Imagem: Bad Blues Boys - Dinamo Zagreb - Hrvatska
Jozip Broz, nascido em Kumrovec, cidade croata sob tutela do império austro-húngaro, foi o artífice da extinta Iugoslávia (nação dos eslavos do sul) e ficou conhecido como o Marechal Tito. Forjado nos campos de batalha da revolução bolchevista, primeira e segunda guerra, Tito, herói carismático, líder inflexível, amado e respeitado por seus pares, costurou ao final da guerra a nação que uniria todos os eslavos do sul...
Sérvios, Eslovenos, Croatas, Motenegrinos, Macedônios e Bósnios-Hercegóvinos, juntaram-se a mais duas regiões, o Kossovo, de maioria albanesa e Vojvodina ao norte do novo país, para uma das tantas experiências malfadadas no mundo comunista de então. Com a jovem nação, surgia um novo campeonato de futebol e com ele os “novos amigos”, tentariam reconciliar, séculos de desavenças, rancores e ódio étnico.
Seria através do futebol, que se criaria a tão sonhada unidade nacional. Mas como em quase tudo em que prevalece a vontade e que desconsidera o improvável e o imponderável, os planos do Marechal Tito e da Fudbalski Savez Jugoslavija durariam apenas enquanto vivesse o Marechal e sua política de força.
O primeiro campeonato nacional iugoslavo ocorreu em 1946 e teve 14 participantes na primeira divisão. Os participantes foram os seguintes: Sérvia (Partizan, Crvena Zvezda (Estrela Vermelha), Metalac, 14 Oktobar de Belgrado), Croácia (Dínamo, Lokomotiv de Zagreb, Hajduk de Split e Kvarner de Rijeka), Montenegro (Buducnost de Titograd), Macedônia (Pobeda de Skopje), Eslovênia (Nafta de Lendava e Ponziana de Trst), Vojvodina (Spartak de Subotica) e Bósnia Herzegóvina (Zeljeznicar de Sarajevo). Ao final o campeão foi o Partizan de Belgrado, em segundo lugar ficou o Dinamo de Zagreb.
Em 1980, morre o fundador da Iugoslávia e o poder no país passa a ser rotativo entre as seis repúblicas. Porém, em 1989, o desmoronamento do comunismo, a grave crise econômica e o surgimento de lideranças ultranacionalistas, acabaram levando a desintegração e a luta entre Sérvios, Croatas, Eslovenos, Bósnios e Kossovares.
Oficialmente, a guerra começou em junho de 1991, mas para os Croatas, ela começou no dia 13 de maio de 1990, no estádio Maksimir, quando os Bad Blues Boys do Dínamo de Zagreb e a Delije do Estrela Vermelha se enfrentaram.
Naquele dia 3000 membros da Delije (torcida do Estrela Vermelha), partiram para Zagreb já campeões iugoslavos, seu líder Zeljko Raznjatovic, mais conhecido como Arkan (Arkan era um notório marginal procurado em toda a Europa, porém sob proteção do governo de Milosevic, acabou se tornando líder da Delije e posteriormente, comandou os torcedores do Estrela Vermelha na guerra civil. Arkan foi processado pelo tribunal de Haia, porém acabou assassinado em Belgrado no ano de 2000).
Ao chegarem a Zagreb, Arkan e a Delije, iniciaram algumas provocações, mas foi no estádio Maksimir, que os ânimos se exaltaram. Ao entrar em campo, o Dínamo de Zagreb, foi recebido pelos aplausos de seus torcedores, mas ouviram a Delije gritar: “Mataremos Tudjman (presidente croata recém eleito e pró independência da Croácia)” e “Zagreb é Sérvia”. Nesse momento os Bad Blues Boys, retrucam, chamando os Sérvios de covardes e com gritos de “Hrvatska Hrvatska (Croácia, Croácia)”.
Foi o bastante para pedras e assentos começarem a voar, os Bad Blues Boys, havia levado ácido para o estádio e jogaram nas grades de ferro fazendo-as cair. A partir daí o que se viu foi um combate generalizado, sérvios e croatas, lutaram por 70 minutos, usando cabos de aço, martelos, facas, porretes, correntes e ou qualquer objeto que pudesse causar dano ao adversário.
A polícia ainda controlada pela Sérvia, primeiro fez vista grossa, depois agiu exclusivamente contra os Bad Blues Boys, mas com a chegada de um contingente da milícia croata, os policias tiveram que agir como tal. Quando tudo parecia se acalmar, dentro do gramado, um policial começou e espancar um jovem torcedor do Dínamo, foi aí que Zvonimir Boban, aos 21 anos, acabou virando herói nacional croata. Ao ver a cena, Boban partiu em direção aos policiais, rompeu o isolamento e deu uma voadora no agressor, permitindo, que o torcedor fugisse.
A atitude, Boban encheu de brios os croatas, que partiram desta feita, para cima da policia e a briga recomeçou. Só com os carros blindados e mangueiras d’água, é que a confusão teve um fim. Boban foi suspenso por seis meses pela federação iugoslava, mas sabedora de sua importância para a seleção do país, a federação anistiou o jogador para que ele jogasse a copa do mundo na Itália, onde o selecionado iugoslavo chegou as quartas de final, sendo batido nos pênaltis por 3x2 pela Argentina, depois de um empate sem gols no tempo normal.
No ano seguinte, a Iugoslávia mergulhou na guerra total, Arkan comandou massacres na Bósnia e na Croácia, sempre a frente dos rapazes da Delije e os Bad Blues Boys, se tornaram parte das tropas croatas. Mas para quem esteve no Maksimir no dia 13 de maio de 1990, tudo começou ali, nesse dia o futebol da Iugoslávia começou a morrer e com ele o sonho do Marechal Tito de unir povos tão diferentes...
Boban lutou ao lado de seu povo, depois foi jogar no Milan da Itália, era então herói na Croácia e bandido na Sérvia. O jornal Vecernij de Zagreb, assim descreveu seu feito: “13 de maio de 1990, ficará marcado para sempre em nossos corações. Nesse dia, Zvonimir Boban, mostrou aos Sérvios que o Maksimir é para nós, solo sagrado e nenhum filho deste país poderia permitir seu ultraje”. Em 1998, a Croácia de Zvonimir Boban, Davor Šuker, Šimič e Prosinečki comandada por Miroslav Blazevic, disputou sua primeira copa e conquistou um honroso terceiro lugar.