Por Carlos Henrique*
Não é de hoje que o futebol brasileiro anda sem credibilidade e que muitos insistem em sujá-lo ainda mais.
Ao longo dos anos vimos exemplos no mundo inteiro de absurdos dentro das 4 linhas, tais como a eternamente duvidosa vitória da Argentina diante do Peru na Copa de 1978, que desclassificou o Brasil da final na ocasião, do empate entre austríacos e alemães no Mundial de 1982 para evitarem um possível encontro também com os brasileiros na segunda fase, dos constantes problemas entre máfia, loteria e resultados forjados no Campeonato Italiano, entre outros.
Entretanto o Brasil parece ter aprendido direitinho as lições de mau costume e arraigado essa "cultura" nas entranhas do esporte paixão nacional.
Desde os tempos de CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) já havia o problema do preconceito e da elitização do futebol, nem tanto por culpa dos dirigentes, mas pela cultura "branca" em detrimento das demais raças existentes no Brasil, já que a abolição da escravatura era coisa ainda um tanto recente.
Mas com o passar dos anos o famoso "jeitinho", os arrumados, a falta de seriedade, a proliferação de cartolas e empresários que só prezam pelo lucro próprio e a eterna desconfiança de resultados armados permeiam as mentes de quem faz a imprensa e do principal item do esporte: o público.
Mas por que estou falando isso? A explicação é simples: o atual campeão brasileiro é o FLUMINENSE FOOTBALL CLUB do Rio de Janeiro.
Mas calma!
Não se trata de nenhum ódio contra o clube, muito menos de paixão clubística.
Apenas uma constatação de que o futebol brasileiro perdeu o respeito faz tempo.
Vejamos.
Em 1996 o clube carioca fez uma campanha pífia no Campeonato Brasileiro e foi um dos rebaixados para a segunda divisão ao lado do Bragantino. Entretanto, numa manobra da CBF - nunca é demais lembrar capitaneada pelo "dono" da bola no Brasil Ricardo Teixeira - a falta de vergonha imperou e a virada de mesa aconteceu.
Cariocas e paulistas não caíram para a Série B, em nome da "honra" pelo grandioso nome que o Fluminense tinha a zelar, que se sucedeu em uma das cenas mais patéticas da história do nosso campeonato - o estouro do champanhe pela cartolagem tricolor em comemoração ao feito, que mais parecia que os campeões nacionais tinham sido eles.
Pobres homens...
Mal sabiam que aquela situação sujaria tanto o nome quanto um rebaixamento.
A tal honra não só do Flu, mas também do futebol tupiniquim havia ido para as cucuias.
Só que, às vezes, a justiça tarda, mas não falha.
E no ano seguinte finalmente ela se fez e o time do Rio de Janeiro foi novamente rebaixado, de forma ainda mais vergonhosa.
Será que a ideia de "limpar" o nome com a virada de mesa não fez mal ao clube?
Não teria sido muito mais honroso e digno disputar a Segundona e voltar com toda a pompa e glória que a equipe realmente tem?
Enfim, lá se foi o Fluminense disputar a "temida" Série B em 1998.
A equipe, comandada pelo experiente tetracampeão Branco, sucumbiu diante dos demais clubes e foi rebaixada para a Série C ao lado do Juventus/SP. Era o castigo a ser pago pela soberba de 1996.
A Terceirona esperava de braços abertos um ex-campeão nacional no ano seguinte.
Chegou 1999 e foi o "Flu" pegar a estrada para jogar em campos ruins e enfrentar times inexpressivos e de qualidade bastante duvidosa, como Serra/ES, Villa Nova/MG, Anapolina/GO, Dom Pedro II/DF, entre outros.
Aliás, a Anapolina perdeu 6 pontos por, segundo a STJD, ter escalado um jogador irregular nas partidas contra o Villa Nova e o próprio Fluminense, que ganharam a vitória por consequência.
Esse artifício fez com que os goianos caíssem dos 20 para os 14 pontos e favorecendo os tricolores, que pularam para o segundo posto do Grupo D, obtivessem a classificação para a fase seguinte.
Nada demais aí no campo jurídico, apesar de eu ser veementemente contra tapetões.
Enfim, seguiu-se a fase decisiva e, depois de mais algumas batidas de martelo dos tribunais, o Fluminense (que novamente se beneficiou desse artifício) chegou ao título do torneio.
O clube carioca, enfim, voltava a dar um passo à frente e, ao lado do São Raimundo/AM, estava no segundo escalão do futebol brasileiro.
Só que, por obra e graça mais uma vez dos "entendidos" do esporte da CBF, aliados de novo à modorrenta Justiça Desportiva brasileira (caso Gama/DF), só tivemos uma disputa nacional por conta da famigerada Copa João Havelange.
E o que a CBF e o Clube dos 13 resolvem fazer?
Passar a pá na terceira e na segunda divisões e buscar clubes "renomados" para compor a competição.
Dentre eles, o Fluminense, óbvio, que num ineditismo absurdo no futebol mundial pulou da C para a A em uma única temporada.
Deu para entender agora o porquê da minha indignação quanto ao título brasileiro do Fluminense esse ano?
De forma alguma estou tirando os méritos do time em campo nesta temporada - e toda a trajetória magnífica do grandioso e vitorioso time das Laranjeiras em seus mais de cem anos de existência -, que nesta temporada soube contratar os jogadores certos para as posições certas e um treinador que já se apresenta ao trabalho com pinta de campeão.
O fato é que o Fluminense, até que pague a dívida que tem com a moralidade futebolística, para mim sempre será time da Segunda Divisão.
E um time da Segunda Divisão nunca poderá ser campeão da Primeira sem conseguir seu acesso dentro do gramado.
Por isso que neste ano de 2010 considero que o Brasil, que possui um futebol de primeira ao longo de toda a sua história, hoje possui um campeão nacional de segunda - infelizmente.
Carlos Henrique é estudante de Comunicação Social na UFRN, repórter e comentarista do TV U Esporte: programa esportivo apresentado às segundas feiras na TV Universitária.
Do blog:
Não necessariamente o Fernando Amaral FC, concorda com as opiniões aqui postadas, mas por defender e considerar que a liberdade de opinião é fundamental para o aperfeiçoamento da democracia, o blog mantém sempre que solicitado, espaço aberto para quem desejar expor seus pontos de vista de forma civilizada.
Apenas uma pequena correção:
O jogo entre a Alemanha e a Áustria na Copa do Mundo de 1982, acabou com a vitória da Alemanha por 1x0...
Nesse jogo, alemães e austríacos, claramente “armaram” o resultado, mas o motivo não era “fugir” de um confronto contra o Brasil, mas sim classificar ambas as equipes e eliminar a Argélia...
O jogo para “fugir” de um confronto com o Brasil a que se refere Carlos Henrique aconteceu na Copa do Mundo de 1974, quando a então Alemanha Ocidental futura campeã do mundo, perdeu propositalmente para a Alemanha Oriental por 1x0 (gol de Jürgen Sparwasser)...
Porém, o intuito não era “fugir” do Brasil e sim, do Grupo 1 da segunda fase...
Com a derrota, a Alemanha Ocidental deixou a Alemanha Oriental na companhia de Holanda (futura vice-campeã), Brasil e Argentina, enquanto enfrentou no Grupo 2, Polônia, Suécia e Iugoslávia.
Abaixo, o vídeo do gol de Sparwasser...
Um comentário:
É verdade, Fernando. Troquei completamente as bolas. Às vezes quem muito consegue memorizar a história do futebol tem seus lapsos. O jogo entre Alemanha Oc. e Áustria em 1982 foi realmente 1 a 0 pros alemães, e a "fuga" do confronto com o Brasil foi em 1974.
Peço desculpas pela furada a vc e aos seus leitores!
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