terça-feira, março 08, 2011

Copiando o que não deu certo...


Matéria publicada no site www.trivela.uol.com.br, esclarece definitivamente à diferença entre o que propõe a CBF/Rede Globo e o Clube dos 13.


Se o modelo usado pelo clube dos 13 não é bom, o modelo proposto pela CBF/Globo é dez vezes pior.


Leia e tire suas conclusões.


Cada um por si


Por Ubiratan Leal


Barcelona e Real ficam com maior parte do bolo, enquanto pequenos ficam com só uma fração...


“Não queremos uma liga escocesa.”


A faixa pode ser lida em vários estádios espanhóis, parte de um movimento que cresce entre torcedores de 18 dos 20 times do Campeonato Espanhol.


Eles manifestam o descontentamento com os rumos que La Liga tomou nos últimos anos, com uma concentração de poder que desfigura a competição e pode causar danos ao futebol espanhol em longo prazo.

A sensação do torcedor brasileiro pouco atento é que a Espanha sempre foi dominada por Real Madrid e Barcelona.


É uma meia verdade. Em 1984, o Barcelona tinha 9 títulos, apenas um a mais que Atlético de Madrid e Athletic Bilbao (o Real tinha 20 àquela altura).


Mas nem é preciso voltar 27 anos.


Mesmo em um cenário já favorável a merengues e blaugranas, o Campeonato Espanhol dava espaço para forças alternativas.

Entre 1993/94 e 2003/04, houve 22 vagas de campeão ou vice em disputa.


Exatamente metade foi ocupada pela turma dos “outros”.


Valencia, Deportivo de La Coruña, Atlético de Madrid, Athletic Bilbao e Real Sociedad ficaram entre os dois primeiros em algum momento nesse período.


Desde 2004/05, foram sete temporadas (já contando a atual, que certamente terá Barcelona e Real nas duas primeiras posições) e 14 oportunidades de ficar com o título ou o segundo lugar.


Apenas uma vez os dois gigantes não ocuparam as duas primeiras posições: em 2007/08, com o vice-campeonato do Villarreal.

Por trás desse desnível entre Real e Barcelona e o resto é a divisão de dinheiro da televisão.


Na Espanha, cada clube vende os direitos dos jogos em que é mandante.


Desse modo, os grandes conseguem impor seu poder de barganha nas negociações com a TV, enquanto os pequenos aceitam pegar as migalhas.


Mais ou menos o que pode acontecer no Brasil se o Clube dos 13 realmente deixar de representar os clubes na venda dos direitos do Brasileirão de 2012 a 14.

Os números da temporada 2009/10 são assombrosos.


Mais de metade dos clubes ganham um décimo ou menos dos dois gigantes:

01. Real Madrid e Barcelona: € 140 milhões

03. Atlético de Madrid e Valencia: € 42 milhões

05. Villarreal: € 25 milhões

06. Sevilla: € 24 milhões

07. Getafe: € 18 milhões

08. Athletic Bilbao: € 17 milhões

09. Deportivo de La Coruña e Zaragoza: € 14 milhões

11. Espanyol e Mallorca: € 13,7 milhões

13. Osasuna: € 13 milhões

14. Valladolid: 12,8 milhões

15. Almería e Racing de Santander: € 12,5 milhões

17. Málaga, Sporting de Gijón, Tenerife e Xerez: € 12 milhões


Nas outras fontes de faturamento (ingressos, ganhos em competições internacionais, venda de produtos licenciados, patrocínio), os dois gigantes estão muito à frente dos demais.


Mas o desnível econômico criado pela distribuição do dinheiro da TV é definitivo.


E ele, se fosse negociado coletivamente, poderia amortecer a diferença a ponto de tornar o Campeonato Espanhol um torneio esportivamente emocionante e atraente.


E não uma versão latina do Campeonato Escocês, que teve Celtic ou Rangers como campeão nos últimos 20 anos.

A União Europeia já recomendou que negociações de televisão para competições esportivas sejam feitas em bloco, pois é o modo de preservar um mínimo de competitividade dentro de um determinado mercado (no caso, o futebol).


Isso não significa que o modelo deva ser o norte-americano, com divisão praticamente igual entre todas as franquias.


Mas negociar coletivamente impede que alguns usem sua força para sufocar financeiramente os concorrentes.

Ainda que a diferença de torcida e poder de mercado entre Corinthians e Flamengo e os demais clubes não seja tão grande quanto na Espanha, a tendência do Brasil, se seguir o modelo espanhol, é ver seu campeonato nacional ser dominado economicamente por seis ou sete equipes.


O resto seria resto.


Nenhum comentário: