Como o Barcelona
usa escolinhas no Brasil não para peneirar jogadores, mas formar fãs
Três
unidades, em SP e no RJ, já treinaram 5 mil garotos, mas espanhóis estão mais
interessados em marketing do que futebol
Por Rodrigo
Capelo
O Barcelona
tem três escolinhas de futebol no Brasil – duas no Rio de Janeiro, na Barra da
Tijuca e no Jardim Botânico, e uma em São Paulo, na Barra Funda – e treina hoje
cerca de 1,2 mil garotos brasileiros.
Entre eles os
filhos dos ex-jogadores Pedrinho, Felipe, Ricardo Rocha e Iranildo, do
executivo de futebol do Flamengo, Rodrigo Caetano, e até o neto de Zico.
Mas nenhum
desses meninos será levado dessas escolas direto para as categorias de base do
clube espanhol.
O Barcelona
não aposta nesta iniciativa para encontrar talentos e obter atletas.
Está mais
interessado em formar torcedores.
Os garotos
que treinam nas escolinhas brasileiras do Barcelona têm entre seis e 13 anos –
é nesta faixa etária que times são escolhidos.
Os espanhóis
passam à Klefer, agência de marketing esportivo que administra o negócio no Brasil,
uma série de regras: deve haver um profissional de futebol vindo direto da
Espanha na coordenação técnica, os materiais esportivos devem ser oficiais, da
Nike, entre outras exigências para ter qualidade similar à de Barcelona.
E aí, mesmo
que surja um Neymar ou um Messi em potencial, mesmo que o garoto seja
encaminhado para algum clube e depois seja vendido por milhões, a escolinha do
Barcelona não leva um centavo, nem como formadora.
"Mandamos carta à Fifa dizendo que o objetivo
não é revelar garotos. O objetivo é marketing, é uma licença", explica Kleber Leite Filho, diretor que se
responsabiliza pelo projeto na agência.
"Teve um garoto que jogou um torneio, um olheiro
do Vasco o viu, e ele foi treinar lá. Não temos participação em nada".
O problema é
o custo.
Como a Klefer
licenciou este direito, paga ao clube quantia fixa em euros – o real
desvalorizado agrava o quadro para o lado brasileiro.
A estadia do
profissional vindo de Barcelona precisa ser bancada pela operação das
escolinhas, bem como os materiais esportivos da Nike, ainda que esses saiam um
pouco mais em conta hoje após negociação da Klefer com a Netshoes, parceira da
marca americana no país.
Também entram
nas despesas a manutenção do gramado natural na Barra da Tijuca, custos
trabalhistas dos profissionais de educação física contratados, fora
investimentos feitos em infraestrutura nas três unidades.
As
mensalidades acima da média para o mercado brasileiro, de R$ 240 por garoto,
asseguram à operação uma receita próxima de R$ 3,5 milhões.
Com merchandising,
venda de produtos licenciados, viagens para torneios nacionais e
internacionais, o faturamento sobe um pouco, mas não chega a R$ 4 milhões.
A projeção de
Leite Filho, para 2015, é terminar o ano com prejuízo de R$ 600 mil.
"Temos a expectativa de break-even (quando uma
operação começa a dar lucro) no ano que vem", diz o diretor.
"É um processo de amadurecimento. Ainda é um
investimento nosso, mas com a boa imagem que conseguimos construir vamos chegar
ao ponto de equilíbrio".
Se a
expectativa otimista se cumprir, o próximo passo será construir uma nova
escolinha em Porto Alegre.
Ao Barcelona,
que já teve contato com 5 mil garotos paulistas e cariocas desde 2012, a
expansão interessa: passará a formar pequenos fãs gaúchos.
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