quarta-feira, setembro 13, 2017

Os Ronaldos do México...

Imagem: El País/Carlos Juica


O fenômeno dos Ronaldos no México

A fase áurea do centroavante brasileiro inspirou o nome de mais de 8.120 bebês no país; 123 deles viraram jogadores de futebol, e um já chegou à primeira divisão

Por Diego Mancera para o El País

Mario Cisneros assistia a qualquer jogo que pintasse na telinha.

Aproveitava que havia contratado um canal pago.

Nos finais de semana, via o Barcelona e, em especial, aquele centroavante que sempre marcava.

Era Ronaldo Nazário.

Cisneros não lembra o dia, mas sim que o brasileiro fez três gols.

Teria sido contra o Valencia?

Contra o Atlético?

Tanto faz.

O fato é que, por causa daquele hat-trick, esse cidadão de Torreón, (norte do México) decidiu que seu filho se chamaria Ronaldo.

“Não precisamos mais procurar um nome. Vou colocar Ronaldo”, disse Mario à sua esposa, Olga, quando esperavam o primeiro filho.

Ela preferiu assim, em vez de o menino herdar o nome do pai ou do avô.

Mas a euforia de ter encontrado o nome ideal diminuiu quando ela pensou nas consequências disso para o garoto.

“E se ele não gostar de futebol? Nunca se sabe. Talvez ele goste, mas não jogue bem. Se não gostasse, talvez dissessem que ele não joga nem bola de gude. Com esse nome iriam rir dele”, comenta o pai na sala da sua casa.

Cisneros foi ao cartório de registro civil com uma folha de papel.

Plantou-se na frente da escrevente.

“Assim como está escrito”, pediu.

O papel dizia: Ronaldo Cisneros Morell.

“Levei o nome por escrito para que não errassem”, comenta, lembrando as frequentes correções nas certidões de nascimento mexicanas.

O nome Ronaldo se popularizou no México a partir do estrelato do atacante brasileiro.

Segundo um pedido de informação feito pelo EL PAÍS ao registro civil, a partir de 1996 começaram a ser registrados bebês com esse nome.

Num período compreendido entre 1º. de janeiro de 1996 e 24 de abril de 2017 há 8.129 mexicanos batizados dessa forma.

O primeiro deles a virar jogador de futebol tem o sobrenome Cisneros.

Na base de dados da Federação Mexicana de Futebol há 123 atletas chamados Ronaldo.

Nomes como Ronaldo Romário Cinta, José Ronaldo Piña, Oliver Ronaldo e Ronaldo Zinedin, que por sinal é colega de Cisneros.

Todo um catálogo de combinações onomásticas.

Estes nasceram a partir de 1994, ano em que o Brasil foi campeão do mundo.

Nos registros também se destacam nomes como Beckham Martínez e Ronaldinho Marroquín.

O futebol se tornou essencial para alguns mexicanos na hora de escolher o nome dos filhos.

Ronaldo Cisneros tem 20 anos.

É atacante e joga no Santos Laguna.

Seus amigos o chamam de Ron.

“Com os professores eu tive vários problemas. Me chamavam por outro nome: Rolando, Rodolfo, ou achavam que esse não era o meu nome”, lembra o garoto, que já vestiu a camisa do México no Mundial Sub-20 deste ano e marcou dois dos quatro gols da Tricolor.

E usou o número nove.

Do nome herdou o apetite artilheiro.

“No primário me perguntavam por que tinham me dado esse nome, se era pelo Cristiano Ronaldo ou por causa do Fenômeno”, conta o jovem, que usava camisas com o nome e sobrenome de ambos – e também de Messi.

O pequeno Ronaldo começou a jogar bola aos cinco anos.

Seu treinador no Peñoles o colocou como centroavante.

“Nunca o tiraram dessa posição. Quando joga, responde. A cada dia vejo que se especializa mais. Tem facilidade para fazer gols”, diz o pai.

Cisneros foi goleador desde pequeno, no sub-17, no sub-20 e em torneios internacionais com a seleção de base.

Na sua casa, em meio aos troféus, se destaca a chuteira de ouro que ganhou como artilheiro do pré-mundial sub-20.

Atualmente, está inscrito na equipe principal do Santos Laguna, embora jogue entre os juvenis, onde soma nove gols em oito partidas – um a cada 69 minutos.

– Você daria ao seu filho nomes como Pogba, Neymar, Ibrahimovic ou algum outro jogador?

– Sim, se eu gostar do nome – responde Ronaldo. – Se for o nome de um jogador, de um cantor ou da Bíblia, se respeita e é normal, porque a gente gosta.

Seu Mario tinha no quarto um pôster do Ronaldo brasileiro.

Seu filho tem as fotos de Cristiano Ronaldo, Raúl, Van Nistelrooy e Beckham.

O pai dele nunca lhe comprou uma camisa do Brasil, nem rapou seu cabelo como fez o brasileiro.

A idolatria pelo ex-craque não chegava a tanto.

Ronaldo usa a nove desde as categorias inferiores.

Mas no seu primeiro clube precisou se contentar com a 29, e quando o Santos Laguna lhe permitiu escolher e lembrou desse número.

“Me dá sorte”, diz.

Na sua temporada de estreia, vestiu a 97, pelo ano do seu nascimento – e talvez também por ser, de alguma forma, a combinação entre o nove de Ronaldo Nazário e o sete de Cristiano.

“A qualquer momento pode chegar a possibilidade. Atualmente as vagas no ataque são ocupadas por estrangeiros”, reflete o atacante, que soma 127 minutos na primeira divisão.

O futebol do México, cada vez mais carente de centroavantes, tem o seu Ronaldo.

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