Os Arenautas estão chegando…Estão
chegando os Arenautas...
Publicado no blog do Juca Kfouri.
Por André Ribeiro
O que há de mais gostoso no mundo
do futebol são as conversas, polêmicas, apostas, gozação pela vitória ou
derrota e todo o tititi que corre fora das quatro linhas, ou como dizem os
entendidos, o “extracampo”.
Uma dessas “polêmicas” sempre foi a de que nunca
podemos querer comparar épocas diferentes do futebol.
Por exemplo, querer
descobrir se esse ou aquele jogador da década tal foi melhor que um destes dos
tempos modernos.
Se a seleção de 1970 foi melhor que a de 1982.
E por aí afora.
Mas se há uma comparação que
precisa ser feita agora, no exato momento em que começam a “brotar” como grama
pelo país as tais “arenas” é entre o torcedor dos “velhos” estádios e o que
batizo aqui de “arenauta”.
Isso mesmo. Arenauta. Mistura de
Arena com Internauta.
Para a nova geração é importante
lembrar que “antigos” estádios tinham tipos e lugares que quase viraram “marca
registrada”, ou que pelo menos nunca caíram no esquecimento.
Em São Paulo, no
estádio do Pacaembu, corintianos eternizaram a “torcida da curvinha”.
No
Maracanã, surgiram os “arquibaldos e geraldinos”, aquela galera típica das
arquibancadas (arquibaldos) e gerais (geraldinos), cabeleira diferente, sorriso
desdentado, fantasiados dos pés a cabeça, carregando símbolos religiosos,
criação do então repórter de rádio nos anos 1960, Washington Rodrigues, o
“Apolinho”.
Brasil afora, não foram criados
somente cantinhos especiais nos estádios.
Costumes e tradições, também, como a
do velho Mineirão, de comer feijão tropeiro nas arquibancadas e outras tantas
espalhadas pelo país.
As novas Arenas trouxeram, ou
pelo menos era essa a promessa, conforto para o torcedor dos velhos estádios.
Como tudo no tal “mundo globalizado”, novidades levam tempo para serem
assimiladas.
Velhos hábitos custam paciência no aprendizado.
Não foi assim com
os caixas eletrônicos?
E quem poderia imaginar um dia poder comprar e fazer
quase tudo por intermédio dos computadores, diretamente da confortável cadeira
de nossas casas?
Não foi assim a aposentadoria dos aparelhos de fax?
Foi.
Mas no terreno sagrado das
tradições esportivas, as novas comodidades e tecnologias estão mexendo com a
cabeça dos antigos “arquibaldos” e “geraldinos”, substituídos agora pelos
Arenautas.
Mas quem seriam esses novos seres?
Arenauta é aquele torcedor que
tem carro próprio, de preferência, quase do ano, raros são os que têm motor
1.0.
Tem renda mensal razoável que lhe permite pedir pelo telefone ao menos uma
pizza por semana para a família e ainda uma ida a um rodízio de comida
japonesa.
Dificilmente usa transporte público.
Nem quando é dia de seu rodízio e
muito menos quando o veículo quebra.
Tem no banco um limite de crédito bacana
que o autoriza a ficar no vermelho todo mês para poder satisfazer a ânsia de
consumo.
Ou seja, tendo ou não dinheiro na conta, tem capacidade de adquirir
ingressos para assistir ao time do coração nas novas Arenas.
Ah, as Arenas…
Nelas, não se vê mais velhos
rádios de pilha.
Agora, Arenauta que é Arenauta possuí internet 3 ou 4G,
celulares de última geração, posta foto nas redes sociais assim que chega à
Arena e, durante o jogo, de qualquer flagrante que deixe as dezenas ou centenas
de amigos do facebook, twitter ou instagram com inveja de babar.
Geraldinos e Arquibaldos só
perceberam agora, com a maior torcida do Brasil, a do Flamengo, que as tão
sonhadas Arenas começaram a “cobrar” seu custo. Donos da maior torcida do
mundo, fizeram o de sempre neste ano: lotaram o velho Maraca, ops, a nova
Arena, levando na marra o time rubro-negro a mais uma final de campeonato,
desta vez, a Copa do Brasil.
E agora, na hora “agá”, os ingressos não são para
os bolsos dos velhos geraldinos ou arquibaldos, mas somente para os Arenautas.
A nova Arena vai lotar, mesmo
assim?
Com certeza, pois os Arenautas, apesar de minorias nos antigos estádios,
são os únicos que conseguem, agora, pagar os preços abusivos cobrados pelos
dirigentes e administradores do jogo da bola.
E bem que um deputado estadual,
Marcelo Freixo, do PSOL carioca, e o ex-jogador Bebeto, que virou político,
tentaram, bem antes da nova Arena ficar pronta, em 2011, emplacar um projeto
que garantiria “cota mínima de 30% dos ingressos a preços populares em estádios
de futebol, arenas e outros equipamentos esportivos que em sua construção ou
reforma tenham recebido benefício fiscal”.
Claro, o projeto ainda não foi
votado.
Mas para que, não é mesmo?
Parodiando os versos de um dos maiores
rubro-negros do país, Jorge Benjor, “os alquimistas estão chegando…Estão
chegando os alquimistas”, agora, a rima melhor para as novas Arenas, do
Maracanã ou qualquer uma do país, deve ser: “os Arenautas estão chegando…Estão
chegando os Arenautas”.
* André Ribeiro é criador e
editor do Literatura na Arquibancada, autor dos livros “Diamante Negro –
Biografia de Leônidas da Silva”, “Fio de Esperança – Biografia de Telê
Santana”, “A magia da camisa 10”, “Uma ponte para o futuro – A história do
sindicalismo esportivo brasileiro” e “Donos do Espetáculo – Histórias da
Imprensa Esportiva Brasileira”.
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