Horácio Accioly é um dos poucos amigos que fiz ao longo de minha vida.
Digo poucos, pois conto nos dedos os amigos que sei, sempre estarão ao alcance – esteja eu coberto de fartura ou trajando os farrapos do infortúnio.
Recebi dele (Horácio), o texto abaixo e, quando liguei para agradecer, me perguntou: “não achou um pouco amargo”?
Não, não achei, não, meu amigo...
Achei que cada palavra escrita nos remete a reflexão e que todo o sentimento exposto por sua nobre alma, nada mais é, que a inquietante descoberta do tempo perdido, no tempo em que chupávamos as primeiras jabuticabas tão displicentemente...
Agora, que também percebo que elas findam, começo a roê-las e me junto a você no mesmo sentimento.
Feliz Natal meu amigo!
Por Horácio Accioly.
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões em que desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e êxito.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos utópicos para reverter à miséria do mundo.
Não vou mais a workshops nos quais se ensina poucos a conseguir milhões enquanto milhões têm tão pouco.
Não quero que me convidem para eventos de uma noite com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, negam-se a amadurecer.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando durante confrontações para tirar os fatos a limpo.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de capitão do time.
Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes cotidianos sutis ou as diferentes traduções de textos científicos.
Não quero explicar que não me incomodo com a velha didática da Educação Física, só porque há um grupo que a considera arcaica.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar explicando aos jovens se estou ou não envelhecendo, por que admiro a poesia do Chico Buarque, a voz de Elis Regina; os livros de Machado de Assis, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana – MUITO HUMANA-, que sabe rir de seus tropeços, que não se ilude com triunfos, que não se considera imune aos erros e à dor, que não foge de sua mortalidade, que defende a dignidade dos marginalizados e deseja andar humildemente com Deus.
CAMINHAR PERTO DESSAS PESSOAS NUNCA SERÁ PERDA DE TEMPO!
Um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de conquistas!
Abraços Horácio Accioly
Um comentário:
Feliz Natal!
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