segunda-feira, novembro 18, 2013

Os novos donos das Arenas...



Os Arenautas estão chegando…Estão chegando os Arenautas...

Publicado no blog do Juca Kfouri.

Por André Ribeiro

O que há de mais gostoso no mundo do futebol são as conversas, polêmicas, apostas, gozação pela vitória ou derrota e todo o tititi que corre fora das quatro linhas, ou como dizem os entendidos, o “extracampo”. 

Uma dessas “polêmicas” sempre foi a de que nunca podemos querer comparar épocas diferentes do futebol. 

Por exemplo, querer descobrir se esse ou aquele jogador da década tal foi melhor que um destes dos tempos modernos. 

Se a seleção de 1970 foi melhor que a de 1982. 

E por aí afora.
Mas se há uma comparação que precisa ser feita agora, no exato momento em que começam a “brotar” como grama pelo país as tais “arenas” é entre o torcedor dos “velhos” estádios e o que batizo aqui de “arenauta”.

Isso mesmo. Arenauta. Mistura de Arena com Internauta.

Para a nova geração é importante lembrar que “antigos” estádios tinham tipos e lugares que quase viraram “marca registrada”, ou que pelo menos nunca caíram no esquecimento. 

Em São Paulo, no estádio do Pacaembu, corintianos eternizaram a “torcida da curvinha”. 

No Maracanã, surgiram os “arquibaldos e geraldinos”, aquela galera típica das arquibancadas (arquibaldos) e gerais (geraldinos), cabeleira diferente, sorriso desdentado, fantasiados dos pés a cabeça, carregando símbolos religiosos, criação do então repórter de rádio nos anos 1960, Washington Rodrigues, o “Apolinho”.

Brasil afora, não foram criados somente cantinhos especiais nos estádios. 

Costumes e tradições, também, como a do velho Mineirão, de comer feijão tropeiro nas arquibancadas e outras tantas espalhadas pelo país.

As novas Arenas trouxeram, ou pelo menos era essa a promessa, conforto para o torcedor dos velhos estádios. Como tudo no tal “mundo globalizado”, novidades levam tempo para serem assimiladas.

Velhos hábitos custam paciência no aprendizado. 

Não foi assim com os caixas eletrônicos? 

E quem poderia imaginar um dia poder comprar e fazer quase tudo por intermédio dos computadores, diretamente da confortável cadeira de nossas casas? 

Não foi assim a aposentadoria dos aparelhos de fax?

Foi. 

Mas no terreno sagrado das tradições esportivas, as novas comodidades e tecnologias estão mexendo com a cabeça dos antigos “arquibaldos” e “geraldinos”, substituídos agora pelos Arenautas. 

Mas quem seriam esses novos seres?

Arenauta é aquele torcedor que tem carro próprio, de preferência, quase do ano, raros são os que têm motor 1.0. 

Tem renda mensal razoável que lhe permite pedir pelo telefone ao menos uma pizza por semana para a família e ainda uma ida a um rodízio de comida japonesa. 

Dificilmente usa transporte público. 

Nem quando é dia de seu rodízio e muito menos quando o veículo quebra. 

Tem no banco um limite de crédito bacana que o autoriza a ficar no vermelho todo mês para poder satisfazer a ânsia de consumo. 

Ou seja, tendo ou não dinheiro na conta, tem capacidade de adquirir ingressos para assistir ao time do coração nas novas Arenas. 

Ah, as Arenas…
Nelas, não se vê mais velhos rádios de pilha. 

Agora, Arenauta que é Arenauta possuí internet 3 ou 4G, celulares de última geração, posta foto nas redes sociais assim que chega à Arena e, durante o jogo, de qualquer flagrante que deixe as dezenas ou centenas de amigos do facebook, twitter ou instagram com inveja de babar.

Geraldinos e Arquibaldos só perceberam agora, com a maior torcida do Brasil, a do Flamengo, que as tão sonhadas Arenas começaram a “cobrar” seu custo. Donos da maior torcida do mundo, fizeram o de sempre neste ano: lotaram o velho Maraca, ops, a nova Arena, levando na marra o time rubro-negro a mais uma final de campeonato, desta vez, a Copa do Brasil. 

E agora, na hora “agá”, os ingressos não são para os bolsos dos velhos geraldinos ou arquibaldos, mas somente para os Arenautas.

A nova Arena vai lotar, mesmo assim? 

Com certeza, pois os Arenautas, apesar de minorias nos antigos estádios, são os únicos que conseguem, agora, pagar os preços abusivos cobrados pelos dirigentes e administradores do jogo da bola.

E bem que um deputado estadual, Marcelo Freixo, do PSOL carioca, e o ex-jogador Bebeto, que virou político, tentaram, bem antes da nova Arena ficar pronta, em 2011, emplacar um projeto que garantiria “cota mínima de 30% dos ingressos a preços populares em estádios de futebol, arenas e outros equipamentos esportivos que em sua construção ou reforma tenham recebido benefício fiscal”.

Claro, o projeto ainda não foi votado. 

Mas para que, não é mesmo? 

Parodiando os versos de um dos maiores rubro-negros do país, Jorge Benjor, “os alquimistas estão chegando…Estão chegando os alquimistas”, agora, a rima melhor para as novas Arenas, do Maracanã ou qualquer uma do país, deve ser: “os Arenautas estão chegando…Estão chegando os Arenautas”.


* André Ribeiro é criador e editor do Literatura na Arquibancada, autor dos livros “Diamante Negro – Biografia de Leônidas da Silva”, “Fio de Esperança – Biografia de Telê Santana”, “A magia da camisa 10”, “Uma ponte para o futuro – A história do sindicalismo esportivo brasileiro” e “Donos do Espetáculo – Histórias da Imprensa Esportiva Brasileira”.

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