar esforços para combater um problema latino-americano (e que não se
trata de uma exclusividade nossa) bem comum: a violência no futebol, que ele
próprio definiu como uma “causa nacional”.
“Os uruguaios não podem continuar com essa irracionalidade,
consolidando a estupidez humana. Devemos reagir urgente”, declarou Mujica
após os incidentes que envolveram torcedores do Nacional e policiais na última
quarta-feira.
Após a derrota para o Newell’s,
partida válida pela Copa Libertadores, hinchas locais entraram em um confronto
generalizado com os homens da lei.
O saldo ficou em 40 torcedores
presos, 28 policiais feridos e três torcedores argentinos esfaqueados em uma
emboscada preparada por torcedores do Nacional.
O presidente anunciou sua
decisão; RETIRAR O POLICIAMENTO das partidas de Peñarol e Nacional.
Ou seja, não haverá mais controle
nos estádios Centenário e Parque Central.
“Estou disposto a parar o futebol, se for necessário, até que se tomem
medidas. Para começar vamos cortar a proteção policial. Cada vez pedem mais
segurança nos estádios, mas depois não respeitam nada e ainda por cima colocam
a culpa na polícia”, disse Mujica.
A medida é polêmica e pode
interromper o campeonato uruguaio.
Muitos alegam que é
inconstitucional e ilegal, uma vez que o Estado deve prover a proteção em
espetáculos públicos e não pode renunciar às suas responsabilidades.
Pepe Mujica convocou uma reunião
para a tarde desta sexta-feira.
Ele quer ver e ouvir propostas
dos presidentes de Peñarol (que inclusive cogita jogar com portões fechados
caso não houver policiamento), Nacional e da Associação Uruguaia de Futebol.
Segundo Pepe; “Os grandes são os primeiros que devem
reagir pois representam 90% do país”.
Apesar do grande debate ao redor
do tema, vale considerar que esta é a primeira vez que o Poder Executivo do
país se posiciona em relação à violência nos estádios, e que algo similar nunca
foi tentado antes.
“Já sabemos que amontoando policias não solucionamos nada. Hoje parece
que devemos separar (os torcedores) como se fôssemos todos leprosos”,
comentou Pepe.
Enquanto muitos engravatados por
aí apresentam planos mirabolantes, soluções a largo prazo, medidas
educacionais, limitações para as torcidas, maior concentração de efetivos
policiais em eventos esportivos, Mujica, novamente, foge da obviedade de
suposições e recursos que não chegam nem perto de serem efetivos; de quebra
demonstra o quanto seu Uruguai está à frente dos demais.
Não pela proposta em si, mas pela
coragem em adotá-la.
Do blog:
Depois da decisão de José Mujica,
O Conselho Executivo da AUF – Associação Uruguaia de Futebol apresentou a
demissão em bloco após reunião com o presidente, Sebastián Bauzá, presidente do
conselho.
Apesar de uma nova direção já ter
ocupado o cargo, o presidente uruguaio não abre mão de sua decisão.
Mujica nega que tenha tentado
influenciar a gestão do futebol.
Disse apenas ter exigido dos
clubes que aprovassem o regulamento da Fifa que prevê punições com pontos aos
times envolvidos em brigas.
Além disso, ele quer que se
defina uma data para que a AUF compre um software que permita o reconhecimento
dos barra-bravas que brigam nos estádios.
Segundo o presidente, a polícia
poderá voltar aos estádios se essas condições forem cumpridas.
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