Ontem como no jogo anterior, quando o ABC enfrentou e venceu o América por 1x0, deixei as cabines e fui assistir ao jogo nas cadeiras – queria sentir o clima, estar perto das pessoas e poder observar suas reações.
Fui para o lado esquerdo, e fiquei próximo aos últimos degraus, ao lado do espaço reservado para os torcedores visitantes.
Sentei e fiquei observando o Maria Lamas Farache ainda vazio, e pensei: pode-se até não gostar de Judas como pessoa e como administrador, mas negar a Judas, coragem e certo grau de “insanidade empreendedora” seria assinar um atestado de má fé...
Poucos teriam coragem para assumir um compromisso de tal envergadura, principalmente estando à frente de uma instituição que tem enormes dificuldades para gerar seus próprios recursos...
Gosto do Maria Lamas Farache tem alguma coisa ali que me agrada e agrada muito.
Mas como nem tudo pode ser perfeito, logo que os lugares foram sendo ocupados, fui provocado por um idiota que estava sentado a minha direita, uns degraus acima, mas que não vi quem era, pois não me dei ao trabalho de me voltar e olhar para saber quem era quando gritou: “tem um bosta de um americano aqui, já descobri quem é e vou ficar de olho nele”...
Pobre coitado, alguém devia informá-lo que quando ingressos são postos a venda, qualquer um, seja americano, viciado, estelionatário, traficante ou freiras, caso tenham pagado seu bilhete tem o direito de estar onde estão.
Depois, o boboca devia ficar feliz ao encontrar americanos, chilenos, bolivianos, negros, judeus, ciganos ou qualquer um, que tenha se disposto a gastar seu rico dinheirinho para assistir a um jogo do ABC, pois ao que me consta, o dinheiro que entra nas bilheterias do clube nos jogos no estádio Maria Lamas Farache, pertencem ao clube e, portanto, é parte da receita necessária para a quitação de compromissos e novos investimentos.
Rivalidade é uma coisa, burrice é outra!
Porém, como não lhe dei atenção e as pessoas à volta, também não, ele ficou sem platéia e calou-se...
É impressionante o que a proteção da multidão faz com o caráter das pessoas, duvido muito que o mequetrefe, fizesse isso estando a sós comigo (talvez fora dali, seja até uma pessoa afável).
Mas falemos do lado bom...
Poucos segundos depois, sentou-se ao meu lado um sujeito simpático que puxou conversa, e lá pelas tantas, me reconheceu (mesmo estando com uma barba de fazer inveja a mendigo, ainda sim, me reconhecem) e aí, travamos um animado diálogo sobre camisas de seleções exóticas...
Descobri que ele assim como eu, gosta de camisas de seleções como Armênia, Liechtenstein, Tonga e etc.
O nome do meu mais novo amigo é Zaigler, médico, neurocirurgião, colecionador de camisas de seleções (tem 80) e um cara super agradável.
Numa situação de emergência neurológica, espero tê-lo por perto, pois caso não tenha "conserto", meus últimos momentos serão preenchidos com um bom papo e em ótima companhia.
Do lado esquerdo, sentou um rapazola gente boa, mas que logo que a bola rolou, perdeu a compostura e soltou os “cachorros” (lembrei de quando tinha a idade dele, o que muda, é apenas o nome e o endereço, o comportamento é o mesmo).
Mas vamos ao jogo...
Eu diria que o primeiro tempo foi morno, não tão quente quanto eu esperava, pois imaginei que o ABC motivado pela vitória sobre o América e o Atlético pela necessidade de ampliar sua vantagem sobre o Ceará e os outros concorrentes, fossem atuar mais abertos...
Não foi assim!
Ambos mantiveram uma postura reservada, mas mesmo assim, ainda ocorreram claras oportunidades de gol.
No segundo tempo a coisa mudou e mudou para melhor, mas é bom que se diga que só mudou após o gol atleticano.
Aliás, alguns afirmaram que o gol saiu depois de Audálio cabecear mal a bola e ela sobrar para Alysson chutar cruzado e marcar...
A afirmativa seria verdadeira, se Alysson ao ficar com a bola não tivesse tido sua vida facilitada pela inação de Bosco, que sequer tentou correr para fazer a cobertura.
O silencio foi profundo, sepulcral, aterrador, parecia que todos haviam ido embora e deixado o Maria Lamas Farache vazio...
Pensei: e agora?
Aos poucos a torcida começou a voltar do estado catatônico e, num misto de esperança e desespero, grita incentivos, palavrões e criticas...
Tentavam fazer a sua parte.
Repentinamente, Flavio Lopes surtou e tirou Bruno Barros e Audálio, colocando Zé Eduardo e Ivan...
Zaigler me perguntou: você não acha que ele está abrindo em demasia?
Respondi: Flavio não pode perder e, já está perdendo, não tem mais porque se defender, ele vai para o tudo ou nada.
Minutos depois, Flavio tira Bosco (que partida ruim do Bosco) e coloca João Paulo e aí, começam minhas divergências com meus colegas...
Todos fizeram rasgados elogios a Zé Eduardo, também os faço; estreou bem, marcou um gol e mostrou qualidade, mas quem incendiou o jogo foi o João Paulo...
Até a entrada do João, os atleticanos tinham em Ricardinho, a pedra na sua chuteira, porém, quando João Paulo entrou, o lado direito do ABC passou a jogar e aí, entrou a segunda pedra na chuteira rubro negra.
Certo ou errado, o importante foi à vitória...
Junior Negão e Zé Eduardo botaram um largo sorriso no Maria Lamas Farache e agora, o ABC passa a depender de si mesmo...
Terminado o jogo, me despedi do grupo que estava ao meu lado e voltei para casa.