O Amadorismo Marrom do ABC
Por Rafael Morais
Para Carta Potiguar
Eu não entendo porque ainda me
perguntam os motivos ou explicações para as crises seguidas que passa o ABC.
É tão obvio e evidente.
Só vocês não enxergam.
Em pleno século 21, era da
globalização, das tecnologias avançadas, o futebol de cá parece mais aquele de
quarta série, aonde todo mundo vai de uma só vez em cima da bola.
O futebol não é mais o mesmo jogo
que Charles Miller trouxe da Inglaterra, em 1894, quando ele retornou ao Brasil
com duas bolas, um livro de regras, chuteiras e um jogo de uniformes.
Quando o jogo de bola ainda era
mecanismo de posição social da aristocracia, amador, elitista, excludente e
racista.
Foi-se o tempo em que o comando
de um clube de futebol era baseado única e exclusivamente em vontades pessoais
de um ou outro dirigente.
O futebol há tempos ocupa um
espaço privilegiado no mundo globalizado dos negócios, claramente na indústria
do entretenimento.
O mundo do futebol, hoje, exige
amplo conhecimento e estudo de todos os aspectos que envolvem o esporte.
Será possível que nós ainda não
percebemos isso?
Chega de dirigentes interessados
no monopólio do poder.
Do fim da gestão por modelo
estereotipado, com experiências práticas fechadas em si mesmo.
Não a visão centralizadora,
egocêntrica, soberana, inatingível no seu território de poder e saber, para
satisfazer seus interesses pessoais ou de pequenos grupos, em detrimento dos
coletivos.
Parece que vivemos ainda no ano
de 1933, quando o futebol brasileiro resolveu enfim, de forma efetiva, vencer o
amadorismo e praticar uma palavra chamada profissionalismo, mas que, por força
de vícios maiores, acabou, no máximo, implementando algo conhecido como
amadorismo marrom, o amadorismo disfarçado de profissionalismo.
É preciso entender de uma vez por
todas que essa fase já devia ter ficado para trás há muito tempo.
Mas não, cem anos depois,
continuamos com o mesmo estilo do amadorismo marrom, disseminando podridões
como jogos de poder, incompetência, desinformações, fragmentações, desmandos e
conflitos internos.
Estamos, ainda, em meio à
transição entre o amadorismo marrom e o profissionalismo em todos os níveis.
E pior, tendo que conviver com
consequências e sintomas gravíssimos desse atraso, como por exemplo, a situação
financeira falimentar, com gigantescas dívidas e patrimônios ameaçados.
O caminho é um só, modernizar a
gestão dos nossos clubes e qualificar o rendimento competitivo dos nossos
times.
Investir no departamento do
futebol com responsabilidade, sem comprometer as contas no fim do mês, manter
investimento mínimo e permanente nas categorias de base e no futebol feminino,
respeitar as regras de transparência e romper o modelo antigo e ultrapassado de
gestão com novos e reciclados profissionais, são apenas algumas dicas que
podemos seguir.
Em suma, dar um fim a essa fase
nefasta de amadorismo marrom.
Precisamos também valorizar o
mais expressivo patrimônio do clube, pela fidelidade, amor entusiasmo, paixão e
pelo potencial de gerar receitas: o torcedor.
Lembre-se, feridas na alma não
podem ser fechadas, nem com cirurgia plástica.
Aprendi lendo o cronista
Brasigóis Felício.
O futebol fala à alma.
O torcedor ferido é um doente em
fase terminal.
Nossos jovens agora torcem por
times Europeus. Deem mais valor e importância a quem nos fez e ainda nos faz
grandes.
Temo, e muito, que esse
amadorismo marrom continue sendo regra, e que meu esporte favorito deixe de
fazer parte do cotidiano das pessoas, das diferentes camadas sociais,
envolvendo grande parte do território do Elefante, congregando multidões e,
sobretudo, muitas emoções.
Salvem o Mais Querido, salvem o
Mais Querido, salvem o Mais Querido…
Um comentário:
troco nesse texto o nome do aBC pelo América. todos iguais...
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