quinta-feira, outubro 01, 2015

O Barcelona espalha "escolinhas", não para "peneirar" atletas, mas para formar torcedores...

Como o Barcelona usa escolinhas no Brasil não para peneirar jogadores, mas formar fãs

Três unidades, em SP e no RJ, já treinaram 5 mil garotos, mas espanhóis estão mais interessados em marketing do que futebol

Por Rodrigo Capelo

O Barcelona tem três escolinhas de futebol no Brasil – duas no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca e no Jardim Botânico, e uma em São Paulo, na Barra Funda – e treina hoje cerca de 1,2 mil garotos brasileiros.

Entre eles os filhos dos ex-jogadores Pedrinho, Felipe, Ricardo Rocha e Iranildo, do executivo de futebol do Flamengo, Rodrigo Caetano, e até o neto de Zico.

Mas nenhum desses meninos será levado dessas escolas direto para as categorias de base do clube espanhol.

O Barcelona não aposta nesta iniciativa para encontrar talentos e obter atletas.

Está mais interessado em formar torcedores.

Os garotos que treinam nas escolinhas brasileiras do Barcelona têm entre seis e 13 anos – é nesta faixa etária que times são escolhidos.

Os espanhóis passam à Klefer, agência de marketing esportivo que administra o negócio no Brasil, uma série de regras: deve haver um profissional de futebol vindo direto da Espanha na coordenação técnica, os materiais esportivos devem ser oficiais, da Nike, entre outras exigências para ter qualidade similar à de Barcelona.

E aí, mesmo que surja um Neymar ou um Messi em potencial, mesmo que o garoto seja encaminhado para algum clube e depois seja vendido por milhões, a escolinha do Barcelona não leva um centavo, nem como formadora.

"Mandamos carta à Fifa dizendo que o objetivo não é revelar garotos. O objetivo é marketing, é uma licença", explica Kleber Leite Filho, diretor que se responsabiliza pelo projeto na agência.

"Teve um garoto que jogou um torneio, um olheiro do Vasco o viu, e ele foi treinar lá. Não temos participação em nada".

O problema é o custo.

Como a Klefer licenciou este direito, paga ao clube quantia fixa em euros – o real desvalorizado agrava o quadro para o lado brasileiro.

A estadia do profissional vindo de Barcelona precisa ser bancada pela operação das escolinhas, bem como os materiais esportivos da Nike, ainda que esses saiam um pouco mais em conta hoje após negociação da Klefer com a Netshoes, parceira da marca americana no país.

Também entram nas despesas a manutenção do gramado natural na Barra da Tijuca, custos trabalhistas dos profissionais de educação física contratados, fora investimentos feitos em infraestrutura nas três unidades.

As mensalidades acima da média para o mercado brasileiro, de R$ 240 por garoto, asseguram à operação uma receita próxima de R$ 3,5 milhões.

Com merchandising, venda de produtos licenciados, viagens para torneios nacionais e internacionais, o faturamento sobe um pouco, mas não chega a R$ 4 milhões.

A projeção de Leite Filho, para 2015, é terminar o ano com prejuízo de R$ 600 mil.

"Temos a expectativa de break-even (quando uma operação começa a dar lucro) no ano que vem", diz o diretor.

"É um processo de amadurecimento. Ainda é um investimento nosso, mas com a boa imagem que conseguimos construir vamos chegar ao ponto de equilíbrio".

Se a expectativa otimista se cumprir, o próximo passo será construir uma nova escolinha em Porto Alegre.

Ao Barcelona, que já teve contato com 5 mil garotos paulistas e cariocas desde 2012, a expansão interessa: passará a formar pequenos fãs gaúchos.

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