Imagem: Felipe Iruatã/O Globo
A Fonte Nova
é a Catedral de Santa Dulce dos Pobres
Uma semana
após a cerimônia de canonização de Irmã Dulce, no Vaticano, quando passou a ser
Santa Dulce dos Pobres, a Bahia abriu os braços para receber a primeira santa
brasileira e a casa para comportar tal festa não poderia ser outra: a Fonte
Nova, casa do futebol, da cultura e, agora, a Catedral do Anjo Bom da Bahia.
Pedro
Henrique Brandão Lopes
A cerimônia
de canonização de Irmã Dulce aconteceu no domingo passado, no Vaticano, quando
o Papa Francisco reconheceu oficialmente os milagres de Santa Dulce dos Pobres.
Uma semana
depois, agora como santa, o Anjo Bom da Bahia voltou para casa e não havia
lugar mais apropriado em terras soteropolitanas para receber a primeira santa
brasileira, do que a Arena Fonte Nova.
Lugar
perfeito para receber muita gente que queria demonstrar sua fé pela santa da
casa que faz milagre.
Um domingo
ensolarado na capital baiana em que as temperaturas chagaram à 32 graus e as arquibancadas
da Fonte Nova foram lotadas como se fosse acontecer mais uma partida pelo
Brasileirão.
Mais de 49
mil pessoas foram até o estádio para saudar a imagem de Santa Dulce dos Pobres
que parece já ter alcançado seus fiéis, pois mesmo com muito calor e
aglomeração de pessoas, a celebração durou quase 4 horas, mas há quem chegou ao
local 8 horas antes do horário marcado.
A devoção a
mais nova santa não é para menos, afinal já há quem esteja rogando por Santa
Dulce nos momentos mais inusitados.
Nessa semana,
ganhou o Brasil, a narração de um jogo do CSA em que um narrador de rádio clama
por Santa Dulce e pede pela vitória do time alagoano.
Futebol,
aliás, não era algo distante da vida Irmã Dulce.
Nascida em
Salvador, em 1914, ainda jovem descobriu sua vocação de freira, mas até os 13
anos, a hoje santa, tinha uma paixão um tanto menos ortodoxa: o futebol.
Mais
precisamente pelo Ypiranga, o aurinegro de Salvador, que teve tempos de glória
no futebol baiano.
Antes mesmo
de assistir do Ypiranga, Santa Dulce gostava de futebol, como confidenciou em
entrevista à TV Bahia, em 1986:
“Quando eu
era pequena, adorava ir para a rua brincar de bola”.
Augusto Lopes
Pontes, cirurgião dentista e pai de Irmã Dulce, foi o grande incentivador e
levava a menina ao campo do bairro da Graça, para assistir aos jogos.
“Eu ia todo
domingo para o Campo da Graça com meu pai ver futebol. A gente voltava sem
poder falar”.
Não se deixe
levar pela frágil aparência de Irmã Dulce, a devoção ao futebol do Ypiranga era
tão ou mais forte do que a vocação para fazer o bem, pois a Santa conhecia bem
seu time de coração e opinava sobre os jogadores:
“Popó era o
meu preferido. Era um escuro com as pernas tortas. Se ele estivesse vivo hoje,
ele seria Pelé. Ele era danado na bola”.
Popó era o
apelido de Apolinário Santana, o Craque do Povo, para muitos o maior jogador da
história do futebol baiano.
Popó viveu e
jogou em um tempo em que o futebol era elitista e estava disponível apenas para
algumas famílias soteropolitanas e negros eram pouco aceitos.
Quanto ao
Ypiranga, assim que a década de 1950 começou, Bahia e Vitória foram assumindo o
protagonismo do futebol baiano e o aurinegro ficou no passado até se licenciar
em 2007 depois de colecionar rebaixamentos.
Em 2010, o
time de Irmã Dulce voltou à ativa, mas acumulou dívidas e novos rebaixamentos e
voltou a se licenciar.
Porém o
Ypiranga da Vila Canária sempre será o primeiro time baiano a aceitar pobres e
negros, um dos melhores times de Salvador até os anos 1940, com o melhor
jogador baiano da história e agora o primeiro clube brasileiro, quiçá do mundo,
a ter uma santa no quadro de torcedores.
Por tudo
isso, nada mais apropriado e justo que a Fonte Nova tenha virado a Catedral de
Santa Dulce dos Pobres, com fiéis nas arquibancadas acenando com lenços e
celulares, num misto de fé, devoção e paixão, que são a base de qualquer
torcedor de futebol.
O templo
Fonte Nova já estava acostumado com demonstrações de fé.
Imagem: Eduardo Anizelli/Folha Press
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