Matéria publicada no site www.trivela.uol.com.br, esclarece definitivamente à diferença entre o que propõe a CBF/Rede Globo e o Clube dos 13.
Se o modelo usado pelo clube dos 13 não é bom, o modelo proposto pela CBF/Globo é dez vezes pior.
Leia e tire suas conclusões.
Cada um por si
Por Ubiratan Leal
Barcelona e Real ficam com maior parte do bolo, enquanto pequenos ficam com só uma fração...
“Não queremos uma liga escocesa.”
A faixa pode ser lida em vários estádios espanhóis, parte de um movimento que cresce entre torcedores de 18 dos 20 times do Campeonato Espanhol.
Eles manifestam o descontentamento com os rumos que La Liga tomou nos últimos anos, com uma concentração de poder que desfigura a competição e pode causar danos ao futebol espanhol em longo prazo.
A sensação do torcedor brasileiro pouco atento é que a Espanha sempre foi dominada por Real Madrid e Barcelona.
É uma meia verdade. Em 1984, o Barcelona tinha 9 títulos, apenas um a mais que Atlético de Madrid e Athletic Bilbao (o Real tinha 20 àquela altura).
Mas nem é preciso voltar 27 anos.
Mesmo em um cenário já favorável a merengues e blaugranas, o Campeonato Espanhol dava espaço para forças alternativas.
Entre 1993/94 e 2003/04, houve 22 vagas de campeão ou vice em disputa.
Exatamente metade foi ocupada pela turma dos “outros”.
Valencia, Deportivo de La Coruña, Atlético de Madrid, Athletic Bilbao e Real Sociedad ficaram entre os dois primeiros em algum momento nesse período.
Desde 2004/05, foram sete temporadas (já contando a atual, que certamente terá Barcelona e Real nas duas primeiras posições) e 14 oportunidades de ficar com o título ou o segundo lugar.
Apenas uma vez os dois gigantes não ocuparam as duas primeiras posições: em 2007/08, com o vice-campeonato do Villarreal.
Por trás desse desnível entre Real e Barcelona e o resto é a divisão de dinheiro da televisão.
Na Espanha, cada clube vende os direitos dos jogos em que é mandante.
Desse modo, os grandes conseguem impor seu poder de barganha nas negociações com a TV, enquanto os pequenos aceitam pegar as migalhas.
Mais ou menos o que pode acontecer no Brasil se o Clube dos 13 realmente deixar de representar os clubes na venda dos direitos do Brasileirão de 2012 a 14.
Os números da temporada 2009/10 são assombrosos.
Mais de metade dos clubes ganham um décimo ou menos dos dois gigantes:
01. Real Madrid e Barcelona: € 140 milhões
03. Atlético de Madrid e Valencia: € 42 milhões
05. Villarreal: € 25 milhões
06. Sevilla: € 24 milhões
07. Getafe: € 18 milhões
08. Athletic Bilbao: € 17 milhões
09. Deportivo de La Coruña e Zaragoza: € 14 milhões
11. Espanyol e Mallorca: € 13,7 milhões
13. Osasuna: € 13 milhões
14. Valladolid: 12,8 milhões
15. Almería e Racing de Santander: € 12,5 milhões
17. Málaga, Sporting de Gijón, Tenerife e Xerez: € 12 milhões
Nas outras fontes de faturamento (ingressos, ganhos em competições internacionais, venda de produtos licenciados, patrocínio), os dois gigantes estão muito à frente dos demais.
Mas o desnível econômico criado pela distribuição do dinheiro da TV é definitivo.
E ele, se fosse negociado coletivamente, poderia amortecer a diferença a ponto de tornar o Campeonato Espanhol um torneio esportivamente emocionante e atraente.
E não uma versão latina do Campeonato Escocês, que teve Celtic ou Rangers como campeão nos últimos 20 anos.
A União Europeia já recomendou que negociações de televisão para competições esportivas sejam feitas em bloco, pois é o modo de preservar um mínimo de competitividade dentro de um determinado mercado (no caso, o futebol).
Isso não significa que o modelo deva ser o norte-americano, com divisão praticamente igual entre todas as franquias.
Mas negociar coletivamente impede que alguns usem sua força para sufocar financeiramente os concorrentes.
Ainda que a diferença de torcida e poder de mercado entre Corinthians e Flamengo e os demais clubes não seja tão grande quanto na Espanha, a tendência do Brasil, se seguir o modelo espanhol, é ver seu campeonato nacional ser dominado economicamente por seis ou sete equipes.
O resto seria resto.
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